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Alexitimia é um termo empregado no diagnóstico clínico de pessoas com acentuada dificuldade ou incapacidade para expressar emoções e significa “sem palavras para as emoções”.

Etiologia da Alexitimia

Em relação à etiologia, Sifneos, Apfel-Savitz e Frankel (1977), no início de seus estudos, já apontavam para uma variedade de fatores etiológicos da alexitimia, tais como: genéticos, fisiológicos, neuroanatômicos, psicossociais, assim como alterações neuroquímicas e de desenvolvimento.

Posteriormente, Sifneos (1991) veio a propor que as várias etiologias fossem classificadas segundo dois tipos: as de origem biológica e as de causa psicossocial (ou de desenvolvimento). E, seguindo a tendência dos pesquisadores europeus (e.g., Pedinielli & Rouan, 1998), identificou como alexitimia primária as do primeiro tipo, e como alexitimia secundária aquela com causa psicossocial.

Pesquisas atuais indicam que o autismo está associado à alexitimia, ou seja, a incapacidade de concentrar a atenção, reconhecer e avaliar com precisão, descrever e moderar emoções subjetivas e sensações corporais, e então comunicar esses pensamentos, sensações e emoções em palavras.

A alexitimia não é exclusiva do autismo ou característica de todos os adultos autistas, mas foi identificada em pelo menos 50% dos adultos autistas, e em apenas 5% da população geral (Kinnaird, Stewart & Tchanturia, 2019).

Ter alexitimia leva a uma dificuldade em reconhecer estados emocionais internos, de tal forma que quando perguntado: O que você está sentindo agora?

Depois de algum pensamento consciente, a resposta pode ser: “Eu não sei”. Isso não está sendo obtuso ou evasivo. Pode haver uma dificuldade genuína de perceber e converter estados e emoções internas em fala. A resposta completa para a pergunta seria: “Eu não sei… como compreender mentalmente as emoções intangíveis que giram em minha mente, identificá-las e rotulá-las com precisão e comunicar esses sentimentos na fala para que você entenda”.

Outra característica da alexitimia é falar sobre experiências sem referência aos estados emocionais de si mesmos e dos outros. Há menos menção espontânea de emoções na conversa. Isso afetará a memória autobiográfica, de tal forma que um evento importante possa ser descrito principalmente pela sequência de ações, e não pelos pensamentos, sentimentos e intenções dos outros ou de si mesmos.

No entanto, uma pessoa autista não está alheia ao estado emocional dos outros, e pode de fato ser excessivamente sensível ao humor negativo de outra pessoa.

Parece haver uma percepção de “sexto sentido” da ansiedade, tristeza ou raiva de alguém, o que pode levar à evasão de algumas situações sociais ou pessoas específicas devido ao risco de serem “invadidas” por sua angústia, e não ter certeza de como ajudá-los.

Ter dificuldade em identificar e comunicar estados emocionais internos pode resultar em emoções aumentando em intensidade sem avaliação cognitiva e regulação suficientes, eventualmente levando a que essas emoções sejam liberadas explosivamente como um colapso (meltdown ou shultown).

A história do desenvolvimento e as preocupações atuais podem incluir colapsos emocionais que são explosões de raiva e ansiedade, ou implosões de desespero intenso e ideação suicida.

Habilidades cognitivas

O autismo é uma maneira diferente de perceber e aprender, e isso pode levar a um perfil cognitivo que inclui a capacidade de perceber e desenvolver sistemas e padrões, e também identificar erros e detalhes que podem não ser reconhecidos por outros.

Também pode haver uma capacidade de armazenar e recordar informações, e encontrar soluções para problemas que são evasivos para colegas ou empregadores. Isso pode levar a uma carreira de sucesso como um especialista reconhecido em uma determinada carreira ou profissão.

Capacidade de lidar com a mudança

Os critérios diagnósticos referem-se à angústia em pequenas mudanças e ao enfrentamento da incerteza, bem como a tendência de insistir na mesma preferência por rotinas e consistência.

Interesses e talentos

Ao longo da infância e na idade adulta há uma história de hobbies ou interesses que são incomuns em intensidade ou foco. Cada interesse pode ter uma duração, pode variar de horas, dias, meses ou décadas. Os interesses estão associados ao prazer intenso e também podem funcionar como um bloqueador de pensamento para ansiedade ou tristeza. Eles também proporcionam um senso de identidade e conexão social com aqueles que compartilham o mesmo interesse.

Durante a conversa, a pessoa autista pode ser um pouco moderada e silenciosa, parecendo relutante em se envolver. No entanto, quando o tema da conversa é o interesse da pessoa, de repente ela se torna animada, engajada e ansiosa para divulgar seus conhecimentos: quase uma persona alternativa.

Enquanto alexitimia é uma dificuldade em converter pensamentos e sentimentos em fala, uma adaptação bem-sucedida à alexitimia é expressar pensamentos e sentimentos através das artes. O adulto autista pode ter um talento reconhecido como artista, músico, compositor ou autor. O mundo interior é vividamente expresso através das artes.

Pode haver um talento nas profissões de cuidado, especialmente psicologia e psiquiatria. A propensão desde a infância de observar e analisar outras pessoas para facilitar o engajamento social pode evoluir para alcançar qualificações formais e uma carreira de sucesso como professor, terapeuta, psicólogo, pediatra ou psiquiatra. O autismo é frequentemente associado ao desejo altruísta que ajuda a aliviar o sofrimento e aumentar o conhecimento e as habilidades. Também pode haver um talento para entender e cuidar dos animais.

Sensibilidade sensorial

Pode haver uma percepção extraordinária de experiências sensoriais do mundo exterior, ou “exterocepção”. Sons específicos, tipos de iluminação, experiências táteis, aromas e estados emocionais dos outros podem ser percebidos a tal intensidade que a experiência é aversiva. Em contraste, pode haver dificuldade em sentir o mundo interno, ou “interocepção”. Parece haver uma desconexão mental e corporal. O autista pode não sentir fome ou sede no mesmo grau que outras pessoas, e pode não estar ciente do aumento da frequência cardíaca e respiração que indicam aumento da ansiedade ou raiva.

Fontes:

Allen R., Davis R., Hill E. (2013). The effects of autism and alexithymia on physiological and verbal responsiveness to music. J. Autism. Dev. Disord. 43 432–444. 10.1007/s10803-012-1587-8 [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]

Allen R., Heaton P. (2010). Autism, music, and the therapeutic potential of music in alexithymia. Music Percept. 27 251–261. 10.1525/mp.2010.27.4.251 [CrossRef] [Google Scholar]

Brewer R., Cook R., Bird G. (2016). Alexithymia: a general deficit of interoception. R. Soc. Open Sci. 3:150664. 10.1098/rsos.150664 [PMC free article] [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]

A Psicóloga Marina Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista. Realizo psicoterapia online ou presencial para pessoas neurotípicas e neurodiversas.

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2 respostas

  1. Tenho um filho adulto que se identificou, através de tratamento e testes em terapia que é autista. O que esclareceu muitas coisas na vida dele. O artigo acima é excelente, claro e de fácil entendimento, esclarecedor.

    1. Bom dia! Eliana
      Muito obrigada pelos seus gentis comentários.
      Um abraço carinhoso e inclusivo.
      Att.
      Marina S. R. Almeida
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