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A Psicanálise contemporânea está ocupada em como pensamos nossos afetos, tenta compreender nosso movimento no mundo, como construímos laços afetivos, nossas pulsões amorosas e destrutivas, seus significados, bem como aquilo que fugimos, evitamos, recalcamos, negamos e adoecemos, fazendo sintoma neurótico. As neuroses podem aparecer em três tipos de funcionamento de personalidade: a histeria, a fobia e a obsessão.

O transtorno narcisista, borderline, psicoses e perversões são caracterizados como outros tipos de funcionamentos de personalidade, que não farão parte deste artigo, são formas de adoecimentos mais graves. Nosso foco é conversarmos sobre a clínica da neurose.

Na neurose histérica, o sintoma do sofrimento psíquico será expresso/convertido no corpo, através de adoecimentos psicossomáticos dentre outras formas de dor, como por exemplo, fibromialgias, enxaquecas, doenças autoimunes, paralisias, convulsões epiléticas sem complicações neurológicas, dermatites atópicas, alergias (urticária crônica), psoríase, frigidez, dentre tantos quadros.

Na neurose fóbica, o sintoma será deslocado para um objeto, situação aparentemente muito distante da origem do trauma, como por exemplo, fobias de lugares abertos, de insetos, de animais, do escuro, de pessoas, da morte, medo de sentir medo, social, dentre outras condições.

Na neurose obsessiva, o sintoma será deslocado para alteração do pensamento, as rotinas rígidas cotidianas e se caso eu não fizer a rotina algo ruim vai acontecer. Temos alguns exemplos, rituais religiosos, lavagem das mãos, verificação e checagem se tudo está trancado, manias de organização/simetria/cores/tamanhos, limpeza, sentimentos de nojo/asco, alterações da sensibilidade olfativa e gustativa, workaholic, perfeccionismo, não suportar erros, dentre outros comportamentos. Pode aparecer concomitante as compulsões, como por exemplo, alimentar, gastar dinheiro, consumo de álcool/drogas, adições à internet, a sexo, a jogos de vídeo game, etc.

A Psicanálise não é uma compreensão cognitiva, intelectual do sofrimento psíquico, com regras e ou tarefas racionalizadas, mas nos remete a interrogar os nossos enigmas da repetição neurótica, nos leva aos nossos sofrimentos psíquicos, nos envolve a investigação do nosso sintoma como expressão da dor psíquica.

A Psicanálise como técnica é um método catártico, é a escuta daquilo que não sabemos, é a escuta do nosso inconsciente, do nosso sintoma, através dos nossos atos falhos, esquecimentos, repetição, sonhos, associações livres, portanto libertação pela palavra dita, a cura está na decodificação da linguagem.

Como nossos sentimentos estão processados em nossos pensamentos, buscamos a integração entre pensar, sentir e perceber a emoção envolvida, são nossas angústias.

A Psicanálise não é uma coletora de fatos, mas é a arte de processar o que foi vivido, dano novo significado, dar ressignificação ao sintoma. Aprender a mergulhar nesta jornada psíquica introspectiva é nosso desafio, quando entramos em uma análise psicanalítica.

A posição do psicanalista é como um companheiro de viagem, que será convidado pelo cliente, a caminhar com ele em seus recônditos lugares, do passado, presente e sonhar com a esperança de um futuro melhor.

O trabalho psicanalítico do paciente será transformar suas experiências pulsionais. Nossos pensamentos são criados por sensações, imagens, comunicação afetiva. Precisamos desenvolver a capacidade de simbolização para avançar nos afetos e construirmos a representação mental, que por consequência será o que nos moverá a desenvolver nossa capacidade de pensar as angústias, frustrações, impulsos, medos, desafios, suportar a dúvida e o não saber. Quando falhamos neste processo, adoecemos, negamos, fugimos de nós mesmos, nos perdemos em nosso próprio caos interno e projetamos no mundo, em nosso corpo, em nosso pensamento, nos outros, nas coisas e objetos.

A afirmativa, o inferno são os outros, cabe nesta situação, mas nunca o inferno está em mim; então é melhor examinar o que está acontecendo.

A posição de buscar ajuda é uma posição de humildade frente a constatação da minha própria limitação, tragédia e dor. Reconhecer a necessidade de análise e o ato de procurar ajuda, é se permitir estender a mão a investigação psicanalítica, que não é um ato de se fazer só, mas um ato conjunto com o outro na função de psicanalista. O sujeito que busca psicanálise tem em si a capacidade amorosa, há esperança nos impulsos a vida, da mudança e da reparação.

Quem busca ajuda psicoterapêutica, é aquele que tem recursos amorosos para o enfrentamento, quem se submete a análise é o sujeito que tem recursos, que colocará sua cara a tapa, para o enfrentamento acompanhado de seu psicanalista como testemunha.

Somente na relação com o outro posso me modificar, obviamente se este desejo existir, pois poderei ficar submisso aos meus impulsos destrutivos, capturado em minha própria pulsão de morte em vida.

Posso passar a vida inteira repetindo os mesmos sintomas, piorando os sintomas, mudando de sintomas, medicando sintomas, tendo uma lista de diagnósticos, dor, erros, sem mudar nada, não aprender com a experiência e ainda entender que estou bem, sou o dono da verdade, sou onipotente, que vai nos levar a famosa síndrome da Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim e eu vou morrer assim.”

A regressão, a repressão, as resistências são forças destrutivas, estágios de não pensar, como a forma clássica de racionalização, como os mecanismos de alucinações e ilusões, pensamentos mágicos e ou idealizados, paralisam a capacidade de elaboração e pensamentos das funções transformadoras.

O tratamento da psicanálise é uma amostra da vida, se repetindo no consultório, quando é uma análise real, este é o convívio com o analista, é tornar-se quem eu realmente sou.

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Marina S. R. Almeida

Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar

Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista

Licenciada no E-Psi pelo Conselho Federal de Psicologia para atendimento de Psicoterapia on-line

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