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A Seletividade Alimentar é considerada um Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE). O comportamento de evitação alimentar é usado para descrever crianças, jovens e adultos com certas características comuns em sua alimentação e dificuldades para ingerir líquidos. Mais do que apenas ser um comedor exigente, a pessoa com seletividade alimentar costuma ter aversão sensorial a certos sabores, texturas ou cores, chegando a desenvolver fobia de determinados alimentos. Como resultado, alimentam-se com uma dieta muito restrita, afetando principalmente a ingestão de micronutrientes, como vitaminas e minerais.

Ainda não existe um protocolo estabelecido para tratamento do Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. O que vem sendo praticado é uma abordagem multidisciplinar, com avaliação do nutricionista, psiquiatra, psicólogo e pediatra. Neste contexto, algumas práticas vêm demonstrando bons resultados, como o mindful eating.

O mindful eating tem a proposta de envolver a mente, o espírito e o coração na hora de degustar um prato de comida. É um conceito de nutrição focado no mindful eating, prática de meditação budista que aposta na atenção plena ao momento presente e sem julgamentos. Isso inclui as festas de fim de ano, que podem – e devem – ser prazerosas, mesmo para quem deseja manter o peso ou a dieta em dia.

A seletividade alimentar, normalmente inclui restrição de alimentos com base em propriedades sensoriais e preocupação com as consequências aversivas da alimentação. Isso pode incluir medo de asfixia, vômito ou contaminação ou nojo extremos.

A perda de peso e/ou deficiência nutricional também podem estar presentes como resultado dessas restrições, juntamente com alterações emocionais do funcionamento psicológico ou social diário da pessoa.

Os transtornos alimentares seletivos podem afetar crianças, jovens e adultos que apresentam sintomas psicológicos como ansiedade, depressão, transtornos obsessivos compulsivos, bem como convívio social prejudicado.

A seletividade alimentar é diferente de alergia alimentar. É importante ressaltar que o desenvolvimento de reações alérgicas a alimentos como frutos do mar, por exemplo, não se enquadra como Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. Nesse caso, há rejeição a alimentos com glúten e lactose, por exemplo, trata-se de uma reação anormal do sistema imunológico, que, no intestino, confunde esses alimentos como ameaças ao organismo.

É importante destacar que a maioria das pessoas com seletividade alimentar nem sempre tem problemas de peso e geralmente está dentro da faixa normal de índice de massa corporal (IMC). Também é comum que não apresentem carência de macronutrientes, sofrendo, no entanto, falta de micronutrientes.

Outro ponto, são as sensibilidades alimentares que podem ser causadas pelo excesso de determinado nutriente ou antinutriente no organismo, como resultado da não rotatividade na ingestão de alimentos.

Cientistas apontam que há componentes biológicos e psicológicos na etiologia desse transtorno. Alguns estudos levantam que essas pessoas poderiam ter um paladar muito aguçado, o que provoca a rejeição a sabores mais fortes. Por outro lado, outros estudos mostram que a rejeição a determinados alimentos se dá muito mais por outras vias sensoriais e não pelo gosto, por exemplo, não gostar do cheiro ou da aparência de um alimento.

Em relação aos aspectos psicológicos (ansiedade, depressão, isolamento social, transtorno obsessivo compulsivo, bullying), alguns indivíduos podem associar emoções negativas a determinados alimentos, por exemplo, um mal estar físico causado pela comida, como engasgos ou problemas gastrointestinais. As razões desse comportamento, no entanto, são complexas e podem também estar relacionadas a questões familiares, hábitos alimentares inadequados e contextos sociais.

A maioria das pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista- TEA, apresenta também diagnóstico de Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. Isso porque as diferentes cores, cheiros, sabores e texturas dos alimentos podem tirá-las de suas zonas de conforto. Como esses pacientes apresentam comportamentos restritivos, seletivos e ritualísticos, essas variações tendem a resultar em desinteresse e recusa para determinados alimentos.

CARACTERÍSTICAS DA SELETIVIDADE ALIMENTAR

  • Comer apenas alimentos que são vistos como seguros ou aceitáveis, ou seja, não há rotatividade alimentar. Estas pessoas desenvolvem o hábito de comer sempre o mesmo alimento, textura e tempero, o que leva a uma certa monotonia alimentar. Também costumam alegar que não gostam de determinados alimentos, antes mesmo de experimentá-los;
  • Normalmente a escolha é sempre pelos mesmos alimentos, determinadas marcas ou mesmo temperatura em que serão ingeridos (frio ou quente);
  • Sentir aversão a grupos alimentares inteiros, como frutas, vegetais ou leguminosas;
  • Ficar angustiado quando é encorajado a experimentar alimentos diferentes, seja por causa de uma fobia ou medo de engasgar ou vomitar;
  • Apresentar náusea e vômito ao se deparar com a necessidade de comer novos alimentos;
  • As crianças fecham a boca para evitar de qualquer maneira a ingestão de um alimento diferente.

O QUE FAZER SE VOCÊ TEM SELETIVIDADE ALIMENTAR

  • Tendo em mente que este é um tratamento de avanço lento, o profissional indicado para fazer a avaliação é o nutricionista.
  • Segundo passo procurar ajuda de psiquiatra e psicólogo para verificar o estado de saúde emocional do paciente que apresenta seletividade alimentar e fazer os devidos acompanhamentos.
  • Todos devem prezar por um bom ambiente de refeições, seguindo conceitos como o mindful eating, que descarta o uso de eletrônicos à mesa e defende uma ligação maior com a comida. Devem ser evitadas discussões ou cobranças no momento da alimentação, deixando o paciente livre para escolher e quantificar o que vai comer.
  • Combinar com o paciente a introdução pontual de cada novo alimento ou forma de preparo, ressaltando as semelhanças com alimentos aceitos e sua importância para a saúde. A dieta do paciente deve ser a mesma dos outros moradores da casa.
  • Propor estratégias para, aos poucos, introduzir uma alimentação mais saudável. Por exemplo: crianças que só aceitam um determinado alimento, como batata. Oferecer outros tipos de batatas ou alimentos semelhantes. Da mesma forma, no caso de texturas. Crianças que só comem purê de mandioquinha, podem considerar comer outros tipos de purê, como batata doce e moranga. As chances de aceitação, nesse sentido, são muito maiores.
  • Administrar a ansiedade por resultados por parte do paciente e de seus pais ou companheiros, evitando que a cobrança por avanços venha a prejudicar o engajamento e a própria continuidade do tratamento.
  • Monitorar a carência de micronutrientes e, quando houver necessidade, receitar um suplemento alimentar que supra essas necessidades.

A Anorexia Nervosa é caracterizada por uma restrição na ingestão de calorias devido ao desejo de controlar o peso e um medo intenso de engordar. Isso é combinado com uma perturbação na maneira como o peso ou a forma do corpo é experimentado. O quadro é muito mais grave e pode levar a comportamentos alternados de anorexia e bulimia, poderá levar a morte do paciente se não for cuidadosamente tratado. Há necessidade de acompanhamento de equipe multidisciplinar, psiquiatra, nutricionista, acompanhamento psicológico do paciente e da família.

Pesquisas apontam que as semelhanças entre os dois grupos de seletividade alimentar e anorexia nervosa incluem pesos baixos, altos níveis de ansiedade, depressão e experiencias de sofrerem bullying como um gatilho comum (Norris et al., 2014).

AS DIFERENÇAS ENTRE SELETIVIDADE ALIMENTAR E ANOREXIA

  • Há mais homens no grupo de seletividade alimentar
  • Há mais mulheres no grupo de anorexia nervosa
  • Nos homens o comportamento de seletividade alimentar começa em uma idade mais precoce
  • Nas mulheres o comportamento de seletividade alimentar e ou anorexia nervosa aparece mais na puberdade e adolescência
  • Há um risco maior de autismo em pessoas com seletividade alimentar do que anorexia nervosa (Kenny & Walsh, 2013) (Fisher et al., 2015)
  • Curiosamente, em um estudo, uma porcentagem de crianças com seletividade alimentar, embora não expressando medos sobre seu peso ou forma corporal, se preocupava em desenvolver doenças devido ao seu padrão alimentar, talvez associado ao quadro de hipocondria ligada ao Transtorno Obsessivo Compulsivo. (Niceley et al., 2017).

SINTOMAS DA ANOREXIA

  • Perda excessiva do peso
  • Fazer jejuns intermitentes frequentes
  • Provocar vômitos após comer
  • Utilizar medicações laxantes recorrentes
  • Emagrecimento que acontece abruptamente
  • Ansiedade em relação às calorias presentes nos alimentos
  • Quantidade de atividade física exagerada
  • Comentários depreciativos sobre o próprio corpo
  • Depressão
  • Pele e lábios constantemente secos
  • Lanugo (pelos finos e alongados que crescem em certas partes do corpo)
  • Cansaço e fadiga constantes
  • Falta de menstruação (para mulheres)
  • Disfunção erétil e diminuição da libido (nos homens)
  • Desmaios
  • Tontura
  • Pressão arterial baixa
  • Isolamento social

AUTISMO E ANOREXIA

Sabemos que o padrão de evitação alimentação é comum em pessoas autistas e que a sensibilidade sensorial provavelmente é uma das causas subjacentes.

Pesquisadores encontraram ligações entre autismo e anorexia, particularmente nos perfis cognitivos ou de pensamento desses dois grupos (Oldershaw et al., 2016). Da mesma forma, Simon Baron-Cohen e colegas descobriram que adolescentes do sexo feminino com anorexia têm “traços autistas elevados”. Estes incluem uma sistematização de alimentos, peso ou forma corporal semelhante aos interesses especiais que se desenvolvem no autismo (Baron-Cohen et. al., 2017).

Isso não significa, é claro, que todos as pessoas autistas que têm problemas alimentares desenvolverão anorexia. No entanto, existem algumas evidências de que as mulheres autistas podem estar mais em risco (Kalyva, 2011). Isso pode ser porque meninas e mulheres são mais capazes de restringir sua ingestão ou são mais suscetíveis a normas sociais e culturais e pressões sobre alimentação, peso e forma corporal, por exemplo, uma jovem autista começou a fazer dieta não era porque tinha medo de ser gorda, mas porque queria ser mais parecida com suas amigas que “também faziam dieta” como uma forma de camuflagem para ser aceita no grupo de adolescentes neurotípicas.

É crucial que reconheçamos que muitos jovens autistas com seletividade alimentar restringirão sua ingestão durante períodos de estresse e ansiedade, mas que isso não representa um desejo de ser mais magro ou reflete uma distorção em sua aparência. Também não devemos ignorar os riscos da anorexia, particularmente quando as diferenças de comunicação social do indivíduo podem dificultar a verbalização de qualquer forma corporal ou preocupações com o peso.

Recomenda-se, portanto, uma avaliação cuidadosa caso a caso, levando em consideração idade, estágio de desenvolvimento do transtorno alimentar, fatores psicológicos, hábitos alimentares, fatores de risco, como gênero e sociais como o bullying.

À medida que nosso conhecimento cresce, é provável que tenhamos melhores ferramentas clínicas. Isso reduzirá o risco de erros de diagnóstico e aumentará nossa capacidade de apoiar com sucesso pessoas autistas a obter uma alimentação saudável.

Referência bibliográfica:

Bauman ML. Comorbidades médicas no autismo: desafios para diagnóstico e tratamento. Neuroterapêutica. 2018. 

A Psicóloga Marina Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista. Realizo psicoterapia online ou presencial para pessoas neurotípicas e neurodiversas.

Realizo avaliação neuropsicológica online e presencial para diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista em Adultos e TDAH.

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Marina S. R. Almeida – CRP 06/41029

Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar

Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista

Licenciada no E-Psi pelo Conselho Federal de Psicologia para atendimento de Psicoterapia on-line

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