TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA, HIKIKOMORI E NEET

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O Japão foi o primeiro país a descrever o retraimento social extremo e o isolamento dentro de casa, muitas vezes permanecendo no quarto e não participando de atividades sociais, acadêmicas ou de trabalho. 

O termo japonês Hikikomori descreve o isolamento social autoimposto que dura mais de seis meses. Este perfil foi confirmado em outros países, com o reconhecimento de que o recluso geralmente está envolvido em atividades na Internet e nas redes sociais. Assim, Hikikomori não é outro termo para agorafobia, um medo de sair de casa, mas sim criar um estilo de vida para maximizar as oportunidades de jogos na Internet.

Não há consenso entre os profissionais, principalmente os japoneses, sobre a natureza do fenômeno, a qual é descrita como multifatorial; entretanto, há pesquisas que demonstram forte associação com eventos traumáticos na infância, principalmente o bullying. No Japão, o termo hikikomori (“to pull away” ou “afastar”) se refere tanto ao fenômeno quanto aos indivíduos com este problema. De acordo com esses autores, o comportamento de hikikomori envolve elementos de retraimento social (não participação na sociedade por pelo menos seis meses) e de isolamento social (descontinuação de relacionamentos fora da família durante o período de retraimento).

A natureza do fenômeno é multifatorial e inclui temperamento tímido associado a apego ambivalente e vivências de rejeição pelos pais e colegas de escola. O antecedente de experiências traumáticas na infância é muito comum, destacando-se entre elas o bullying. O avanço tecnológico e uma condição socioeconômica mais confortável dos pais parecem facilitar a manutenção desses jovens no estado de reclusão social grave. 

A falta de engajamento social, fenômeno semelhante, mas não análogo ao hikikomori, tem recebido diferentes nomes ao redor do mundo. No Reino Unido é descrito como “NEET” (not in employment, education or training) e nos EUA como “adultolescent. Esses termos descrevem pessoas jovens que moram com os pais e não abraçam a vida independente, típica da idade adulta.

A diferenciação entre hikikomori e estágios iniciais de outros transtornos psiquiátricos pode ser difícil, principalmente na adolescência, pois muitos sintomas não são específicos e podem ser encontrados em várias condições.

O isolamento social é um sintoma que pode estar presente em vários transtornos psiquiátricos, como na esquizofrenia, no espectro autista, no retardo mental, nos transtornos de personalidade (por exemplo: esquizoide e evitativo), nos transtornos de ansiedade graves (transtorno de ansiedade social – TAS –, transtorno de pânico, agorafobia, transtorno de estresse pós-traumático – TEPT), no transtorno depressivo maior (TDM), no transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), no transtorno dismórfico corporal e na dependência de internet.

Nessas circunstâncias, o retraimento social não é a característica central do quadro do indivíduo, portanto não pode ser denominado de hikikomori.

Diante da falta de consenso sobre a classificação desse fenômeno, alguns autores dividem o hikikomori em primário e secundário. Os jovens com isolamento social prolongado primário não apresentam sérias alterações psicopatológicas, assim não preenchem os critérios para um transtorno mental específico e é considerado apenas uma condição com alterações comportamentais. Já o hikikomori secundário ocorreria em indivíduos com graves transtornos psiquiátricos, como transtornos de humor, de ansiedade, TOC, transtornos de personalidade, TEPT e transtorno do espectro autista – TEA.

Familiares de indivíduos com hikikomori, particularmente os pais, enfrentam muitas dificuldades e sofrimento. Vários sentimentos costumam estar envolvidos, desde extrema preocupação com o futuro do filho, até vergonha, culpa, medo e raiva. Alguns pais também se isolam socialmente para evitar a exposição do problema.

Num estudo com 55 casais, pais de pessoas com hikikomori que procuraram tratamento, Funakoshi e Miyamotoobservaram que 47,3% das mães apresentavam depressão. Os comportamentos problemáticos dos filhos (por exemplo: padrão alterado de sono, problemas alimentares, atitudes autoritárias, comportamentos compulsivos, destrutivos e violentos) são frequentes e afetam os familiares. Nesse mesmo estudo, atitudes de rejeição de alguns ou de todos os membros da família, no último mês, ocorreram em 23,6% e 12,7% dos casos, respectivamente, enquanto 40% evitavam contato com a figura paterna (os autores destacam que no Japão os pais em geral participam pouco da educação dos filhos, por estarem muito ocupados com o trabalho).

Um estudo recente descobriu que as características de Hikikomori ocorriam em cerca de um terço de uma amostra de pessoas autistas (Brosnan & Gavin, 2023). Compreendido como problema de saúde pública na Ásia (com prevalências entre 0,87% e 2,3%), o Hikikomori tem casos que são identificados em todo o mundo (Roza et al, 2020).

A ligação teórica entre Hikikomori, autismo e transtorno de jogos na Internet foi revisada por Dell’Osso et al. (2023) e confirmado. Portanto, será necessário ajuda de equipe multidisciplinar como psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional e apoio domiciliar para intervir nestes casos.

Com esse cenário, se torna cada vez mais necessárias ações em saúde mental como: 

  • Psicoterapia familiar
  • Psicoterapia individual
  • Intervenções familiares e psicossociais
  • Tratamento das comorbidades com psiquiatra
  • Entrevistas motivacionais
  • Abordagens cognitivo-comportamentais
  • Prevenção de recaídas

Segundo Kato et al, 2019, algumas características podem ser encontradas nessas pessoas: 

  • Alto tempo consumido na Internet
  • Uso compulsivo de jogos eletrônicos e de pornografia
  • Presença de amizades e relacionamentos sociais apenas em ambiente virtual, 
  • Sedentarismo e grande procrastinação de atividades
  • Renda proveniente dos pais, sendo nos casos mais graves a necessidade de que levem comida para a pessoa no quarto. 

Por conta do quadro, podem piorar com comorbidades psiquiátricas como depressão, ansiedade, falta de ocupações relacionadas a trabalho e estudo e perda de sentido na vida com risco de suicídio.

Compreendido dentro de um modelo biopsicossociocultural, inúmeros quadros estão associados ao Hikikomori e podem estar presentes como predisponentes ou precipitantes, são eles:

  • Fatores que provocam um comportamento de esquiva, ansiedade ou medo (traumas, transtorno do estresse pós-traumático, transtorno de personalidade evitativa, narcisista ou esquizoide);
  • Condições que afetam a interação;
  • Fatores que provocam anedonia, perda de motivação ou ideação suicida (depressão);
  • Comportamentos sociais (transtorno de ansiedade social e transtornos do espectro autista);
  • Fatores biológicos (doenças graves e obesidade mórbida);
  • Quadros psicóticos com autorreferência ou delírios persecutórios (esquizofrenia);
  • Fatores socioculturais (inteligência artificial, novas formas de encontros e socialização virtuais);
  • Fatores psicológicos (solidão, vergonha, baixa autoestima e perda de confiança em terceiros).

Tempo de tela recomendado pela OMS

Segundo a OMS, o tempo de tela na infância deve ser menor do que 1 hora por dia para crianças menores de 4 anos.

  • Menos de um ano a 2 anos: não é recomendado contato com telas.
  • 2 a 4 anos: no máximo uma hora por dia.

Tempo de tela recomendado pela SBP

Para os pediatras brasileiros, até o uso passivo das telas deve ser limitado. Ou seja: nada de ficar assistindo TV todo dia enquanto cuida do seu filho, hein?

  • Menores de 2 anos: sem tempo de tela, mesmo que passivamente.
  • 2 a 5 anos: máximo de 1 hora por dia, sempre com supervisão.
  • 6 a 10 anos: no máximo 2 horas por dia, sempre com supervisão.
  • 11 a 18 anos: no máximo 3 horas por dia. 

O hikikomori não deve ser considerado uma síndrome ligada à cultura japonesa, pois é um fenômeno que existe em vários países europeus, asiáticos e americanos (inclusive no Brasil), com as mesmas características clínicas e sociodemográficas descritas no país de origem. O hikikomori vem se tornando, nos últimos anos, uma preocupação internacional, pelo aumento do número de casos.

A descrição do hikikomori ainda não foi incluída nos manuais de classificação de doenças como o CID e o DSM, pois não há consenso entre os estudiosos, principalmente no Japão, se é um transtorno mental ou um estilo de vida próprio de pessoas que optaram por viver à margem do convívio social. Esse fato dificulta a realização de pesquisas, incluindo ensaios clínicos e protocolos de tratamento para esses indivíduos e seus familiares.

Os hikikomoris são subdiagnosticados e subtratados fora do Japão, devido à relutância desses indivíduos em procurar ajuda e ao desconhecimento dos profissionais da área da saúde sobre esse tema.

No futuro, com o desenvolvimento e popularização da realidade virtual, do metaverso e da inteligência artificial (e possibilidade da pessoa ter companhias e namoros com inteligências artificiais), o Hikikomori pode vir a ser um problema mundial.

Fonte: https://www.scielo.br/j/jbpsiq/a/gxwxHsJFPDZnfKqfryYrMmL/?lang=pt

A Psicóloga Marina Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista e TDAH em adultos. Realizo psicoterapia online ou presencial para pessoas neurotípicas e neurodiversas.

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