TEORIAS SOBRE ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO

Compartilhe

Artigo de Dóra Cortat Simonetti *
ABAHSD – Associação Brasileira para Altas Habilidades/Superdotados
ALTAS HABILIDADES : REVENDO CONCEPÇÕES E CONCEITOS
Resumo :
Apesar de documentos legais que reconhecem alunos com capacidade acima da média na população escolar o que, muitas vezes, chega à prática dos profissionais da educação são conceitos desligados de concepções, relativamente vagos, pesados de mitos que as produções científicas estão derrubando.
Resignificar as concepções e conceitos sobre altas habilidades / superdotação é de suma importância sobretudo quando se admite que qualquer prática educativa deve sempre partir de um referencial teórico.
Superdotação é um conceito que serve para expressar alto nível de inteligência e indica desenvolvimento acelerado das funções cerebrais. Desde a década de 80 surgem novas teorias sobre inteligência que vêm ampliando nossa visão sobre altas habilidades; a partir da década de 90, as pesquisas cognitivas foram enriquecidas com o desenvolvimento das ciências neurais.
A Teoria da Desintegração Positiva de Dabrowski , o modelo Diferenciado de Superdotação e Talento de Gagné , o Círculo dos Três Anéis de Renzulli , o modelo das Inteligências Múltiplas de Gardner e o modelo WICS de Sternberg são estudos que se destacam. São modelos diferentes que não se excluem,mas se completam.
Algumas alternativas para inclusão escolar destes alunos são: Atividades extracurriculares organizadas na própria escola, Sala de Recursos, Modelo de Enriquecimento Escolar (SEM) de Renzulli e Centro para Desenvolvimento do Potencial e Talento (CEDET) idealizado pela psicóloga Zenita Guenther.
Introdução
Lutar por uma escola inclusiva que busque ter um projeto pedagógico que responda às necessidades específicas de cada aluno e grupo de alunos traz nova esperança; sem dúvida, o convívio ampliado entre os pares é uma das mais férteis vertentes educativas.
Quando se fala em altas habilidades/superdotação diversas são as abordagens sobre o tema. Enquanto a neurobiologia valoriza os mecanismos cerebrais, a psicopedagogia social busca fatores psicológicos, educacionais e sociológicos que possam determiná-las e a genética ressalta o papel dos gens.
As dificuldades na escolha de um conceito de superdotação não residem apenas nas diferentes concepções sobre o conceito em sí mesmo mas, no que pode ser incluído no seu âmbito.
Gallagher (1979) chama a atenção para o fato de que o conceito de superdotação está ligado a cultura. Para muitos professores os alunos superdotados fazem o melhor trabalho na sala de aula, participam avidamente das atividades de classe e completam as tarefas com presteza.
Outros reconhecem alto nível em estudantes que demonstram profundidade de pensamento e sensibilidade por suas observações e pelo tipo de perguntas que fazem. Poucos percebem o fomentador de discórdias e o não conformista como possível aluno superdotado.
A literatura especializada aborda com frequência superdotação e talento como termos com dois pontos em comum: se referem a habilidades e estão acima da média da população. Para o senso comum, a habilidade intelectual é superdotação e a habilidade artística é talento.
Para Clark (1998), a superdotação é um conceito de fundo biológico que serve como rótulo para alto nível de inteligência e indica desenvolvimento acelerado das funções do cérebro, o qual pode ser expresso através de habilidades de alto nível. O avanço das neurociências nas investigações sobre inteligência mudou as formulações anteriores.
Embora estas questões de terminologias ainda aflorem, a atenção tem se concentrado em proporcionar a cada um dos alunos com capacidade acima da média, oportunidades para seu desenvolvimento. A fundamentação teórica é importante e os exemplos que se seguem não são excludentes, se complementam.
Teoria da Desintegração Positiva de Dabrowsky (TDP)
A TDP tem implicações consideráveis para explicar o desenvolvimento emocional do superdotado, tornando-se importante para entender os padrões de crescimento e os desafios daqueles que tem altas habilidades. Dabrowsky, psicólogo polonês, identificou cinco áreas  de superexcitabilidade: psicomotriz, sensorial, intelectual, imaginativa e emocional.
Chamou este processo de desintegração positiva porque o crescimento e o desenvolvimento delas era acompanhado de angústia e ansiedade. As superexcitabilidades são uma elevada habilidade inata para perceber estímulos e responder a eles.
Gagné propõe que a superdotação está associada à habilidade intelectual geral – fator “ g “, enquanto que o talento indica destrezas mais específicas. Identificou cinco atitudes:: intelectual, criativa, sócio-afetiva, sensomotora e percepção extrasensorial.
Neste modelo, as habilidades naturais atuam como material para os elementos constituintes dos talentos; a superdotação se refere a medidas de potencial, habilidades não treinadas, enquanto o talento se reserva especificamente para rendimentos alcançados como resultado de um programa sistemático de formação e prática.
O Círculo dos Três Anéis de Renzulli
Teoria formulada por Renzulli na década de 70, apresenta uma conceituação centrada mais na atuação que na potencialidade, onde sustenta um modelo que não se atém no Quociente Intelectual, mas na confluência de três fatores : habilidade acima da média, compromisso com a tarefa (motivação) e criatividade elevada.
A habilidade acima da média permanece relativamente estável e não necessita ser excepcional; a criatividade se refere à flexibilidade e à originalidade do pensamento e o comprometimento com a tarefa refere-se à persistência, dedicação, esforço e autoconfiança.
A partir de sua caracterização, Renzulli conclui que a superdotação é relativa ao tempo, à pessoas e às circunstâncias, isto é, os comportamentos superdotados têm lugar em determinadas pessoas (não em todo o mundo), em determinados momentos e em determinadas circunstâncias (não em todo o tempo ).
Modelo das Inteligências Múltiplas de Gardner
A ideia de que há várias inteligências não é nova. Gardner apoiou seus antecessores , como Thurstone e Guilford, procurando complementar alguns pontos: a não inclusão dos fatores biológicos da inteligência, não problematização da criatividade, insensibilidade aos papéis socialmente valorizados.
Assumindo que o mapa cerebral sugere áreas distintas de funcionamento inteligente, conclui em seus estudos, divulgados em 1983, que existem tipos de inteligências independentes.
Duas especialmente importantes para a aprendizagem – linguística e lógico-matemática, inteligências “não canônicas”: musical, espacial,corporal-cinestésica,naturalista e as inteligências pessoais (inter e intrapessoal), ponderando sobre a existência de uma nona inteligência que chamou de existencial (Gardner, 2005 ).
Trata-se de uma teoria útil porque expande os conceitos de inteligência, e amplia a maneira de identificar talentos, mas sem investigação empírica que sustente suas afirmações (Sternberg, 2000) .
Modelo WICS de Sternberg
Segundo Sternberg (2000) para compreender habilidades devemos pensar não só em termos de Quociente Intelectual, mas também de Inteligência Exitosa.
Esta é a habilidade intencional para adaptar-se a diferentes ambientes, configurá-los e selecioná-los. Postula que as pessoas inteligentes conhecem suas próprias forças e compensam suas fraquezas.
A partir de sua teoria triárquica da inteligência deriva uma concepção plural de superdotação e formula um modelo pentagonal o qual considera que esta deve ter um conjunto de cinco características: excelência, raridade, produtividade, demonstratividade e valor.
O modelo WICS (Wisdom,Intelligence,Creativity, Synthesized) é uma possível base comum para identificar pessoas superdotadas (Sternberg,2003).
A superdotação seria uma síntese de sabedoria, inteligência e criatividade. A Sabedoria emanada da teoria do equilíbrio de interesses; existentes e a seleção de novos ambientes; inteligência como a capacidade de maximizar pontos fortes e compensar as debilidades; criatividade como decisão de superar obstáculos e assumir riscos.
Alternativas de inclusão escolar
·      Atividades curriculares organizadas na própria escola – São realizadas com a intenção de ocupar os alunos mais capazes por meio de cursos de arte, clubes de ciências ou de esportes, monitoria de colegas. Correm o risco de se tornarem atividades rotineiras, planejadas com as possibilidades da escola e não com as reais necessidades do aluno.
·      Sala de recursos  – Esta estratégia foi inicialmente desenvolvida para atender alunos com deficiência, cuja aprendizagem exigia material didático específico.
Diretrizes do MEC (1998) sugerem esta alternativa também para alunos superdotados. Pelo que se sabe para desenvolver talentos não são requeridos “recursos materiais” específicos, em uma sala especial , pois os recursos pedagógicos usados por eles são necessários aos outros alunos da escola.
O objetivo desta sala seria oportunizar a convivência entre, orientados por um professor / facilitador capacitado para catalisar todos os recursos materiais e humanos, existentes na escola ou fora dela, e sobre esta base atender cada criança de acordo com seus interesses e potencial.
·      Modelo de Enriquecimento Curricular (SEM) – Trata-se de um plano que se apoia em vários anos de investigação destinado a identificar altos níveis de potencial nas habilidades, interesses e estilos de aprendizagem dos alunos, além da estimulação de tais potencialidades.
Compõe-se de três dimensões em interação: componentes organizacionais, componentes de prestação de serviços e estruturas escolares.
O Centro de Desenvolvimento do Potencial e do Talento (CEDET).  O CEDET é um espaço de apoio, complementação e suplementação educacional ao aluno com altas habilidades, matriculado em escolas públicas ou particulares.
Seu projeto educativo, objetiva desenvolver o auto-conceito, cultivar a sensibilidade e o respeito aos outros. Suas ações voltam-se para a identificação e recrutamento dos alunos, peça observação direta dos professores, reavaliação pelas  equipes técnicas da escola e do CEDET,  bem como atendimento especializado.
Conclusão
O conceito de altas habilidades evoluiu historicamente de uma concepção unidimensional, limitada a aptidões cognitivas e avaliação psicométrica para uma compreensão multidimensional.
Embora a literatura especializada não se alicerce em um conceito uniforme existe um consenso quanto à sua ampliação.
Os elevados níveis de cognição e desempenho em uma área ou mais de conhecimento constituem elementos comuns às várias concepções, como também o reconhecimento da importância de ações para o desenvolvimento do talento. Em síntese, talento não se desperdiça, estimula-se.
Referências bibliográficas:
BRASIL,MEC,SEESP, Subsídios para organização e funcionamento de serviços de educação especial, Área de Altas Habilidades, v. 9, 1998 ( Série Diretrizes )
CLARK, Bárbara. Otimização do aprendizado: identificação, planejamento e recursos para jovens superdotados e talentosos, Anais do Congresso Internacional sobre Superdotação ,Brasil : Brasilia, 1998
GALLAGHER,James J. Issues in education for the gifted in The gifted and Talented: their education and development, Universidade de Chicago, Illinois, 1979
GAGNÉ, F. Modelo diferenciado de superdotación y talento in Benito, Y. y Alonso, J.A. Superdotados, Talentos, Creativos y Dessarrolo Emocional , Ecuador,Loja : UTPL, 2004
GARDNER, Howard. Mentes que mudam: a arte e a ciência de mudar as nossas mentes e a dos outros, Porto Alegre : Artmed/Bookman, 2005
GUENTNER,Zenita C. Desenvolver capacidades e talentos – um conceito de inclusão, Petropólis: Vozes, 2000
RENZULLI, J.S. Os fatores da excepcionalidade, in Anais do XIV Congresso Mundial de Superdotação e Talento, Espanha: Barcelona, 2001
______________ & FLEITH, D.S. O modelo de enriquecimento escolar , Portugal, Braga, Sobredotação : ANEIS, v. 3 , no. 2, 2002
REVISTA CÓDICE 2,5 .Kazimierz Dabrowsky, Bogotá: Instituto Alberto Merani, Ano 3, no. 1, 2002
STERNBERG, Robert L. La inteligencia exitosa: una visión má ampla de quién es más listo en la escuela y en la vida y Entrevista exclusiva in Códice 2,5, Bogotá : Instituto Alberto Merani , Ano 1, no. 1, fevereiro de 2000
___________________ . WICS as a Model of Giftedness , High Abilities Studies, v. 14, no. 2, 2003

Entre em contato comigo e agende uma entrevista:

Marina S. R. Almeida

Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar

Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista

CRP 41029-6

INSTITUTO INCLUSÃO BRASIL

Whatsapp (13) 991773793 ou (13) 34663504

Rua Jacob Emmerich, 365 sala 13 – Centro – São Vicente-SP

CEP 11310-071

marinaalmeida@institutoinclusaobrasil.com.br

www.institutoinclusaobrasil.com.br

https://www.facebook.com/InstitutoInclusaoBrasil/

https://www.facebook.com/marina.almeida.9250

https://www.facebook.com/groups/institutoinclusaobrasil/

Conheça os E-Books

Coleção Neurodiversidade

Coleção Escola Inclusiva

Os E-books da Coleção Neurodiversidade, abordam vários temas da Educação, elucidando as dúvidas mais frequentes de pessoas neurodiversas, professores, profissionais e pais relativas à Educação Inclusiva.

Outros posts

FREUD E A TEORIA DA SEXUALIDADE

A Teoria da Sexualidade foi o grande passo inovador em Freud: a sexualidade em todas as idades, inclusive na infância. Sua teoria da sexualidade infantil

3 respostas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

×