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Busquei pesquisar primeiramente o conceito de subjetividade nos seguintes dicionários, Vocabulário de Psicanálise de Lapanche & Pontalis, Dicionário do Pensamento Kleiniano de R. D. Hinshelwood e no Dicionário de Psicanálise de Elisabeth Roudinesco e Michel Plon. Apenas no Dicionário do Pensamento Kleiniano encontrei definição sobre subjetividade a partir dos conceitos de mundo interno e mundo externo, mecanismos de projeção, introjeção e construção das relações objetais.

Então fui pesquisar no Dicionário Temático de Psicanálise Larousse Cultural, do autor Roland Chemama, que descreve o seguinte:

Subjetividade é o caráter do que é subjetivo, que, por sua vez, diz respeito ao sujeito definido como ser pensante, como consciência, por oposição a objetivo. De fato, a subjetividade engloba todas as peculiaridades imanentes à condição de ser sujeito, envolvendo as capacidades sensoriais, afetivas, imaginativas e racionais de uma determinada pessoa. Toda pessoa é uma complexa unidade natural e cultural. Mais que um corpo com funções biológicas e psicológicas com capacidades de transformar o seu meio pelo trabalho e pela linguagem, o ser humano é uma unidade de necessidades, desejos, sentimentos, angústias, temores, imaginários, racionalidades e paixões. Da mesma forma como não podemos considerar o homem apenas como um animal racional, não podemos reduzir a subjetividade a uma dimensão meramente cognitiva, a uma consciência, desconsiderando todas as demais facetas da complexa interioridade de cada um.

Pela dificuldade e complexidade na definição de subjetividade, adotaremos neste presente trabalho que “subjetividade” refere-se às experiências particulares de um sujeito particular, que implicam não somente a sua relação passiva com o mundo e com o outro, mas também o seu engajamento ativo nestas direções.

Os estudos da subjetividade pautados exclusivamente na psicologia têm se mostrado insuficientes, deparando-se com frequentes dificuldades e contradições. Desse modo, não é possível, a utilização somente da psicologia para o entendimento da subjetividade; são necessárias também as categorias da filosofia e da sociologia. Mesmo porque o sujeito, ao qual é associado o termo subjetividade, remete, simultaneamente, à universalidade e à particularidade. Nessa perspectiva, defende-se a ideia de que, para estudar a subjetividade, é necessário, para o psicólogo, além de seu saber específico, o conhecimento de noções de filosofia e sociologia, relacionadas com o seu objeto, e um bom contato com a literatura e com a arte de uma forma geral.

De modo global, estudar subjetividade é procurar no indivíduo as marcas da sociedade. Ou seja, dizer que o indivíduo é mediado socialmente, não significa que ele seja afetado externamente pela sociedade, mas sim que se constitui por ela, isto é, pela sua introjeção.

Assim, a Psicologia, para entender as questões que se referem à subjetividade, deve compreender as finalidades, as instâncias, os meios, pelos quais uma determinada cultura forma o indivíduo. Este argumento só pode ser efetivo a partir do momento em que se admite que a cultura modela a subjetividade, disponibilizando seus hábitos e costumes, valores e padrões de comportamento. Tais elementos que incorporamos ou que nos formam advém das várias experiências de sociabilidade pelas quais passamos: nossa família, a escola, nossos colegas e amigos, a comunidade local, a igreja etc.

De acordo com os escritos de Freud, estudar a subjetividade é postular de início que a “vida subjetiva” não é o reino do absurdo, do obscuro, da impossibilidade do saber. A “vida subjetiva” é objeto possível de compreensão racional. A vida psíquica não é autônoma, independente e absoluta frente à realidade objetiva que, da mesma forma, não o é com relação à subjetividade.

Através de seus procedimentos, Freud pôde captar e revelar que, apesar de os processos psíquicos e culturais fundamentais serem universais e condição para a humanidade, esses processos são subordinados às condições da particularidade histórica a da singularidade individual. Deste modo, ele admite que os mecanismos pelos quais os processos e as exigências civilizatórias se constituem são subjetivos.

A priori, não é difícil acreditar que o significado de subjetividade para Freud era o ego, conceito detalhadamente discutido nas obras do autor. O ego é qualificado como um subsistema que opera segundo determinado código (dirigido ao real ou não) e que, produz o trabalho do pensar consciente. Segundo Freud é possível ter certo grau de autoconsciência (subjetividade), porém esta, nunca abrangerá todos os sentimentos psíquicos, este sistema só se torna possível como resultado de um sistema que está em condições de abranger as operações inconscientes. Portanto, o ego não significa a totalidade de todo o mundo psíquico do sujeito.

A autoconsciência pode ser mais entendida como subjetividade no sentido de ser o centro do sujeito. Esta resulta das operações do inconsciente ao mesmo tempo em que não tem o controle completo de suas próprias operações. A autoconsciência no conceito psicanalítico corresponde a uma rede dos sistemas conhecidos como: o ego, o superego e o id. Na visão psicanalítica, a autoconsciência resulta de experiências feitas pelo sistema e suas conexões. Por fim, segundo a psicanálise, o sujeito é determinado pela sua subjetividade ou autoconsciência.

No âmbito prático, a subjetividade do analista (mundo interno, caráter, experiência, referencial teórico, conceitos, contratransferência) interage com a subjetividade do analisando, na relação transferencial, sendo esta interação o que vai produzir o primeiro fato objetivo em Psicanálise, a compreensão objetiva pelo psicanalista daquilo que se passa na transferência e será comunicado ao analisando. Desta forma, a interpretação da demanda do paciente dar-se-á pela objetivação do que é subjetivo.

No consultório, tudo que o psicanalista tem de objetivo (o referencial e a experiência) passa a compor sua subjetividade. A presença da teoria na interpretação somente vai se dar pela via indireta da intuição do analista, ou seja, através da interação de toda a sua subjetividade com a subjetividade do analisando, no choque intersubjetivo do setting analítico. É, no entanto, a subjetividade agregada ao conteúdo objetivo que diferencia o psicanalista do observador leigo.

BIBLIOGRAFIA

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CHEMAMA, R. Dicionário de Psicanálise Larousse, 4ª. edição, Porto Alegre: Editora Artes Médicas 2001.

HINSHELWOOD, R. D. Dicionário do Pensamento Kleiniano, 2ª. edição, Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1999.

LAPLANCHE, J. Vocabulário da psicanálise/ Laplanche e Pontalis; sob a direção de Daniel Lagache; tradução Pedro Tamen – 4ª Ed.- São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MOROZ, M.; RUBANO, D. e equipe; “Subjetividade: a interpretação do behaviorismo radical”, Psic. da Ed., São Paulo, 20, 1º sem. de 2005, pp. 119-135. Disponível em: http://scielo.bvs-psi.org.br/pdf/psie/v20/v20a07.pdf.

RESENDE, A. C. A.; “Subjetividade e cultura: a contribuição da psicanálise ao debate”, UFG/UCG, anita.resende@pesquisador.cnpq.br GT: Psicologia da Educação / no. 20.

ROUDINESCO, E., PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

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