RELACIONAMENTOS BEM-SUCEDIDOS COM PESSOAS AUTISTAS NO NAMORO E CASAMENTO

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O autismo não impede que pessoas no espectro experimentem namoro ou relacionamentos românticos significativos. Pessoas com autismo são de fato capazes de amar e se casar, construir família e ter filhos como evidenciado por pessoas no espectro em situações da vida real.

Ao reconhecer os desafios enfrentados por pessoas autistas em relacionamentos românticos, ter acesso a suporte e recursos apropriados, pessoas no espectro podem cultivar e manter parcerias bem-sucedidas e satisfatórias.

Portanto, há uma priorização para que o relacionamento possa ter maior chance de obter sucesso, companheirismo e harmonia.

Primeiro passo: a pessoa autista precisa investir no seu amor-próprio, reconhecer as suas limitações e dificuldades, reconhecer o sofrimento psíquico de quem está junto no namoro/relacionamento/família, esposa, filhos, companheiro(a). Por isso, a pessoa autista ou neurodiversa sendo o parceiro (a) de outra pessoa autista ou neurotípica, precisa obter seu diagnóstico oficial com especialistas em autismo em adultos.

Sem o diagnóstico oficial de autismo e saber quais são as comorbidades presentes ficará muito difícil melhorar sua saúde mental, relacionamentos socioemocionais, fortalecer suas habilidades potenciais, para melhorar o cotidiano do namoro, relacionamento, família pela própria complexidade do funcionamento do autismo.

Segundo passo: após o seu diagnóstico oficial, iniciar as terapias de suporte:

  • Acompanhamento com psiquiatra e ou neurologista (depende do caso), visto que o autismo sempre vem acompanhado de comorbidades como ansiedade, depressão, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno afetivo bipolar, dentre outras e ou comorbidades neurológicas, TDAH, epilepsia, dispraxia, dentre outras.
  • Acompanhamento com Psicólogo, com Terapia Cognitiva Comportamental ou Psicanálise (dependendo do caso) para desenvolver suas habilidades socioemocionais, autoestima, desenvolver flexibilidade, dentre outras habilidade e autoconhecimento que poderá ser desenvolvido.
  • Acompanhamento com Terapeuta Ocupacional para intervir na modulação sensorial auditiva, visual, tátil, olfativa, vestibular, proprioceptiva etc.
  • Acompanhamento com Nutricionista para intervir na seletividade alimentar ou rituais obsessivos alimentares.
  • Atividade desportiva caminhada, ciclismo, natação, Yoga, para melhorar crises, ansiedade, impaciência, sono, sedentarismo etc.

Uma pessoa autista que está em um namoro e ou casamento precisa ter a compreensão e o apoio dentro de um relacionamento, pois são vitais para administrar as necessidades e expectativas um do outro. Essa experiência ilustra que os relacionamentos podem florescer apesar dos desafios associados ao autismo.

Os profissionais de saúde que têm conhecimento sobre autismo e relacionamentos podem desempenhar um papel fundamental em ajudar pessoas autistas e seus parceiros. Esses profissionais podem fornecer orientação, estratégias e intervenções adaptadas às necessidades específicas de pessoas no espectro no contexto de relacionamentos românticos.

Grupos de apoio e comunidades on-line projetados especificamente para indivíduos autistas e seus parceiros podem oferecer um espaço seguro para compartilhar experiências, encontrar compreensão entre indivíduos que têm desafios e experiências semelhantes.

Programas de educação de relacionamento que focam em habilidades sociais, comunicação e inteligência emocional podem ser benéficos para indivíduos autistas. Esses programas fornecem oportunidades de aprender e praticar habilidades de construção de relacionamento em um ambiente estruturado e de apoio, como a Terapia Cognitiva Comportamental.

Terceiro passo: esses recursos enfatizam a importância da paciência, empatia e comunicação aberta para promover relacionamentos saudáveis ​​e gratificantes. Portanto, não é apenas a pessoa autista que precisa buscar ajuda de psicoterapia individual, a pessoa neurotípica também precisa buscar psicoterapia individual para ajudar a saber qual o papel está ocupando no relacionamento, suas dificuldades, angústias e então aprender a melhorar os manejos com o seu companheiro autista.

Muitas pessoas neurotípicas bem-intencionadas querem aprender a lidar com seu companheiro(a), mas não aceitam buscar psicoterapia individual para si, só desejam orientações e receitas prontas que na realidade pouco funcionam. Desejam apenas mudar seu parceiro autista a qualquer custo e isso não irá acontecer.

Com compreensão, educação, psicoterapia e uma rede de apoio, pessoas autistas e neurotípicas podem fluir melhor nas complexidades dos relacionamentos românticos e construir conexões duradouras com seus parceiros.

MELHORANDO A QUALIDADE DO RELACIONAMENTO

Melhorar a qualidade dos relacionamentos para pessoas autistas envolve entender a empatia, a comunicação e gerenciar preferências pessoais.

Parceiros de pessoas autistas:

  • Entenda – que seu parceiro também tem uma perspectiva diferente, troque as perspectivas, negociem, cheguem em um denominador comum que possa ser bom para o casal. A pessoa autista também precisa se flexibilizar para entender a perspectiva do outro e que existe um “nós” no relacionamento, cada um sede um pouquinho.
  • Mostre interesse – no que seu parceiro é apaixonado. Se seu parceiro(a) é autista, há uma boa chance de que tenha um interesse ou paixão por algum tema específico – hiperfoco. Mostre interesse genuíno nas paixões da pessoa autista. Então apresente também ao seu parceiro autista seu interesse por algo que você goste, um hobbie, uma diversão, arte, cinema, viajar etc. Negociem suas experiencias de prazeres.
  • Surpresas – Se dar surpresas é sua coisa favorita para você neurotípico, você poderá se desapontar um pouco. Eu não conheci nenhuma pessoa autista que ame surpresas ou de fazer surpresas para o companheiro (a). Alguns estão bem com isso, mas a grande maioria deles detesta. Então, seja uma festa surpresa de aniversário ou sexo, ou desejar que ele adivinhe um presente para você, isso poderá ser um desafio. Procurem fazer listas do que gostam e como poderão fazer isso juntos. Se gosta de presentes liste o que deseja ganhar, de o maior número de informações possíveis desde onde a pessoa autista poderá comprar em sites e ou lojas. Isso ajudará muito a convivência e o prazer da gratificação assertiva para ambos.
  • Não force a barra com cobranças – Por frustração e desespero, você começa a forçar os limites na esperança de que algo radical aconteça com seu companheiro autista. Ninguém muda ninguém, se no relacionamento não houver, respeito, amor e diálogo, as coisas não caminham. Apenas um dos parceiros ficará no papel de cobrador, cuidando de tudo e reclamando achando que poderá mudar o parceiro. Missão impossível! Procure ajuda de psicoterapia individual imediatamente para você.
  • Reserve um tempo – Pessoas autistas adoram momentos de silêncio, solidão, horários, gostam de padrões e preferem previsibilidade. Use isso a seu favor. Reserve uma ou duas horas com seu parceiro para ficarem juntos ou cada um usará este momento para si. Planeje exatamente como vocês farão isso, mas planeje pelo menos uma semana antes.
  • Não trate seu companheiro autista como seu filho – pessoas neurotípicas costumam desenvolver um papel maternal ou paternal com o companheiro autista, isso pouco ajuda na relação, a não ser infantilizar e impedir que desenvolvam habilidades socioemocionais para a vida adulta.


Faça um planner coloque em local visível ou anotem em bloco de notas no celular ou use app do Google Agenda. Existem outros aplicativos que podem ajudar no planejamento semanal, como o Planner Semanal, o Tweek, o Todoist, o Any.do e o Sunsama. 

Aqui estão alguns exemplos para melhorar a rotina:

  • Segunda-feira: Vamos assistir a um filme, após o jantar. Estabelecer quem vai fazer o jantar, lavará a louça, e qual o tipo de filme.
  • Terça-feira: Leia para mim seu livro favorito. Depois vamos ver as lições das crianças ou vamos ler historinhas para as crianças.
  • Quarta-feira: Daremos uma olhada em sua coleção de moedas mais recente, retiraremos todos os álbuns e os organizaremos juntos. Depois faremos a lista de supermercado e dos reparos de manutenção da casa.
  • Quinta-feira: Você me diz o que quer fazer se quer ficar sozinho ou deseja minha companhia.
  • Sexta-feira: Falaremos sobre nós: Para onde o relacionamento está indo e como podemos melhorar? Precisamos conversar sobre nossa vida sexual. Precisamos viajar juntos. Precisamos conversar sobre o nosso orçamento financeiro. Precisamos conversar sobre como educar as crianças.
  • Na próxima semana vocês poderão trocar os assuntos e tarefas.

TAXAS DE CASAMENTO ENTRE INDIVÍDUOS AUTISTAS

As taxas de casamento entre pessoas autistas variam, com aproximadamente 35% dos autistas relatados como casados. É importante observar que esses números podem não contabilizar indivíduos não diagnosticados ou aqueles com diagnósticos potencialmente incorretos. Além disso, é essencial considerar que as taxas de casamento aumentaram para adultos autistas nos últimos anos. Em 2021, 23% dos adultos autistas eram casados, em comparação com apenas 8% em 2005.

A idade média em que pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) se casam é em torno de 20 anos, embora isso possa variar. Alguns indivíduos autistas podem se casar em meados ou no final dos 20 anos ou até mesmo no início dos 30 anos. É importante entender que a jornada de cada um para o casamento é única, e não há um cronograma específico que se aplique a todos os indivíduos no espectro autista.

De acordo com um censo recente de 2023 dos EUA, isso acontece com pelo menos um em cada dois casais em um relacionamento. Enquanto o quociente de empatia é bom para casais homossexuais, para relacionamentos heterossexuais, as chances são de até 66%, ou seja, 2 em cada 3 famílias terão problemas de relacionamento em algum momento, isso também acontece com casais neurotípicos.

Independentemente de você entrar em um relacionamento com um indivíduo autista ou não, é importante entender o que pode dar errado. As experiências que você, como parceiro, provavelmente enfrentará podem depender do nível de suporte que seu parceiro autista precisa.

Em pesquisas atuais 90% dos casos, a pessoa autista em um relacionamento seria uma pessoa autista nível 1, (indivíduos autistas com nível de suporte 2 e 3 raramente são vistos em relacionamentos) e em 75% dos casos seu parceiro do espectro é um homem.

Pesquisas indicam que adultos autistas podem se conectar empaticamente com outros, desmascarando mitos sobre sua incapacidade de formar laços emocionais profundos. Ainda há equívocos em torno do autismo; no entanto, eles não refletem a realidade das capacidades de relacionamento dos indivíduos autistas. É importante reconhecer que as habilidades de amor e casamento existem dentro dessa comunidade, equipando-os para nutrir parcerias gratificantes.

TAXAS DE DIVÓRCIO ENTRE CASAIS AUTISTAS-NEUROTÍPICOS

As taxas de divórcio entre casais em que um dos parceiros é autista ocorrem a uma taxa de cerca de 30%.

Esses divórcios geralmente acontecem antes que os indivíduos atinjam 30 anos de idade.

Vários fatores podem influenciar as taxas de divórcio, incluindo o nível de educação do cônjuge autista, a gravidade do funcionamento do TEA, ausência de suporte terapêutico, fatores que vão interferindo no desgaste do relacionamento e muitas vezes levando a sofrimento psíquico do companheira(o) e dos filhos.

É importante observar que esses números podem não levar em consideração indivíduos não diagnosticados oficialmente com autismo ou aqueles com diagnósticos potencialmente incorretos.

TAXAS DE DIVÓRCIO ENTRE PAIS DE CRIANÇAS COM AUTISMO

Pais de crianças com transtorno do espectro autista (TEA) têm uma taxa maior de divórcio em comparação com pais de crianças sem deficiência. Pesquisas sugerem que a taxa de divórcio para pais de crianças com TEA é de cerca de 23,5%, enquanto a taxa para pais de crianças sem deficiência é de aproximadamente 13,8%.

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O DIVÓRCIO EM FAMÍLIAS COM AUTISMO

Vários fatores contribuem para as maiores taxas de divórcio entre pais de crianças com autismo. Idade materna mais jovem no momento do nascimento da criança e ter a criança nascida mais tarde na ordem de nascimento são positivamente preditivos de divórcio nessas famílias. Além disso, os pais de crianças com TEA continuam a experimentar altos níveis de demandas parentais e estresse durante a infância, adolescência e início da idade adulta de seus filhos, o que pode contribuir para um período prolongado de vulnerabilidade ao divórcio.

Características relacionadas à criança com autismo também desempenham um papel nas taxas de divórcio. A gravidade dos comportamentos e ter vários filhos com autismo na família pode aumentar o risco de divórcio para os pais. É importante lembrar que as circunstâncias de cada família são únicas, e esses fatores podem interagir de forma diferente para cada casal neurotípico ou com pais autistas ou um dos conjugues com autismo.

Fontes:

https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/fullarticle/2737582?guestAccessKey=d82b0145-f179-48bd-91bb-f77865732c3c&utm_source=For_The_Media&utm_medium=referral&utm_campaign=ftm_links&utm_content=tfl&utm_term=071719

https://www.mastermindbehavior.com/post/do-autistic-people-get-married

https://www.ncbi.nlm.nih.gov

https://www.focusonthefamily.com

https://www.kennedykrieger.org

 ​​https://autismspectrumnews.org

https://www.iidc.indiana.edu

https://www.thetreetop.com

Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029

Psicóloga Clínica, Escolar e Neuropsicóloga, Especialista em pessoas adultas Autistas (TEA), TDAH, Neurotípicos e Neurodiversos.

Psicanalista Psicodinâmica e Terapeuta Cognitiva Comportamental

Agendamentos por mensagem no WhatsApp +55 (13) 991773793

INSTITUTO INCLUSÃO BRASIL

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