Atualmente na Psicanálise contemporânea o descentramento da Teoria do Complexo de Édipo nos remete a um novo lugar para pensar a sexualidade humana, vemos hoje várias questões sendo debatidas, ligadas a disforia de gênero, transgêneros, dentre outras configurações de identidade de gênero e escolhas objetais libidinais.
Para Winnicott as questões que nos inquietam são as dirigida ao ser ou não ser, portanto, se baseia na tragédia de Hamlet.
A tragédia de Hamlet, escrita em 1601, há quatro séculos, foi objeto de um número incontável de estudos. As interpretações psicanalíticas de seu herói têm uma história tão longa quanto a história da própria psicanálise.
As mudanças na ontologia psicanalítica segundo Winnicott e os novos elementos para compreender os fenômenos do desenvolvimento da sexualidade continuam sendo um dos problemas humanos, tais como:
- Ser, do não ser, ao ser
- Sou, eu sou, pessoa inteira
- Imaturidade do bebê e dependência do ambiente
- Psique, corpo somático e mente
- Elaboração imaginativa das funções corporais
- Integração das pulsões e ciclo benigno
- Elementos femininos e masculinos e suas funções: materna e paterna
- Novas constituições familiares contemporâneas
- Tendência inata a integração
- Verdadeiro e falso self
- Privação ambiental
- Congelamento e descongelamento psíquico
- Cultura
A mudança da Psicanálise após os estudos de Donald Winnicott, acrescentou a importância da questão centrada na dependência a figura materna e as consequências da falha ambiental. Cada sistema teórico psicanalítico está constituído em uma função de uma determina catástrofe psíquica que leva o ser humano a um determinado sintoma e uma desregulação do seu desenvolvimento durante a vida.
A concepção winnicottiana de uma relação puramente feminina ao seio dá-se no prolongamento da reflexão freudiana sobre o narcisismo primário; já a oposição entre os elementos masculinos puros e femininos puros, mas diz respeito à complementaridade entre dois tipos de relação, em que apenas o primeiro comporta um elemento instintual. Essa oposição nada tem a ver com a oposição entre predicados do sujeito (fálico/castrado) ou entre tipos de comportamento (ativo/passivo).
Winnicott não está falando de gêneros, mas de elementos da personalidade. Elementos puros, diz o autor, só existem na teoria. Na prática clínica, e é isso o que mais lhe interessa, o importante é conhecer o maior ou menor grau de comunicação entre tais elementos.
O elemento masculino puro diz respeito ao erotismo ligado a zonas. Quando fala dele, Winnicott se refere ao “impulso instintivo na relação do bebê com o seio e com o amamentar e, subsequentemente, em relação com todas as experiências que envolvem as principais zonas erógenas e em relação a impulsos e satisfações subsidiárias” (1971, p. 113).
As relações do elemento masculino puro podem ser ativas ou passivas. Ativa e passiva são, portanto, duas faces de uma mesma moeda. Através do elemento masculino, instintual, o indivíduo, em relação, faz (excita, agride, satisfaz ou frustra), e deixa que ajam sobre ele (se deixa excitar, agredir, satisfazer ou frustrar).
A noção de elemento feminino puro é uma aplicação do conceito de objeto subjetivo, desenvolvido por Winnicott a partir dos anos 1960.
Sigmund Freud defendeu as consequências da não castração, Melanie Klein nos apontou as consequências do triunfo da pulsão de morte, Winnicott nos fez pensar sobre a aniquilação do self por falha ambiental.
Freud pensa o homem como um aparelho psíquico regido por forças e energias para uma concepção de natureza humana, impulsionando o ser para continuar vivendo, este ser e não ser tem uma tendência inata. Tanto Freud como Klein, consideram que o homem é ambivalente e impulsionado pelas pulsões nas relações com o objeto de amor e ódio, vivido separado, junto e posteriormente integrado.
Winnicott vai pensar o ser humano no mundo, sendo necessário que primeiro possa ser antes de fazer em termos de comunicação com o mundo, como sinto minha vida real. O ser humano para ele, é dependente do meio, isso implica mudanças na relação com o meio e diversos modos com o ambiente, desde a dependência absoluta, dependência relativa e rumo a independência, sentir-se real.
Para Winnicott, os objetivos do tratamento psicanalítico são agora considerados como a clínica do cuidado com a pessoa e não mais como um tratamento da doença. Ele modificou a concepção de saúde e adoecimento e introduziu o tema de integração e da dependência/interdependência do homem em relação ao ambiente:
- A integração do ser humano
- Concern (capacidade de ter consideração, preocupação, interesse)
- Ajudá-lo a ter uma vida real, pessoal, que vale a pena ser vivida
- Desenvolver a capacidade de estar só
- Se relacionar com a cultura
- Ato criativo, espontaneidade e generosidade
- Capacidade de deprimir-se, elaborar sentimento de culpa
- Desenvolver sua riqueza de personalidade
- Ser no mundo
Em psicanálise e, de modo especial em Winnicott, o valor das teorias está em sua operacionalidade. Segundo ele, seu maior interesse e satisfação era acompanhar os processos de integração do paciente. É aqui que algumas considerações sobre a comunicação entre os elementos masculinos e femininos da personalidade, e sua relação com as patologias do ser, impõem-se.
A falta da mais simples experiência de ser é vivida sob a forma das chamadas angústias inomináveis: a angústia de aniquilamento ou o sentimento de despedaçar-se em queda vertiginosa e infindável, experiências vividas na psicose, nos pesadelos e em momentos psicóticos por que passam pessoas normais. Winnicott nos fala também da perda da integração entre a psique e o soma (corpo), expressa por meio do sentimento de despersonalização (experiência delirante de não habitar seu próprio corpo) ou de distúrbios psicossomáticos.
A ausência da experiência eu sou (sou uma unidade, minhas diversas partes me pertencem, tenho uma membrana que demarca meu interior daquilo que a mim é externo) leva o indivíduo a comunicar-se através de identificações projetivas, que o fazem atribuir a outros intenções, sentimentos ou desejos que são seus.
Temos, finalmente, aqueles cuja dissociação separa um funcionamento mental excessivo das experiências somáticas e afetivas, privando-os da experiência de um si mesmo singular, movido pela espontaneidade do seu próprio gesto; neles predomina o sentimento de vazio, incapazes que são de corresponder a qualquer expectativa; suas realizações, por não estarem baseadas no sentimento de uma identidade pessoal, vêm acompanhadas de sentimentos de futilidade e inutilidade.
A vida de um ser humano não se caracteriza mais, por medos, sentimentos conflitantes, dúvidas, frustrações do que seus aspectos positivos. O essencial é que o homem se sinta vivendo sua própria vida, com responsabilidade por suas ações ou evitações, sinta-se capaz de atribuir o mérito por seu sucesso ou fracasso, mas que tenha uma relação de independência e autonomia.
Para Winnicott, os tipos de organizações psíquicas e de seus sintomas podem ser:
- Não integrados, recém integrados e integrados com pessoas inteiras
- Neuróticos, psicóticos e borderline
- Sintomas psicossomáticos, comportamentos aditivos e antissociais, estão intimamente ligados a falhas dos objetos transicionais, falhas ambientais, o sujeito perdeu a confiabilidade no ambiente continente.
Portanto, para Winnicott, ser a partir de si mesmo, significa saúde mental.
Referências bibliográficas:
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Winnicott, Donald W. 1971: “Os elementos masculinos, feminino expelidos (split-off) encontrados em homens e mulheres”. In: O brincar e a realidade. Rio de Janeiro, Imago, 1975.
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____-1989a: Explorações psicanalíticas D. W. Winnicott. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994.
Marina S. R. Almeida
Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar
Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista
Licenciada no E-Psi pelo Conselho Federal de Psicologia para atendimento de Psicoterapia on-line
CRP 06/41029
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