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O presente artigo tem como objetivo compartilhar algumas reflexões, sobre a conexão entre a globalização, o aumento da violência e o ser humano.

Na realidade, encontramos entre os três elementos alguma forma de interligação, porém é um engano pensar numa forte causalidade entre elas, onde a violência seria conseqüência final.
Somos acostumamos a ir por raciocínios de modelos de explicações causais, e o que é pior geralmente são generalizadas para outras situações, realidades, pessoas, etc…

Um exemplo disso: Um maior consumo de álcool na Alemanha não é a causa de maior acidentes de trânsito no Brasil. Contudo, ambos aumentam com o tempo e com o tempo aumentam a renda mundial que permite consumir mais álcool e comparar mais carros.

A GLOBALIZAÇÃO E SEUS EFEITOS EM NÓS
A globalização trouxe principalmente os progressos (desejáveis) nos meios de comunicação, a melhor circulação de pessoas, de mercadorias, de capitais e opções para todos. Todos se beneficiam com a globalização, entretanto o beneficio não é igual para todos. Quanto maior a estruturação da sociedade maior o benefício, quanto menor for a estruturação maior “prejuízo”. Como conseqüência, encontramos as desigualdades sociais cada vez mais visíveis.

Para minimizar precisamos de uma estruturação social, política, econômica e financeira, o que encontramos como variável interveniente é a velocidade da globalização frente ao desenvolvimento dos setores citados em cada estrutura social.
A globalização não é uma opção de sociedade, é inevitável, é imposta pela própria evolução de mundo, precisamos ter uma visão um pouco mais ampliada para poder entendê-la.
Poucos conseguem perceber as influências da globalização em todos os níveis de nossas vidas: pessoal, familiar, na cidade/estado ou país. Neste novo contexto sócio-econômico-cultural, a informação passa a ter um papel central, constituindo-se atualmente no maior poder de inter-relação existente, tendo inclusive, suplantado o poder econômico e tecnológico.
O poder da informação se faz através de livros, revistas, jornais especializados, TV a cabo em escala mundial e internet – a qual se quadruplicou em um ano e continua crescendo. A informação duplicando-se, em progressão geométrica, a cada 3 a 5 anos, logo se constituirá em um universo esmagador.
A capacidade de saber onde, como, com quem e a forma mais rápida de adquirir informações, analisá-las e aplicá-las adequadamente será o grande diferencial competitivo.
A globalização não vem trazer soluções para os problemas do mundo, contudo podemos ter a esperança de que alguns problemas sejam resolvidos que é muito diferente de esperar por algo mágico, onipotente e onisciente.
A globalização não se propõe a nada, é apenas uma “fatalidade” que deve ser pensada e compreendida para não sermos pegos de surpresa pelas forças de desestruturação. A própria desestruturação pode ser um fator de progresso, para repensarmos a realidade, mas também de violência e sofrimento humano.
Precisamos estar atentos para não achar que a melhor maneira de enfrentar a globalização seja a unificação, a perda de culturas regionais próprias de cada lugar, como a dissolução das características individuais e particulares, ficaríamos sem nossa história, cultura e identidade! Isto é muito sério. Desta forma a humanidade, em sua história já passou por diversas revoluções e sempre se beneficiou dos seus progressos, o que sabemos é que alguns grupos humanos se beneficiaram mais do que outros.
A VIOLÊNCIA, ESPETÁCULO MIDIÁTICO, COM PÚBLICO E TORCIDA ORGANIZADA…
Outro aspecto que precisamos pensar é sobre a violência, que virou espetáculo midiático, com público assíduo e torcida organizada!
A violência é inerente ao ser humano, entre outras coisas é uma forma que o homem utiliza por força exercer controle e procurar introduzir mudanças.
A palavra violência vem do latim vis que significa “força”, também dá origem aos vocábulos “vigor”, “vida” de vis, “vita”, e “vitalidade”. Segundo o psicanalista David Zimerman (2001), explica que a transição de um estado mental de vigor para o de uma violência é a mesma que se processa entre o de uma agressividade sadia para o de uma agressividade destrutiva.
A violência faz parte de nosso cotidiano, e estamos hoje em mais segurança do que em tempos longínquos, embora não pareça.
Ela é o preço que estamos pagando para usufruir alguns benefícios, mas consideramos também que são profundas e abrangentes as causas etiopatogênicas responsáveis pela eclosão da violência da forma atual.
A primeira questão nos remete a responsabilidade, um desafio a cada um de nós, a família, a sociedade e aos órgãos governamentais. Nestes últimos a responsabilidade da segurança pública, justiça social, emprego, saúde física e mental, educação, distribuição de renda, etc..
Podemos nos reportar a vários tipos de violência: violência de natureza sócio-política-econômica, violência moral, violência sexual, violência no ensino, violência na família, além dessas sofremos pressões externas como é o caso da cultura onde o grupo de adolescentes está inserido e é o mais afetado, estando sujeito a modelos estéticos, a mídia, apologia a falsa liberdade, religiões, etc…
E O SER HUMANO NISTO TUDO?
Então quais os fatores que determinariam que um ser humano possa ser mais destrutivo ou criativo?
Uma tentativa de entendermos este mecanismo psíquico, será o de considerar que todo ser humano está vulnerável a forças externas e internas (chamamos em psicanálise de predisposições constitucionais e bio-psico-sociais), consideramos também o estado de angústia do bebê, o desamparo vivido nos primeiros meses de vida, falhas de maternagem, abandonos prematuros dos pais ou de um deles , excesso de estímulos de toda ordem que a psique da criança não tem condições de processar, etc… Dependendo de como foram experimentados na psique, determinarão por toda vida deste ser humano os seus impulsos e como serão canalizados, se mais agressivos, destrutivos ou construtivos.
Enfim, para falar de violência estamos falando também de desamparo, do ser humano, das crianças, dos jovens, dos pais e da sociedade como um todo, portanto é necessário falar de prevenção, e isto deverá ser começado em casa, na família, com os pais.
Os pais contemporâneos não são mais os modelos de outrora, encontramos hoje várias formações de casais que fazem parte do novo cenário familiar Pós-Moderno: casais de homossexuais, mães solteiras, pais solteiros, aumento crescente de casais divorciados, fertilização assistida, barriga de aluguel, banco de sêmen e óvulos, adoções internacionais, etc.
A família atual neste conceito ampliado continua sendo o primeiro grupo de vital importância que o ser humano se relaciona tendo sua função biológica e social.
Segundo a psicanalista Ruth Blay Levisky (2001), lembra que a família atual está modificada, os pais bastante confusos e nos perguntamos se a família está em crise.
Em psicanálise estar em crise nos leva a resignificar conteúdos novos, é um processo de dor e sofrimento, desequilíbrio, leva tempo, até que a mente amadureça e suporte um novo olhar, um novo sentido.
O trabalho com grupos de pais ou grupos de família, tem ajudado muito a dar suporte a estas angústias, ao desamparo, buscam encontrar saídas mais apropriadas para seus problemas, a identificar-se com outras pessoas que passam por situações semelhantes mas mantém a esperança viva.
Violência não se restringe apenas aos assaltos, drogas, transgressões físicas, morais, sociais, etc… mas é uma conseqüência de uma falta, de um vazio, que a família e a sociedade estão colaborando não só para seu crescimento, bem como para sua cristalização.
MUDANÇA DE OLHAR E PENSAR PODEM SER A SAÍDA…
Se não encararmos com seriedade e responsabilidade estes fatos, em busca de pensarmos a amplitude desta situação que nos apresenta, só arrumaremos culpados, ficaremos paralisados, empobrecidos, romperemos os vínculos afetivos, buscaremos isolamentos individuais com uma aparência de independência e bem estar.
Acredito que para buscarmos nosso bem estar precisamos aprender a pensar nossos pensamentos, nossas atitudes violentas, agressivas, amorosas, etc… só depois conseguiremos entender nosso semelhante ao invés de julgá-lo ou buscar explicações causais.
Para sermos um ser humano digno, precisamos de saúde mental, respeito, afeto e paz.

Se começarmos a refletir deste agora, algo mudará em nós!

Bibliografia:

COSTA, Jurandir Freire. Psicanálise, ciência e cultura. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1994.
__________________ Narcisismo em Tempos Sombrios . in BIRMAN, Joel (org.) “Percursos na história da psicanálise”. Rio de Janeiro: Taurus Ed., 1988.

LEVISKY, David Léo (org.) . Adolescência e Violência: ações comunitárias na prevenção. São Paulo: Ed. Casa do psicólogo, 2001.

WINNICOTT, Donald W. Natureza Humana. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1990

____________________Textos Selecionados da Pediatria à Psicanálise. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1994.

___________________ Tudo Começa em casa. São Paulo: Ed. Martins fontes, 1995.

BIRMAN, J .Mal Estar da Atualidade. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1998.

DUPAS, G. Economia Global e Exclusão social. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2000.

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