ENTENDENDO SEU PARCEIRO AUTISTA NO CASAMENTO OU NO NAMORO

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Segundo o Psicólogo Tony Attwood, manter um relacionamento gratificante com um parceiro autista, seja num contexto de namoro ou casamento, pode proporcionar desafios únicos que enriquecem a sua compreensão do amor e da conexão. Embora seu parceiro autista possa inicialmente ter demonstrado intenso interesse, você pode notá-lo buscando mais tempo sozinho ou comunicando suas emoções de maneira diferente.

Nesta postagem, nos aprofundamos em dez aspectos da compreensão do seu parceiro autista, permitindo que seu relacionamento prospere.

1. O valor da solidão

Seu parceiro autista enfrenta desafios nas interações sociais que podem levar à exaustão. A solidão se torna seu meio essencial de recuperação. Certa vez, uma mulher autista descreveu a necessidade de uma hora de solidão para cada hora de envolvimento social. A tensão dos eventos sociais se multiplica com mais pessoas, especialmente certos indivíduos. As conversas com você geralmente influenciam sua capacidade social diária. Envolver-se com amigos e familiares durante a semana ou fim de semana pode resultar em fadiga social avassaladora. A solidão não é apenas uma preferência; é uma estratégia de enfrentamento necessária para prevenir a depressão e o esgotamento. Portanto, o parceiro da pessoa autista precisa apender a negociar estes momentos, de qual o limiar de exposição social que a pessoa autista suporta de socialização sem se desregular.

Respeitar quando a pessoa autista precisa ficar sozinho, podendo ser em seu quarto, ouvindo música, jogando vídeo game, lendo, ou decida fazer caminhadas, trilhas, andar de bicicleta, isso é uma forma da pessoa autista se reconectar consigo mesmo e diminuir o estresse emocional, social e sensorial.

2. Paixão: uma fonte de renovação

Um parceiro autista declarou apropriadamente: “A arte é tão vital quanto o oxigênio para mim”. Isto enfatiza como mergulhar num interesse abrangente não é apenas um passatempo; é um santuário reabastecedor. Numa sociedade que dá ênfase às conversas e à socialização, compreender a sua necessidade de um envolvimento profundo em interesses como trabalho, modelos de trens, geopolítica, música, arte ou motos pode ser um desafio.

Abraçar essa necessidade de foco intenso é um ato genuíno de amor em um relacionamento autista. Quer você se envolva na paixão deles ou explore a sua própria, é essencial abraçar totalmente essa forma de fuga e rejuvenescimento sem culpa. Nutrir esses interesses únicos enriquece sua conexão e cria um ambiente onde ambos os parceiros podem prosperar.

3. Honestidade: uma característica fundamental

A honestidade inabalável do seu parceiro autista é uma força notável que fortalece a base de confiança em seu relacionamento. No entanto, vale a pena reconhecer que há casos em que uma gentil “mentira inocente” pode repercutir melhor em parceiros não autistas.

Considere momentos em que um elogio à sua aparência ou perspectivas poderia aprofundar sua conexão emocional, evitando de uma sinceridade muito objetiva que implicaria numa com falta de cuidado, espeito e gentileza com o parceiro neurotípico. Expressar elogios muitas vezes, fortalece relacionamentos afetivos e respeitosos. Embora sua dedicação à veracidade possa ocasionalmente parecer ofuscar a dinâmica do relacionamento, lembre-se de que sua intenção não é crítica, mas a gentileza com ponderação. O seu compromisso com a honestidade reflete a sua forma única de oferecer apoio e expressar amor, mas não precisa ser rude.

4. Eles podem não ser capazes de falar sobre sentimentos ou sobre o mundo interior

O autismo muitas vezes coincide com uma condição chamada alexitimia, que significa essencialmente falta de palavras para expressar emoções. Quando você pergunta sobre seus sentimentos, sua incapacidade de articulá-los provavelmente decorre de seus desafios em verbalizar e reconhecer, e não de uma relutância em compartilhar. Expressar pensamentos e emoções genuínos é particularmente exigente para um indivíduo autista, devido à alexitimia e às dificuldades de autorreflexão – uma característica do autismo.

Essa dificuldade de autorrevelação pode criar distância emocional no relacionamento, fazendo com que você deseje uma intimidade emocional mais profunda. Compreender estas nuances pode ajudar a promover uma ligação mais forte, apesar das barreiras à discussão dos sentimentos interiores. Muitas vezes, a forma de uma pessoa autista expressar seus sentimentos amorosos é demonstrada em comportamentos de colaboração na vida cotidiana, oferecer informações intelectuais valiosas e resoluções práticas do cotidiano.

5. Amor expresso de maneira diferente

Indivíduos autistas demonstram amor e empatia de maneira diferente, pois exames cerebrais revelaram que quando expressam sentimento de amor e afeto por alguém, áreas diferentes do cérebro são ativadas em relação aos não-autistas. O circuito de empatia do cérebro também funciona de maneira diferente. Embora sintam amor e empatia, transmitir essas emoções pode não estar de acordo com os métodos convencionais, deixando você com desejo de conexão.

O afeto poderia ser demonstrado por meio de ações práticas, como arrumar a casa, organizar suas coisas, facilitar seu cotidiano, fazer gestão financeira, programar uma viagem, oferecer um ambiente que atenda suas necessidades em vez do típico contato visual, expressões verbais ou toque físico.

Abraçar essas demonstrações distintas de afeto aumenta a compreensão e fortalece o seu vínculo.

6. Processamento da Integração Sensorial

Sua consciência da sensibilidade do seu parceiro autista aos ruídos do dia a dia e ao desconforto com iluminação específica é apenas a superfície. A profundidade com que o mundo sensorial os afeta pode ser subestimada. Lidar com o sofrimento causado pela dor e pelo estresse de certas experiências sensoriais comuns consome uma quantidade significativa de sua energia diária, deixando menos disponíveis para o seu relacionamento com o parceiro à noite.

As sensibilidades táteis, a luz, a temperatura, ao olfato sejam hipossensibilidade (muito pouco) ou hipersensibilidade (muito), podem se estender até mesmo no quarto do casal.

Por exemplo, toques leves podem ser insuportáveis ​​ou incômodos, enquanto a pressão profunda pode ser calmante e relaxante.

Reconhecer essas sensibilidades e suas demandas energéticas aumenta sua compreensão e abre caminho para um relacionamento mais atencioso e gentil.

Portanto, é necessário que os parceiros conversem e negociem, para saber o que cada um dos parceiros precisa para sentir-se acolhido afetivamente, como podem se excitar sexualmente e sentir prazer. Explorar as fantasias sexuais e expectativas de cada um dos parceiros é uma das abordagens necessárias para ter uma vida emocional saudável.

7. Navegando na mudança

O autismo muitas vezes traz desafios com mudanças, mesmo em aspectos menores. Seu parceiro autista pode ter mascarado essa característica, mas à medida que sua conexão se aprofunda, você poderá observar o desconforto dele com a variedade e a aversão a surpresas. Entenda que sua confiança na repetição e em rotinas específicas não tem a ver com aborrecimento ou controle, mas sim com um meio de encontrar consolo e administrar as complexidades da vida.

Reconhecer esse aspecto promove a empatia e uma parceria mais harmoniosa.

Se for fazer uma festa ou comemoração, é melhor consultar o parceiro autista sobre isso, e construírem juntos um plano de como irão fazer a comemoração.

Se o parceiro neurotípico deseja um presente ou comemoração é melhor fazer uma lista ou mostrar imagens e dicas objetivas do que espera do parceiro autista e do que você gosta, ao invés de ficar esperando uma surpresa ou assertividade de um presente sem ter oferecido um rol de possibilidades.

8. Reuniões sociais e qualidade em vez de quantidade

As reuniões sociais podem ser um desafio para o seu parceiro autista. Eles podem optar consistentemente por não participar de reuniões com amigos e familiares, gerando sentimentos de ofensa. Durante esses períodos, você pode experimentar uma sensação de isolamento ao socializar.

Navegar pelo contato visual pode ser um desafio complexo para indivíduos autistas, pois envolve sensibilidades sensoriais e demandas cognitivas que diferem das experiências neurotípicas. A citação “Seus olhos me afastaram de sua voz” resume a intrincada luta de equilibrar informações visuais e auditivas durante a comunicação.

É importante compreender que a sua evitação não visa rejeitar os seus entes queridos, mas sim decorre da sua inclinação para interações sociais menos frequentes e mais íntimas. Especialmente com rostos desconhecidos ou grupos grandes, como em festas, podem sentir-se menos motivados por assuntos ou temas de conversas irrelevantes.

A exposição em demasia a contatos sociais pode levar ao excesso do uso de camuflagem social, ou algumas pessoas autistas optam em ficar no grupo social, apenas na condição de um observador calado no grupo. Isso pode ser prejudicial para pessoas autistas, levando a depressão, ansiedade, fadiga social e sobrecarga sensorial, que por consequência aumenta a ansiedade, irritabilidade, dispara gatilhos agressivos e os levam a comportamentos de shutdowns e meltdowns.

Priorizar a qualidade em vez da quantidade na socialização é significativo para eles. Sua compreensão, aceitação e apoio neste assunto podem fortalecer seu vínculo e criar um ambiente mais confortável para a pessoa autista e para o grupo de amigos.

9. As perspectivas diferem devido à neurologia

Ser autista não é uma escolha e certamente não é uma forma inferior de ser ou uma falha de caráter. Ser autista significa que um cérebro incrível funciona de maneira um pouco diferente, especialmente por ser capaz de ler as pessoas e fazer inferências sobre o que elas querem, esperam ou precisam de você de forma rápida e inata.

Quando seu parceiro autista não lê sua comunicação verbal ou não-verbal com precisão, ele não está tentando ser indiferente ou obtuso, está simplesmente perdendo as dicas sociais, emocionais, expressão facial, porque sua neurologia não facilita a leitura delas. Mesmo depois de ter explicado completamente a sua perspectiva, eles ainda podem ter dificuldade em compreendê-la e aceitá-la totalmente.

Um parceiro autista pode, às vezes, parecer extraordinariamente obstinado e egocêntrico em relação a determinados assuntos, e é importante ter em mente que ele não está sendo egoísta, indelicado ou insensível. Ele apenas não entendeu seu ponto de vista, sua expressão facial e suas emoções.

Embora possam surgir desafios na comunicação e na tomada de perspectiva devido a diferenças neurológicas, tanto os indivíduos neurotípicos como os autistas podem trabalhar em conjunto para ajustar estas lacunas, negociando, fazendo acordos saudáveis que possa ser bom para ambos.

Na comunicação, é importante lembrar a responsabilidade partilhada a dupla empatia: compreender como a neurodiversidade desempenha um papel na comunicação e reconhecer que a interação eficaz depende de uma expressão clara de todas as partes e de uma escuta ativa para uma compreensão precisa.

Nem sempre o parceiro neurotípico precisa concordar com o ponto de vista da pessoa autista, mas pode respeitá-lo e ser gentil, o inverso também é verdadeiro, portanto, será necessário descobrir uma negociação entre a dupla. Isso é uma condição civilizatória, respeitar o diferente de mim, isso é dupla empatia.

10. A arte da camuflagem

Seu parceiro autista pode estar escondendo partes de sua identidade e emoções como forma de sobrevivência. Porém, essa camuflagem pode levar à exaustão, diminuição da autoestima, ansiedade e até depressão, distanciando-os do seu eu autêntico. Essa luta pode deixar você e a pessoa autista questionando sua verdadeira essência. Portanto, é muito importante o empoderamento da pessoa autista.

Em meio a esse processo, a irritabilidade e a necessidade de solidão podem se tornar mais comuns. A camuflagem, embora inteligente, requer um equilíbrio cuidadoso. Seu parceiro autista precisa de um ambiente de segurança para se livrar dessas camadas e se reconectar com seu eu genuíno. Ao fornecer essa compreensão e segurança, você desempenha um papel crucial na jornada deles rumo à autenticidade.

Considerações:

  • Seu parceiro autista tem algumas qualidades de personalidade imbatíveis e profundamente amáveis, possivelmente incluindo honestidade, comprometimento, lealdade, mente curiosa, criatividade e um coração compassivo. No entanto, às vezes eles ainda podem deixá-lo irritado, triste frustrado e você ficará se perguntando por que está neste relacionamento.
  • Um cérebro autista é aquele que funciona de maneira diferente e, em adultos autistas verbais, inteligentes, isso pode causar confusão em seus parceiros neurotípicos.
  • Será importante para ambos buscarem ajuda psicoterapêutica com psicólogo especialista em autismo em adultos.
  • Compreender e aceitar o seu parceiro autista da maneira que descrevemos acima pode dar ao seu relacionamento a melhor chance de florescer e ser saudável.
  • Reconhecemos e celebramos as qualidades de ambos os parceiros e apresentamos estratégias comumente encontradas para ajudar a melhorar os relacionamentos neurodiversos.

Fonte: https://attwoodandgarnettevents.com/

A Psicóloga Marina Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista e TDAH em adultos. Realizo psicoterapia online ou presencial para pessoas neurotípicas e neurodiversas.

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2 respostas

    1. Bom dia! Elenice
      Aqui no site temos e-books sobre o tema sexualidade em pessoas autistas, há vários artigos publicados e recomendações de livros sobre autismo em adultos.
      Agradeço seu gentil comentário!!!
      Um abraço carinhoso e inclusivo.

      Att.
      Marina S. R. Almeida
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      Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista
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