ADOLESCENTES NUMA SOCIEDADE SEM PAI E NEM MÃE

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Sabemos que nas transformações da adolescência os jovens buscam novos modelos a serem incorporados para a formação de sua identidade adulta. É um período muito vulnerável e suscetível a influências ambientais, construtivas e destrutivas. Muitos jovens liberam sua impulsividade e se envolvem em acidentes: abuso de drogas, no transito, nas farras, terminando muitas vezes em suicídio e assassinato, que a mídia por sua vez faz virar manchete e explora como produto de consumo, sem se deter na análise crítica das causas conscientes e inconscientes geradoras de violência Há uma violência estrutural da sociedade, que desconsidera a criança, o pobre, o adolescente, o idoso e as minorias, agravadas pelas injustiças sociais.

Violência física e moral ocorrem inclusive na família, quando coerção e humilhação fazem parte dos métodos educativos, deturpando a vida afetiva, intelectual e as opções individuais que cada um necessita fazer para encontrar sua realização.

Não há uma resposta unívoca e uníssona para a pergunta feita anteriormente: Que sociedade estamos oferecendo a nossos filhos?

A globalização, a rapidez das transformações tecnológicas, éticas, morais e culturais estão gerando uma sociedade carente de pai e mãe, agravada pelo enfraquecimento do conceito de família. A pós-modernidade é fruto de um processo sócio-econômico-político-cultural que se tem caracterizado pela individualidade, emancipação, racionalismo e universalidade. Busca-se diminuir as diferenças; quebra-se fronteiras dos preconceitos, desmistifica-se os mitos, as religiões, o coletivo.

O Homem de hoje está mais liberto. Suas conquistas o estão conduzindo à formação de grupos específicos e corporativos, fragmentando a sociedade maior e a cultura, insuficientes para dar conta do conjunto de transformações e necessidades impostas pelos atuais processos de desenvolvimento.

A estabilidade necessária para que se encontrem meios de convivência social, que regem o bem-estar comum, está ameaçada. Esta estabilidade é garantida pelos valores éticos e morais, ancorados no processo histórico e de preservação da memória de cada cultura e de cada povo.

A dialética contemporânea abre caminhos para a introspecção, reflexão, expressão, criatividade, eficiência e racionalização. Concomitantemente, favorece a ação intempestiva, a prevalência do pensamento concreto, do imediatismo, do narcisismo, do ócio, da irracionalidade e da inconseqüência. Estes estados mentais podem resultar em sentimentos de impotência, insegurança, e ambivalência, gerados pelas mudanças rápidas e constantes da sociedade. Criam-se sentimentos de vazio interior (depressão) cada vez mais freqüentes. Populações cada vez mais jovem, sofrem com a desorganização da malha social.

As estatísticas comprovam o aumento de tensão, estresse, violência, doenças psicossomáticas e suicídio entre crianças e adolescentes.

Durante a crise normal da adolescência ocorrem momentos depressivos inerentes ao processo de desenvolvimento. Várias são as perdas que atingem o jovem na busca de sua identidade adulta:

  • sua relação com o corpo infantil invadido pelas transformações biológicas e manifestação dos desejos sexuais e da agressividade.
  • a segurança da relação com os pais da infância. Normalmente atravessam períodos depressivos e de incerteza quanto ao seu futuro. Período sensível e vulnerável a influências externas, aos desejos de viver novos desafios e experimentos, tanto em relação aos seus sentimentos e capacidades quanto ao contato com o universo ao seu redor, “todo ele a ser descoberto e conquistado”.

Se tomarmos a questão das drogas (tabaco, álcool, maconha e outras tantas) que tanto nos preocupa como pais, elas estão ao alcance de todos, em qualquer lugar, até mesmo com anuência de certas autoridades e da sociedade.

A “cervejinha”, o cigarro e o “fininho” (maconha) podem ser comprados e consumidos em qualquer lugar.

A propaganda pesada para consumo de cerveja está centradas para um mercado representado por adolescentes e adultos jovens. Em certas famílias os pais até estimulam o consumo, noutras tentam corrigir nos filhos as suas falhas ou vícios, fazem “vista grossa” ou ainda se contradizem na linha do “faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”. O diálogo sincero, claro e verdadeiro é difícil e doloroso. A tendência para muitos é esquivar-se dele.

É preciso entender que a violência pode estar contida dentro do próprio jovem e se voltar contra ele, na forma de suicídio. Ela também pode ser banalizada ou não identificada como sintoma da patologia social. Daí corre-se o risco, de vê-la (a violência) transformada num valor cultural assimilável pela criança e pelo jovem como forma de ser, via de descarga de tensões, modelo de auto-afirmação ou simplesmente uma atividade lúdica que propicia prazer. Algo que fica próximo dos prazeres perversos, distante da relação amorosa idealizada e almejada na vida adulta, porém nunca plenamente alcançada.

Ao longo das civilizações os rituais caracterizavam momentos críticos de passagem como nascimento, entrada na vida adulta, casamento e morte. No passado, o jovem índio ao atingir a maturidade sexual, orgulhoso de sua condição, e apesar do sofrimento, carregava pesada tora de madeira para com isso alcançar o reconhecimento de si próprio e do seu grupo social. Através dessa prova cheia de temores e coragem, era introduzido e se introduzia na sociedade adulta através dos ritos tradicionais da sua cultura.

O jovem de hoje vive uma grande defasagem entre o início da adolescência e as habilidades intelectuais, afetivas e sociais mínimas e necessárias, a serem por eles desenvolvidas para que possam integrar a comunidade adulta com autonomia, maturidade e independência. Os rituais tornaram-se outros tais como entrar na faculdade, ter um carro, fazer intercâmbio, conseguir um emprego. Para outros possuir um revólver, ascender a um posto superior na hierarquia do tráfico de drogas ou das gangues para serem reconhecidos como capazes e possuidores de poder, autonomia e coragem.

Alguns vivem os ritos de desafio, coragem e transgressão pichando paredes e monumentos ou através de brigas entre gangues rivais. O encontro de trabalho anda difícil, e juntamente com a ociosidade e a desesperança, constituem fatores que baixam a auto-estima, geram violência ou indiferença, com a elevação da incidência de atos inconsequentes.

Vandalismo, baderna, violência, “rachas” de carro praticados através dos adolescentes fazem parte dos rituais não mais coletivos, mas individualizados ou representativos de pequenos grupos, como ocorre dentro de muitas gangues ou bandos que estabelecem seus sistemas de pertinência e de passagem. Outras vezes são gritos de socorro que se perdem na surdes e no anonimato da sociedade.

O adolescente de nossos dias vive sua rebeldia como membro atuante e transformador da sociedade, porém altamente influenciável pela força dos meios formadores de opinião, na qual uma pequena minoria poderosa controla grandes massas.

A televisão comercial, redes sociais e as redes de comunicação são seus grandes representantes. Certos programas e propagandas visam apenas o lucro e revelam falta de compromisso quanto aos impactos psicossociais que acarretam. Enquanto isso, a sociedade complacente assiste à televisão comodamente de suas poltronas, num mundo em que prevalece o Ter e Fazer, em detrimento do Sentir e Pensar.

Esta sociedade tende à fragmentação do tempo, à destruição da memória, das tradições, dos valores éticos, da história, transformando corpo e afetos em produtos de consumo. Como seria construtivo se pudéssemos oferecer escola para todos, criar espaços de laser para a criatividade, esporte, artes, praticar a cidadania, e a solidariedade. Já imaginaram se a juventude “shopping center” encontrasse, além de vitrines com produtos para consumo, lojistas que incentivassem o uso do espaço para que jovens pudessem compartilhar suas experiências, capacidade de liderança, criatividade, trabalho e intercâmbio com jovens de várias classes sociais?

O diálogo familiar, social e global torna-se essencial. Vivemos um esmaecimento das noções de limites entre o público e o privativo, da ética, dos valores que sustentam uma cultura. A mente humana está se mostrando com recursos insuficientes para suportar o conjunto de pressões internas (liberação dos desejos e fantasias inconscientes) e externas.

Estas situações favorecem a produção de estados mentais regressivos, sentimentos de ambivalência, indiferença, impotência e medo.

As pressões externas são representadas por uma parte da mídia que irresponsável e associada a fatores sócio-político-econômico-psicológicos já assinalados, contribui para o estabelecimento de um clima psicossocial cuja resultante é preocupante. Ao banalizar o corpo, a violência, a sexualidade, a vida gera no sujeito um desinvestimento inconsciente do objeto de amor ao qual se está vinculado, com perda do sentimento de solidariedade, transformando o outro num estranho ameaçador.

Lembremos que Moral e Democracia têm suas origens na qualidade das primeiras relações afetivas entre o bebê e seus pais. É através destes primeiros representantes da sociedade, que ocorrerão as primeiras identificações, quando será incorporado na mente infantil em desenvolvimento um conjunto de valores éticos e morais, que, associadas as condições dignas de vida contribuirão para um melhor integração pessoal e comunitária. Na adolescência, falhas primitivas do desenvolvimento dessas relações emergem e contribuem para o aumento da impulsividade e falta de controle emocional do jovem.

É preciso ter em mente que somos todos agentes modificadores e vítimas das ações construtivas e destruidoras reinantes em nossa sociedade. Questões de violência na sociedade atual não dependem apenas de segurança pública, isto é, não basta reprimir ou aniquilar. É preciso investir mais em afeto, educação, resgate da ética além de condições dignas de sobrevivência.

A educação e a prevenção são processos lentos, porém mais econômicos e eficientes em seus resultados. Penso que a inter-relação do sujeito com ele mesmo e sua integração social dependem de um processo que depende de uma ética e de uma estética interna e social, que se organizam em torno de pontos de referência relativamente estáveis, construídos ao longo da história do sujeito e das heranças transmitidas pela cultura.

A ética e a estética afetiva e social habilitam a pessoa ao convívio com seus semelhantes, de modo construtivo para si e para o seu grupo. Porém, é preciso levar em consideração o que Freud nos alertou sobre a dualidade da mente humana. Isto é, existe um antagonismo de sentimentos entre amor e ódio, vida e morte, construção e destruição. Faz parte da natureza humana ter que se aproximar da desordem para reencontrar forças criativas e criadoras de uma nova ordem.

Devemos nos juntar em múltiplas cirandas para que no final se forme uma integração e articulação de seus integrantes, numa ampla rede de comunicação entre aqueles que se interessam pela qualidade da educação e formação da infância e da juventude, integradas à realidade da vida das cidades e do país.

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Marina S. R. Almeida

Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar

Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista

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