As crianças entre os 18 meses e os cinco anos, fazem birras de variadas intensidades e feitios e pelos mais variados motivos, atingindo o seu auge entre os dois e os três anos.
De uma maneira geral, as birras são naturais, saudáveis e inevitáveis fazendo parte do normal desenvolvimento. Longe de ser um sinal de infelicidade é uma forma da criança crescer e adquirir uma visão mais madura acerca do funcionamento do mundo.
Algumas crianças no segundo e terceiro ano de vida têm a tendência para tentar todas as espécies de comportamentos. A birra manifesta-se através de uma descarga explosiva de tensão, manifestada por rubor facial, aumento do ritmo respiratório e cardíaco associado a uma forte agitação corporal. Frequentemente gritam a plenos pulmões e podem deitar-se para o chão. Algumas experimentam a sensação de morder, dar beliscões, arranhar, atirar objetos para o chão, entre outros comportamentos.
A partir do segundo ano de vida a criança adquire várias capacidades e aptidões, começa a andar, a falar sendo um período divertido e excitante. Começa a dar os primeiros passos na exploração da sua independência. Vive num contínuo vaivém, entre os seus desejos e progressos de independência e a sua necessidade de proximidade de segurança com os seus pais. Com a insaciável necessidade de conhecer e explorar o mundo que a rodeia, experimenta em simultâneo uma grande ambivalência interna e, surgem naturalmente as primeiras birras.
As birras não são mais do que um comportamento que reflete uma luta interior “quero ou não quero? Devo ou não devo?”. Na realidade, as birras tal como os acessos de humor do adolescente são sinais da luta para se separar, da luta para definir uma identidade.
Nestas idades, a palavra “não” torna-se numa das favoritas. O negativismo e a teimosia constituem características frequentes e próprias desta faixa etária (mais frequente entre os 18 meses e os 3 anos sensivelmente). Sentem muitas vezes necessidade de explorar os limites de tolerância de todas as pessoas que cuidam dela. Rapidamente aprende a agir e a aproximar-se do pai ou da mãe de maneiras diferentes.
É uma altura em que a criança se torna muito mais afirmativa e, pela primeira vez, começa a não obedecer. Os pais criam regras e os filhos naturalmente testam-nas. As birras são uma forma de descobrir se de fato as regras existem. Quando as crianças nestas idades ficam perturbadas têm tendência para reagir em vez de falar, o que significa que comunicam através do seu comportamento o seu mal-estar, sendo um desafio para os adultos decifrar as suas mensagens.
As birras podem se tornar assustadoras tanto para quem as vive como também para quem as observa. Assim, os pais embaraçados, envergonhados e até assustados são por vezes tentados a fazer de tudo para evitar que as birras aconteçam, ou seja, acabam por ceder aos desejos e caprichos dos seus filhos.
Apesar de existirem vários tipos de birras, são reconhecidas que a maior parte delas são basicamente desencadeadas por duas situações principais:
1 – Existem birras que estão relacionadas com a própria incapacidade da criança em levar uma atividade até ao fim para o qual ainda não está preparada. Quando as crianças estão cansadas, com fome, com sono, ou quando lidam com mudanças de hábitos ou rotinas podem se sentir frustradas e por isso explodir facilmente. A criança, que, por exemplo, ainda não consegue gatinhar pode exibir uma birra por não suportar a frustração de não conseguir obter o objeto que busca. Os comportamentos agressivos como morder, dar pontapés, puxar os cabelos ou atirar objetos para o chão num acesso de fúria, estão habitualmente relacionados a períodos de sobrecarga emocional sendo uma forma de reagir ao estresse perante uma situação nova ou de algum modo especial. Também é frequente este tipo de birras ocorrerem no final do dia ou quando a criança se encontra demasiado cansada ou aborrecida, sendo uma forma de descarregar e descomprimir as emoções acumuladas.
2 – A birra também poderá estar associada ao conflito interno próprio da criança e à batalha para conseguir fazer as coisas à sua maneira. Este tipo de birra acontece quando a criança tenta manipular alguém de modo a obter o que deseja fazendo grande algazarra. Quando a criança insiste e faz uma cena aos berros, para obter, por exemplo, um brinquedo, está a afirmar o seu desejo e vontade.
Existem alguns princípios básicos que ajudam a ultrapassar as birras e a favorecer ao máximo o desenvolvimento e a evolução das crianças.
Há um princípio que serve de fundamento a todos os outros que diz “se aprendermos a observar uma criança, saberemos o que se passa com ela”. Com efeito, as crianças manifestam os seus estados emocionais através do seu comportamento. Na verdade, o seu comportamento é a sua linguagem.
Apesar de algumas birras poderem ser prevenidas (principalmente as do primeiro tipo), outras são inevitáveis, como tal, os pais poderão fazer uso de algumas dicas para controlá-las ou minimizar.
Deixar de fazer as vontades no momento que a criança pede. Ceder resolve o problema no momento imediato, fazendo parar os gritos e outras cenas do gênero. Infelizmente, quanto mais os pais cedem, piores e mais frequentes as birras se tornam. O segredo é não dar a uma criança aquilo que ela quer para acabar com a birra. Para que a criança se sinta compreendida, os pais poderão expressar empatia quando o filho não consegue aquilo que quer (“sei que ficas triste quando não tens logo aquilo que queres…”).
Procurar ignorar a birra. Os pais ao se afastarem e proporcionarem à criança espaço estarão a contribuir para a birra perder a força. Dar espaço à criança para ultrapassar a própria agitação não é sinônimo de abandono. Os esforços externos para fazer cessar a birra apenas contribuirão para prolongá-la. Enquanto os pais estiverem por perto é pouco provável que a criança pare com a birra porque a mensagem que transmitem é “não consegues controlar-te”. Pelo contrário, quando os pais se afastam estão a querer dizer “tu és capaz de te acalmar sozinho”. Importa lembrar que, algumas vezes é pouco seguro deixar uma criança sozinha, como por exemplo, num lugar desconhecido ou num lugar que ponha em risco a sua segurança. Neste caso, é mais prudente afastá-la da situação e avisá-la das consequências práticas do seu comportamento. As consequências devem ser sempre adequadas à idade e cumpridas até ao fim.
Coerência, firmeza e consistência na comunicação dos limites de comportamento e regras impostas. É absolutamente necessário que os pais aprendam a dizer “não” com convicção. A firmeza não é igual a autoritarismo. As regras devem ser explicadas às crianças desde muito cedo, para que lhes seja mais fácil cumpri-las. Obviamente que a exceção confirma a regra e um dia, por exemplo, se a criança estiver doente, essa regra pode ser alterada, tendo o cuidado de explicar os motivos que estiveram na base da alteração. A sensação de segurança de uma criança baseia-se no amor e na autoridade demonstradas pelos pais, sendo que a sua indecisão faz com que a criança se sinta insegura e, essa insegurança é revelada por exemplo através das birras. Quando as crianças se apercebem da falta de firmeza e consistência na comunicação dos pais, depressa assumem atitudes de manipulação e transgressão das regras.
Manter a calma face aos comportamentos mais agressivos. Os pais ao perderem o controle contribuirão para assustar ainda mais a criança, fazendo com que os comportamentos agressivos sejam reforçados e repetidos. A criança que agride como aquela que é agredida necessita ser apoiada e consolada. A criança que agride (por exemplo, mordendo) precisa de ser consolada porque se sente assustada quer pelo seu próprio acto quer pela reação da criança que é mordida. Se os adultos reagirem exageradamente e lhes fizerem críticas pessoais muito duras, as crianças passam a acreditar que são realmente “más”. Estes rótulos podem a vir a se tornar na imagem que a criança tem de si própria, tornando-se numa profecia que se auto realiza. A criança poderá ser pegada ao colo, na tentativa de a ajudar a se acalmar e a se controlar. Deverá ser-lhe explicado que esse comportamento provoca dor, tristeza e que as outras crianças não gostam de ser maltratadas, ensinando-lhe formas positivas de se aproximar dos seus pares de brincadeira. Se os comportamentos agressivos continuarem, a criança poderá ser aproximada de outra, que tenha hábitos idênticos e, que seja da mesma idade e do mesmo tamanho. As crianças aprendem umas com as outras, conseguindo naturalmente se controlar em conjunto.
Reagir à birra de acordo com o temperamento da criança. Nas situações que possa colocar em risco a segurança da criança pelos comportamentos agitados (perto de escadas, por exemplo…) é preciso, por vezes, que a criança seja pegada ao colo, olhada nos olhos e imobilizada com firmeza utilizando o abraço de cesto (prender os braços da criança junto ao corpo) ou o abraço de tesoura (colocar uma perna do adulto por cima das pernas da criança se esta estiver a dar pontapés). Sussurar-lhe algumas palavras meigas ao ouvido ou cantar-lhe a canção preferida, talvez ajude a criança a se autocontrolar. Importa realçar que imobilizar uma criança com o objetivo de parar a birra deverá ser o último recurso a ser utilizado. Nos momentos mais calmos e serenos a criança deve ser abraçada e acarinhada com frequência, para que as birras não venham a se tornar uma forma de a criança pedir contato físico.
Frente unida entre o casal. A criança facilmente capta se o seu comportamento for motivo de tensão ou discórdia entre os pais e, inconscientemente poderá provocar de forma propositada a desarmonia entre os dois, associado ao fascínio em seduzir um deles. As crianças ficam facilmente confusas quando os pais não mantêm uma frente unida na imposição dos limites de conduta. Nestas idades as crianças tendem a ver o mundo em termos absolutos e por isso, para elas existe apenas uma forma certa de fazer as coisas, pelo que não conseguem perceber as divergências entre os pais.
Planejar o dia-a-dia com rotinas. Normalmente as crianças são resistentes a mudanças. As situações novas das quais não sabem o que esperar desencadeiam instabilidade, insegurança e perturbação, mantendo-as em estado de alerta. Logo, as crianças precisam que o seu dia-a-dia tenha uma rotina que seja previsível para se sentirem seguras e facilmente cooperar com os pais.
A sensação de segurança de uma criança baseia-se no amor e na autoridade demonstradas pelos pais. A indecisão dos mesmos faz com que a criança se sinta insegura e essa insegurança repercute-se naturalmente através de problemas comportamentais. Quando se apercebem da falta de firmeza e consistência dos pais depressa assumem atitudes de manipulação e transgressão das regras.
Um segredo sensível é a capacidade dos adultos que cuidam da criança se manter firmes, fazendo que as birras não compensem. As birras podem ser aproveitadas para ensinar e ajudar a criança a encontrar formas de se controlar e tolerar a frustração.
A maior parte das crianças tenta a sua sorte utilizando a manipulação através das birras. Os pais ao saberem lidar com elas, farão com que depressa desapareçam.
Entre em contato comigo e agende uma entrevista:
Marina S. R. Almeida
Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar
Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista
CRP 41029-6
INSTITUTO INCLUSÃO BRASIL
Whatsapp (13) 991773793 ou (13) 34663504
Rua Jacob Emmerich, 365 sala 13 – Centro – São Vicente-SP
CEP 11310-071
marinaalmeida@institutoinclusaobrasil.com.br
www.institutoinclusaobrasil.com.br
https://www.facebook.com/InstitutoInclusaoBrasil/