OS PAIS, OS FILHOS, A ESCOLA NA ERA DA TECNOLOGIA

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Diz o ditado que durante a vida o homem deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Mas um desses objetivos jamais pode ser alcançado sozinho: O FILHO.

Ele nunca é um projeto pessoal, vai ser sempre uma produção do casal.

A criança não nasce pronta, dentro do mundo interno do bebê vai se formando um casal de pais que são espelhados pelos pais reais que cuidam dela.

Já na gravidez sem que percebêssemos criamos um lugar para aquele bebê que chegará, este lugar vai determinar qual o papel que esta criança terá nesta família. Podemos citar: o filho que veio porque foi desejado, o filho que veio para salvar o casamento, o filho que não foi desejado, o filho que veio para separar, o filho que veio para ter sucesso, o filho que veio para cuidar dos pais, o filho que veio para ser o depositário da doença familiar, etc…

Sendo pai ou mãe nos possibilita entendermos melhor nossos próprios pais, ou não, e quando isto acontece realmente não conseguimos nem parar para refletir o que estamos fazendo conosco e o que dirá com nossos filhos.

É lamentável quando isto acontece, e quantas vezes resolvemos nem pensar sobre o assunto que incomoda? Então o caminho mais fácil é sentirmos indiferentes a tudo, as nossas dificuldades, as nossas decepções, nos prendermos a nossas próprias verdades absolutas, aos nossos ressentimentos que acreditamos não ter perdão, aos nossos sentimentos de culpa e assim por diante. Mas o que não sabemos é que esta indiferença que criamos para nos defender da dor, é a mesma que nos paralisa em vida.

A ideia de “o que vier é lucro” não passa de uma boa desculpa para disfarçarmos que sentimos  pena de nós mesmos, por não conseguirmos ir  para frente e olhar para a vida de forma diferente. Esta ideia também é boa para tirar de nossos ombros a responsabilidade do dia-a-dia e de como estamos educando e nos relacionando com as pessoas queridas, nossos filhos e conosco.

Outro jeito que costumamos usar é atribuir as desgraças e infelicidades da vida a alguém ou a algum fato, por exemplo: Deus quis assim, só acontece comigo porque não tem jeito, foi por causa do fulano que estou assim, se eu tivesse dinheiro às coisas seria bem diferente, me falta saúde para enfrentar tudo isto, se eu morasse em outro país seria diferente, etc..

Realmente quem ouve isto parece que as coisas não têm jeito mesmo, só algo muito poderoso poderá modificar a vida desta pessoa, e é claro não será ela.

Quem não se pegou pensando assim?  É assim quando estamos nos sentindo muito frágeis e impotentes frente a uma situação ou problema, deixamos de considerar as saídas ou tentar aguardar um pouco até que as coisas possam se encaixar novamente.

Portanto estou falando de esperança, sem isto morremos em vida e a vida é para ser vivida e compartilhada com alguém.

Por que isto acontece? Ora, voltamos ao começo, e nossos pais? Digo os pais que moram dentro de nós, estão cuidando bem da gente? !

Chegou a hora de refletirmos sobre isto então!

Hoje os pais mudaram, temos vivido principalmente a partir do meio do século, profundas, contínuas e velozes transformações sociais, políticas e culturais. Em especial atenção para a tecnologia, a internet, a era digital, as redes sociais. Entretanto, por mais que essas mudanças tenham sido promovidas e desejadas por nós para propiciar uma vida mais confortável, estamos vivendo resultados indesejáveis.

Destaco três aspectos dessas mudanças:

Em primeiro lugar, a necessidade de atualização e adaptação a esse “novo mundo” globalizado, contemporâneo, com as tecnologias de informação por consequência temos o aumento do índice de analfabetos tecnológicos e funcionais, sejam porque não acompanham o ritmo dos avanços tecnológicos ou porque não estão conseguindo perceber o que acontece. Outro dado é o alto índice de desemprego em todo mundo pela substituição tecnológica mais eficiente e barata, sendo que estes fatores de uma forma ou de outra atingem a todos nós globalmente.

Em segundo lugar, o desejo de termos uma vida mais livre, prazerosa, quase perfeita e feliz, alimenta a ideia de que o ser humano pode dominar e alterar a natureza humana, física e psíquica, citamos o projeto Genoma, clonagem, fertilizações em vitro, todo tipo de cirurgia plástica e de reconstrução a serviço do narcisismo, etc. Por outro lado, com todo o progresso científico, médico continuamos lutando contra a fome e a miséria, as pessoas continuam adoecendo física e mentalmente apesar de todos  os confortos e  “medicações de última geração”.

Em terceiro lugar, o questionamento de todas as formas de autoridade, seja no âmbito político, empresarial, médico, educacional, familiar, etc. É muito difícil nos guiarmos pelas próprias pernas, sermos ético, responsáveis, assumirmos as consequências do caminho escolhido, modificarmos nossa atitude reconhecendo muitas vezes que erramos,quer seja em casa, no trabalho, com os amigos, no nosso voto e com nossos filhos.

Portanto depois disto tudo, os adultos estão se sentindo muito confusos, desorientados e atarefados com tantas mudanças e conflitos para resolverem. Se nós adultos estamos assim, o que dizer das crianças e adolescentes? Afinal, não somos o que eles irão ser amanhã?

O que você vai ser quando crescer? Uma pergunta muito comum antigamente, mas hoje caiu em desuso, porque as crianças e adolescentes não estão querendo crescer.

Crescer para quê? Para virar um adulto aflito, que não sabe conversar afetivamente, que só trabalha (quando tem trabalho senão é um bico aqui ou ali), anda nervoso, de mau humor, adulto é alguém desencantado da vida, é um chato, que também só fica no celular e na internet, que só pensa em consumir as coisas para manter um status social, quando não é alguém, que não se deve confiar porque é perigoso, inseguro, instável e não tem tempo para nada. Infelizmente é assim que muitas crianças e adolescentes estão vendo os adultos, os seus pais.

Apesar de todas as transformações deste século, o homem continua nascendo como um animal mais frágil e vulnerável do planeta. Não pode contar unicamente com seus instintos para viver, ele continua sendo dependente de outro ser humano que cuide dele, que dê afeto, proteção, acolhimento, carinho, segurança, diálogo, o eduque para a vida, transformando-o em um ser humano digno deste nome.

E como as crianças e os adolescentes estão sendo cuidados?

As crianças e os adolescentes estão sendo gerados e criados por adultos que estão com dificuldades de serem bons modelos de espelhos. Não estão conseguindo transmitir a ideia de que a vida vale a pena a ser vivida, que é de suma importância investir no trabalho honesto, digno, ético, solidário, respeitoso, que vale apostar nos nossos sentimentos e sonhos, ter esperança no amanhã.

Em função disso, há uma crise generalizada de autoestima nos adultos, que são expressas das mais diversas formas. Há aqueles que se entorpecem com álcool, com o trabalho, com o futebol, com a maconha, com a fofoca da vizinhança, com a saúde que nunca vai bem, com o bingo, com a violência, com a academia, com o shopping, com as cirurgias plásticas, com o último modelo de carro novo ou com a viagem caríssima do sonho dourado. A lista pode ser enorme, porque de alguma forma estão tentando escapar da realidade a ser enfrentada.

Enquanto isto, as crianças e as adolescentes vão à escola e os professores verificam o tamanho da catástrofe. Além, obviamente de estarem passando pelo mesmo processo em sua vida.

As crianças estão chegando à escola, infelizmente, sem a estruturação necessária básica, que deveriam ter. Os adolescentes então se rebelam enfrentando e agredindo qualquer forma de autoridade, desrespeitam regras e leis, sem falar da agressão ao ambiente escolar e a si próprios se cortando por exemplo, drogando-se, bebendo ou colocando-se cada vez mais em riscos. As dificuldades escolares aparecem nas crianças e nos adolescentes, muitas vezes são sintomas de um lar vivido como desprovido de amor e continência afetiva. É um pedido de socorro; me vejam tem algo que não está sendo aprendido!

Porém para dar afeto, atenção, cuidados, proteção, delicada firmeza, modelo de autoridade que uma criança ou adolescente precisa, é necessário que o adulto tenha razoável estoque destes conteúdos dentro de si, ou seja, amor próprio suficiente, segurança emocional, confiança nos seus valores, compreensão suficiente do mundo contemporâneo ao redor para dividir com os filhos.

Não são exatamente estes conflitos que a escola está vivendo? Estes conteúdos emocionais que os pais não estão conseguindo passar para os filhos são atribuídos para a escola, ou melhor, para o professor. São atribuídas as falhas das figuras parentais, e não só a este profissional de educação, mas a profissionais de saúde, da igreja, etc., papéis que são deles contudo, sentem-se incapazes de exercê-lo.

E o que fazer com isto?

Uma primeira ideia é que todos nós estamos no mesmo barco, e se não nos unirmos não chegaremos à praia, afundaremos no mar. Portanto o medo, a insegurança, o cansaço, a falta de afeto está em todos nós.

O mundo nos seduz, para novas tecnologias e facilidade de acesso, mas nos assombra com consequências inimagináveis ao planeta Terra e a todos nós!

Quantos de vocês já tinham parado para pensar sobre estas mudanças do mundo contemporâneo e que isso tudo estivesse atingindo a todos?

E sobre os nossos medos, as nossas carências, sobre nossa brutalidade e violência com nossos filhos, pois é mais fácil bater, castigar uma criança, do que  refletir que estamos com raiva do chefe que chamou nossa atenção ou que  estou revoltado porque ganho pouco e queria  comprar uma porção de coisas e não pode ser agora!. Em nome da minha frustração, impaciência, impotência uso e abuso da minha autoridade ou da minha irresponsabilidade de pai ou mãe deixando de cuidar dignamente dos meus filhos, já que são meus faço o que quero. Também não é mais bem assim, temos leis e órgãos públicos que protegem as crianças e adolescentes exigem dos pais direitos e deveres. Podemos citar o Estatuto da Criança e do Adolescente, os Conselhos Tutelares, a Promotoria da Infância e da Juventude, etc.

Nós enquanto pais precisamos sentir orgulho pelos nossos filhos, por nossa capacidade de trabalhar honestamente, por dar pequenos confortos com dignidade, por não saber muitas vezes uma porção de coisas e poder perguntar ou dizer que não sabemos ou que vai procurar saber com alguém ou que o próprio filho pode ensinar.

Também costumamos dizer que não temos tempo, que estamos cansados, que não temos jeito para dar abraço e beijo. Porém quem disse que é só assim que se demonstra carinho, cuidado e atenção? Podemos pedir para os nossos filhos brincarem por perto, podemos ver suas lições, almoçar e ou jantar juntos sem estar com o celular na mão, podemos admirar seus progressos, seu crescimento.

Outro fato que acontece muito é aquela frase: “eu não sei conversar com meus filhos”. Os pais podem contar a história da família, mostrar fotos dos parentes. Isto é muito útil para as crianças e adolescentes, para nós adultos também, temos a possibilidade de rever muitas coisas boas da nossa infância e dar novo significado as coisas amargas da vida. Os pais que se orgulham e sentem carinho por sua infância são muito valorizados pelas crianças, além de estarem conhecendo sua origem, seus antepassados, tendo um contato com os pais.

Falar sobre a tradição da família, dos parentes o que faziam, o que gostavam, que comida comiam, seus costumes é um dos referenciais mais poderosos do ser humano. Estes dados ajudam a família a se fortalecer, sentir-se unida, perceber as gerações de antepassados e fazer comparações, também estimula os sentimentos de continuidade, crescimento e desafio para vislumbrar o futuro.

O que os pais precisam saber é que todos nós temos nosso valor, por mais insignificante que isto possa parecer, porque estou falando de nossa autoestima  e nosso autoconceito que anda muito desvalorizado  pela rapidez dos acontecimentos.

Notamos esta onda de violência em todas as camadas sociais, a imoralidade, a falta de ética, os programas de TV usando abusivamente de cenas de sexo, sensacionalismo, notícias tendenciosas para beneficiar alguns, comerciais que induzem ao consumo de determinados produtos e alimentos, o uso das redes sociais não como ferramenta de informação mas como aderência para preencher um vazio existencial. Isto leva a todos nos há um sentimento de enfraquecimento e impotência frente aos acontecimentos.

Sempre nos ensinaram que temos que acertar, o que não contaram é que para acertar precisamos aprender com o erro e não ter medo de errar. Parece fácil? Pois então vamos pensar um pouco sobre essas questões:

Quantos de nós pedimos desculpas quando cometemos um erro? Quem de nós reconhece que ofendeu, falou mal, usou palavrões ou falou demais na hora que estava muito bravo, irritado, perdeu a cabeça e fez bobagem? Quem de nós acha que se nosso filho apanhou do amigo na escola ou na rua e deve resolver o problema dando outro tapa? E se alguém de nós achasse uma carteira com dinheiro, um objeto devolveria? Procuraria achar o dono? Quem de nós acha que sempre é bom dar um jeitinho de levar vantagem em tudo? Qual seria o nosso preço para realizar algo ilícito? Qual é o nosso limite de tolerância com nossos filhos ? Quantas vezes nós escolhemos atender uma necessidade nossa negligenciando a dos nossos filhos? Quantas vezes atendemos as necessidades dos nossos filhos e quase nunca a nossa? Quantas vezes nós assistimos a um programa de TV perto dos nossos filhos e eles quando são mais corajosos, fazem perguntas e  nós deixamos nossos filhos sem resposta  porque também não sabemos a resposta? Quantos de nós nos queixamos dos nossos filhos que não nos respeitam, que se vestem de um jeito impróprio, que não nos ouvem? E nós não estamos fazendo isto com eles? Quantos de nós ficamos preocupados com nossos filhos de se contaminarem com a AIDS?  E a gravidez precoce? Temos conversado sobre estes assuntos com nossos filhos, ou irão aprender na rua, se tiver sorte na escola, nos buscadores do google? E sobre drogas, nós estamos conversamos sobre isto? Hoje temos vários tipos de substâncias que viciam, desde xaropes infantis, como bebidas energéticas, que são compradas facilmente ou pela internet!

Seguiriam outras questões, mas vamos parar por aqui, porque acredito que foi suficiente para refletirmos vários valores e posturas que temos constantemente.

Pois bem, a saída é começarmos a questionar tudo isto, um exemplo disto é o que estamos fazendo agora, pensando sobre estes assuntos.Todos notaram que não é nada fácil parar para  pensar sobre estas perguntas que  provocam em nós muita angústia e ainda  exige de nós  respostas apropriadas a cada situação. O que podemos concluir e aprender com isto?

Precisamos nos unir com alguém para discutirmos tanta coisa. E é aí que entra o papel da escola. Precisamos transformá-la em nossa aliada e não num depósito dos nossos problemas. Por exemplo, podemos solicitar que a escola crie cursos, oficinas, palestras com profissionais, que as  reuniões de pais sirvam também  para discutirmos  temas polêmicos ou novidades da ciência , e não só o desempenho dos nossos  filhos, ouvir  reclamações, pedir a colaboração para APM, etc., não desqualifico estes avisos,  mas acredito que podemos conviver com as duas propostas e  com certeza a carga de problemas e conflitos escolares diminuirão.

O que mais ouvimos hoje em dia é a falta de limites dos pais com os filhos e por conseqüência a agressividade, a violência, o que está acontecendo? Se considerarmos que os pais sentem-se muito culpados por estarem fora de casa por muitas horas e que a vida que levam não é uma maravilha, já é um bom começo. Normalmente agimos por compensação de nossos sentimentos, precisamos reconhecer que o mínimo que ficamos com os filhos deverá ser para cuidar e educar mesmo que isto pareça firmeza demais, pois só parece porque é necessário.

A violência está sendo gerada por vários fatores sociais, econômicos, culturais e emocionais sem dúvida, mas se perdermos a noção do que é ser tratado bem, com respeito, com diálogo, com humor, com amor, com ética, realmente só nos resta agir pela impulsividade, pela crueldade, pela vantagem, pela vingança…  A ordem neste momento é o diálogo, é permitir que nossos filhos brinquem  de bandido-moçinho, polícia-ladrão, que possam elaborar regras e leis, quem é do bem e do mal, através das brincadeiras  tudo isto é possível sem machucar ninguém . O ser humano é o único animal que precisa aprender a canalizar sua agressividade de forma adequada e criativa. Os adolescentes questionam isto o tempo todo, porque estão carentes por seus pais reconhecerem, que vale a pena ser honesto, digno, ter respeito, etc… No momento a sociedade oferece poucos modelos identificatórios bons.

O que sabemos em Psicologia é que o ser humano guarda sempre dentro de si a emoção mais forte, portanto temos que ter cuidado ao repreendermos nossos filhos com castigos, gritos, ameaças, chantagens, surras, comparações, humilhações. Se isto estiver acontecendo conosco, indica que algo vai mal na educação de nossos filhos. A grossura deseduca porque fica a dor. Temos sempre que começarmos por nós mesmos questionando porque estamos agindo assim, porque estamos perdendo a autoridade, porque estou cedendo tanto, geralmente encontramos as respostas em nós mesmos, às vezes temos filhos difíceis, porém  “é o maior que cuida do menor”.

Qualquer um sempre tem algo para dividir, ensinar, compartilhar, precisamos aprender a conviver com a diversidade de valores, crenças, raças, e estamos aprendendo isto agora, esta é uma das vantagens do progresso, à necessidade de nos unirmos, de nos conscientizar que somos agentes de mudança e não mero espectador dos acontecimentos.

A felicidade dos nossos filhos geralmente inclui também a alegria dos pais. Portanto a melhor saída é caminhar próximo dos filhos, pois só assim todos vão chegar ao mesmo objetivo.

SUGESTÕES PARA LEITURA:

“Educar Sem Culpa” Tânia Zagury  –  Ed. Record.

“Sem padecer no Paraíso” Tânia Zagury  –  Ed. Record.

“A Auto-Estima do Seu Filho” Dorothy C. Briggs  –  Ed. Martins Fontes.

“Seja Feliz Meu filho” Içami Tiba  –  Ed. Gente.

Entre em contato comigo e agende uma entrevista:

Marina S. R. Almeida

Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar

Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista

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