NATAL E ANO NOVO MANEJOS PARA LIDAR COM SOBRECARGAS SENSORIAS

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Este artigo se propõe a ajudar familiares, pais, pessoas com transtorno do espectro autista, pessoas ansiosas, pessoas epiléticas e pessoas sensíveis a sobrecargas sensoriais.

A época festiva do Natal e do Ano Novo podem ser desafiadoras pela sobrecarga de estímulos ambientais, isso pode ser um gatilho para desorganização comportamental para muitas pessoas e especialmente as crianças autistas que são sensíveis a sobrecargas sensoriais (visuais, auditivas, tácteis, olfativas, cinestésicas).

As minhas orientações são baseadas em minha experiência como Psicóloga Clínica/Escolar e Consultora em Educação Inclusiva, também são baseadas na Ambitious about Autism e National Autistic Society, que produziram seus próprios guidelines para auxiliarem as pessoas com autismo, e suas famílias, a lidarem com a época do Natal.

Geralmente, todo nosso ambiente se modifica a partir do final de novembro a dezembro, indicando o início das épocas festivas do Natal e Ano Novo. Decorações coloridas, luzes, músicas, bonecos gigantes, pessoas fantasiadas de Papai Noel, sons com anúncios de ofertas, placas, promoções de brinquedos, um número maior de pessoas circulando por toda cidade, cheiros desconhecidos, lojas lotadas e tantos outros estímulos.

Em casa também o ambiente começa a se modificar, desde a decoração da casa, planejamento para a Festa de Natal e Ano Novo; as rotinas normais são abandonadas e os passeios significam lidar com multidões de pessoas, luzes, barulhos e cheiros estranhos.

ORIENTAÇÕES QUE PODEM AJUDAR NO NATAL E ANO NOVO:

1.Organização e antecedência

Previsibilidade temporal: fazer um calendário em papel sulfite e colar na geladeira ou na parede, coloque figuras/imagens representando cada dia, as tarefas. Divida o calendário em partes (manhã, hora do almoço, tarde e noite) com o objetivo de organizar uma previsão gradativa, do que será feito, das mudanças, das tarefas que serão realizadas, dos dias até chegar à data do evento de Natal.

Utilize modelos de calendários utilizados nos métodos TEACCH, ABA ou PECS; você encontrará várias sugestões destes modelos em muitos sites.

Reserve um tempo para seus filhos, e converse sobre os preparativos do Natal nesta época do ano, apresente o calendário com as figurinhas que você fez, explicando sobre que cada dia pode haver mudanças, mas temos a possibilidade de um planejamento, mas que ele vai precisar entender aos poucos para não ficar muito estressado e bravo.

2.Oportunidade para desenvolver habilidades sociais e emocionais

Nem tudo é tão ruim e desagradável nesta época. Aproveite o Natal e Ano Novo como uma oportunidade de ensinar as habilidades sociais e emocionais a seu filho. Você pode estimular a linguagem cordial e interação social recíproca, oferecer brinquedos ou jogos que seu filho possa brincar com outras crianças, do que apenas isolado, combine tarefas que ele possa fazer no dia de Natal (como oferecer guardanapos, ajudar a colocar os talheres na mesa, etc).

Ensine as regras sociais, ajude seu filho a dar presentes, pensar nas necessidades de outras pessoas, desenvolver empatia, solidariedade, gratidão, agradecer quando receber um presente mesmo que não goste, ser gentil e prestativo com os afazeres da casa no preparo das tarefas do cotidiano.

3.Manejo dos estímulos em casa

Decore a casa gradualmente. Não coloque enfeites quando seu filho estiver dormindo, se possível, envolva-o, procure utilizar enfeites e luzes piscando com moderação. Procure introduzir mudanças em seu ambiente gradualmente, começando com as luzes de Natal para brincadeiras sensoriais (supervisionadas), cuidado com os objetos que podem quebrar ou machucar a criança, procure enfeites de plástico.

Mantenha uma rotina básica previsível, o café da manhã e a hora de dormir habituais do seu filho, isso pode dar uma sensação de conforto e previsibilidade durante uma temporada de festas, férias e imprevisibilidades.

4.Zona de refúgio ou neutra

Crie uma zona de refúgio ou neutra em casa, pode ser o próprio quarto da criança ou um cantinho sem estímulos de Natal, mas que tenha objetos conhecidos da criança e almofadas confortáveis, para que a criança possa ter uma área confortável para sentir-se segura e conseguir se acalmar.

Você também pode criar uma cestinha com objetos sensoriais calmantes para seu filho, na internet tem várias sugestões para serem confeccionadas em casa.

5.Novos cheiros

Você pode utilizar massinhas de modelar, faça pequenas bolinhas e coloque essências de cheiros diferentes como por exemplo de gengibre, pimenta, alho, flores, ervas, etc. Apresente as bolinhas olfativas para que seu filho possa cheirá-las. Isso ajudará seu filho a aproximar-se de cheiros novos, mas não é para dar para brincar. Este manejo é apenas uma aproximação sensorial, caso seu filho tenha muitos problemas com sensibilidade olfativa. Depois pode se desfazer das bolinhas olfativas.

Geralmente as pessoas usam muitos perfumes em épocas festivas, além de todo o cheiro de vários tipos de alimentos, por isso é importante seu filho conhecer alguns cheiros diferentes com antecedência, para não ficar com náuseas ou enjoado. Também ajuda a você saber o que pode ser muito desconfortável para seu filho.

6.Preparando a família

Se sua família e os amigos estão sempre com dúvidas sobre os presentes de Natal que deverão dar para seu filho, envie um link de um site de brinquedos educativos ou peça dinheiro que você pode juntar para comprar aquele brinquedo mais caro.

Também é importante explicar para a família sobre a sobrecarga sensorial que seu filho possa ter, e quando darem um presente é importante colocar a imagem do presente como uma etiqueta por fora, isso diminui a ansiedade.

Se você for passar o Natal em outra casa, prepare uma mochila de objetos de conforto com objetos que seu filho acha reconfortante ou gosta de brincar (carrinhos de brinquedo, um animalzinho de plástico ou de pelúcia, um CD e um CD player ou alguns livros, joguinhos de montar). Evite oferecer apenas, celular e tablet para ele ficar isolado e quieto.

Não esqueça de reservar uma zona de refúgio sensorial, para que ele possa ir e se acalmar caso fique muito ansioso, na casa aonde irão passar as festividades do Natal.

Faça uma caixa para os familiares colocarem os presentes, evitando o constrangimento de precisar abrir os presentes, que porventura seu filho possa não gostar e ficar estressado. Coloque etiqueta nos presentes assim ficará mais fácil saber quem presenteou seu filho e se há possibilidade de troca. Ele poderá ir abrindo os presentes devagarinho, dois ou três presentes a cada dia. Se puderem colocar uma imagem por fora do presente para que saiba o que, isso ajuda muito.

Caso sua família seja numerosa ou costumam fazer muitos barulhos, como voz alta, som ligado, TV, tudo ao mesmo tempo, se gostam de ver fogos de artificio, ou soltar fogos de artificio, é melhor que seu filho aprenda a usar um protetor de ouvidos (abafadores de sons) e procure levá-lo para uma zona de refúgio.

Existem excelentes protetores auriculares e fones de ouvidos na internet (abafadores antirruídos, noise ear protectors).

7.Use histórias sociais

Faça uma história social, para explicar para seu filho o que as pessoas costumam fazer quando se encontram no dia do Natal, como por exemplo, ficam conversando, riem em voz alta, são engraçadas, podem dar presentes que nem sempre gostamos, comem muito, bebem, mas que pode ser muito divertido.

Você também pode planejar quais alimentos seu filho prefere comer na ceia de Natal. Evite surpresas desagradáveis, como querer que ele adquira um novo hábito alimentar ou prove comidas diferentes.

Há vários modelos de Histórias Sociais sobre o Natal em sites na internet, mas você poderá criar a sua personalizada com os aplicativos de histórias sociais.

8.Segurança de seu filho nas lojas

Sabemos que 50% das crianças com autismo fogem da segurança dos pais quando estão em lojas, shoppings; você pode colocar em seu filho uma pulseira de identificação (com nome e telefone de contatos) ou um dispositivo de rastreamento para usar em seu celular e no celular de seu filho.

Evite surpresas, por exemplo, não leve seu filho às compras de última hora ou apressá-lo em uma festa. Mudanças na rotina podem ser difíceis para crianças com autismo, procure informá-los sobre seus planos, tente colocar uma programação visual, como fotos ou um calendário na parede, se for algo imprevisível, tente mostrar através de figuras que algo aconteceu e precisou fazer diferente do previsto.

Caso aconteça uma sobrecarga sensorial com seu filho no shopping, é melhor tirá-lo da situação e ir para uma zona de refúgio para aclamá-lo.

9.Medo do Papai Noel

Prepare seu filho mostrando fotos do Papai Noel, caso ele tenha medo de pessoas fantasiadas, ou talvez a visita do Papai Noel em sua casa possa ser adaptada, por exemplo o Papai Noel vai deixar os presentes quando você for dormir ou na casa de um parente.

No shopping não crie uma situação para que seu filho vá sentar-se no colo do Papai Noel para tirar uma foto, aos poucos o medo pode passar, melhor não forçar muito a situação.

10.Dia do Natal e Ano Novo

Discuta com antecedência qual será a programação do dia de Natal e Ano Novo, utilize as histórias sociais para que ele saiba qual será a ordem dos eventos. Por exemplo, quando abrirão os presentes? Quando serão as refeições? Que comida será servida? A família vem nos visitar? Iremos de carro para a casa da vovó? A família vem para nossa casa? O Papai Noel virá em casa? Como deverá responder quando ganhar um presente? Haverá fogos de artificios? O que fazer se eu ficar irritado, nervoso?

Muitas crianças com autismo também gostam do Natal, nestes casos apenas alguns ajustes poderão ser necessários.

Lembre-se: Devemos construir estratégias de enfrentamento para as mudanças ambientais, de rotinas e sobrecargas sensoriais, mas com moderação. Se protegermos em demasia com rotinas rígidas por muito tempo isso também não ajudará a criança autista avançar em suas habilidades e flexibilidade mental. O autismo é para a vida toda, e as crianças autistas precisam desenvolver habilidades para a vida, não poderão construí-las se estiverem excessivamente protegidas.

As orientações e manejos aqui descritos poderão ser úteis para algumas famílias, pais, pessoas e crianças, mas consideramos a neurodiversidade, cada ser humano é diferente e único, então o que funcionará para um poderá não servir para outro.

Marina S. R. Almeida

Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar

Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista

Licenciada no E-Psi pelo Conselho Federal de Psicologia para atendimento de Psicoterapia on-line

CRP 06/41029

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