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Segundo os psicólogos Professor Tony Attwood e Dra. Michelle Garnett, os adolescentes típicos geralmente ficam entusiasmados em ir além da amizade e experimentar o ‘jogo do namoro’. Eles estão explorando sua nova consciência sexual, quem consideram atraente e quem se sente atraído por eles. Suas experiências românticas e sensuais tornam-se um tópico importante de conversa com conselhos de colegas sobre as “regras” do jogo do namoro. 

Nossa experiência clínica sugere que este pode não ser o caso dos adolescentes autistas. Eles podem demorar vários anos para se interessar por um relacionamento romântico e têm dificuldade em entrar em sintonia com o interesse de seus colegas em namorar. Eles também estão frequentemente isolados socialmente e podem não ter um círculo de amigos que discuta e divulgue informações sobre namoro e sexualidade.

Para participar do jogo do namoro, é importante ler a comunicação não verbal sutil que indica atração mútua e explorar as expectativas um do outro em um relacionamento amoroso. 

Adolescentes típicos entendem as convenções de namoro por intuição, observação e discussão com seus pares. Ao namorar, ambos os parceiros progridem ao longo do continuum do relacionamento em um ritmo reciprocamente acordado e apreciado mutuamente. Os adolescentes típicos têm uma experiência considerável com muitas amizades, desenvolvendo estratégias de gestão de conflitos e a arte do compromisso. Eles também sabem quanto tempo passar juntos e se comunicar através das redes sociais.

Os adolescentes autistas muitas vezes necessitam de orientação e apoio em cada uma destas dimensões:

LENDO A LINGUAGEM CORPORAL

Há muitas maneiras sutis pelas quais a linguagem corporal pode indicar interesse por alguém, como inclinar a cabeça para um lado, o que significa que estou ouvindo, balançar a cabeça para indicar concordância ou aprovação, sorrir para indicar que estou feliz com a conversa e olhar para o outro. rosto da pessoa, especialmente os olhos para ler os sentimentos da pessoa. 

Existem outras maneiras de saber se alguém está interessado ou gosta de alguém, como se esforçar para iniciar uma conversa, querer sentar-se junto e muitas vezes elogiar a pessoa de quem gosta. Também é importante saber quando a linguagem corporal expressa desinteresse, como desviar o olhar com frequência, evitar contato visual e uma postura corporal “fechada” e expressão facial plana.

Uma característica dos adolescentes autistas é a dificuldade de ler com precisão as intenções e personalidades dos seus pares. O ato de bondade de alguém pode ser interpretado como significando mais do que o pretendido. Algumas pessoas frequentemente mantêm contato durante uma conversa devido à sua cultura, o que pode não ser um sinal de busca por um relacionamento romântico. Os adolescentes típicos geralmente têm amigos que podem consultar sobre as intenções de um potencial parceiro de namoro.

ATRAÇÃO

É importante explorar quais aspectos da personalidade, habilidades e aparência são atraentes ao procurar alguém para namorar. Existem diferenças no que os rapazes e as raparigas adolescentes podem procurar. Existe um estereótipo geral de que as meninas podem dar maior ênfase aos atributos de personalidade e habilidades e os meninos aos atributos físicos. Quando discutimos a atração com adolescentes autistas, descobrimos que atributos como intelecto, ser aceito e compreendido, senso de humor e interesses semelhantes foram classificados como mais importantes do que atributos físicos, independentemente do gênero.

PEDIR UM ENCONTRO A ALGUÉM

Um adolescente autista pode ensaiar e precisar de orientação sobre como convidar alguém para sair ou responder a um convite para sair. Eles precisam considerar onde será a data e quem também poderá estar lá. Adolescentes autistas podem ser ingênuos, confiantes e inconscientes de estarem em uma situação potencialmente de risco.

Há também aspectos sobre o que vestir em um encontro, temas de conversa e saber se o encontro é mutuamente agradável. Planejar cada uma delas com antecedência com o adolescente pode ser extremamente útil para ele, tanto para diminuir a ansiedade quanto para aumentar a probabilidade de o encontro ser um sucesso.

O DESENVOLVIMENTO DE UM RELACIONAMENTO ROMÂNTICO

Um relacionamento romântico pode evoluir para a revelação de pensamentos, emoções e experiências mais profundas e pessoais. Alguns adolescentes autistas podem ter alexitimia, que é a dificuldade de revelar e explicar pensamentos e emoções interiores através da fala. O parceiro romântico pode estar preocupado com o fato de a autorrevelação não ter o mesmo grau de profundidade e reciprocidade.

O “equilíbrio” acordado entre toque, afeto e experiências sensuais pode ser um problema. Um adolescente autista pode precisar de orientação sobre esses aspectos de um relacionamento amoroso, pois uma característica do autismo pode ser uma sensibilidade a experiências táteis, especialmente aquelas que podem ocorrer com gestos de afeto e podem se estender a experiências sensuais e sexuais. (Gray, Kirby e Holmes 2021)

Há também o problema potencial de ler os sinais e o contexto quando o parceiro típico antecipa gestos e palavras de carinho e compaixão. Será necessária uma comunicação aberta e compreensão mútua.

Também pode haver uma questão de reconhecimento da resposta sexual humana para ambos os parceiros e a educação em relação à sexualidade provavelmente será necessária, e é melhor tratada individualmente (Attwood, 2008; Dekker et al 2017; Hartman 2014; Henault 2006 Visser 2017).

À medida que o relacionamento avança, pode haver preocupações em relação à quantidade de tempo que passamos juntos e à comunicação nas redes sociais. Existe a possibilidade de o entusiasmo de um parceiro ser percebido como demasiado intrusivo e intenso, com o risco de “esgotar o acolhimento”. A orientação de colegas e pais pode ser muito útil.

A EXPERIÊNCIA DO AMOR

Uma característica do autismo é a dificuldade de perceber e regular as emoções. Clinicamente tendemos a focar em sentimentos de ansiedade, tristeza e raiva, mas o amor é um sentimento. 

Muitas estratégias se aplicam a adolescentes autistas que embarcam no jogo do namoro, com adaptação adequada à idade, que inclui expressões de amor que são percebidas como inadequadas ou muito intensas, como acusações de perseguição.

Um adolescente autista também pode experimentar altos níveis de ansiedade ao conhecer e estar com uma pessoa por quem tem fortes sentimentos de afeto e ruminar sobre seu desempenho social/romântico. Eles podem precisar de orientação para lidar com a emoção do amor e da ansiedade.

Saber que o relacionamento está indo bem ou não

Há sinais de que o relacionamento está indo bem, como ambos os parceiros ficarem felizes em se verem, terem um interesse genuíno nas experiências, pensamentos e sentimentos um do outro, sorrirem, rirem e se divertirem juntos, sentindo-se livres para serem o que são naturalmente. e sentindo-se seguro e relaxado.

Há também a questão de conhecer os sinais de que o relacionamento não vai bem. Esses sinais negativos podem ser o oposto dos sinais positivos descritos acima, como ser crítico e encontrar falhas. Descobrimos que outro sinal é um dos parceiros ser possessivo ou controlador.

Os relacionamentos românticos entre adolescentes geralmente têm um prazo de validade e podem durar de dias a meses e, ocasionalmente, anos. Os adolescentes podem vivenciar diversas vezes o término de um relacionamento; às vezes a escolha é deles e às vezes não. 

Existem muitas maneiras de terminar um relacionamento; se uma pessoa autista tomar essa decisão, ela precisará de orientação sobre como fazer isso de maneira adequada. Se a decisão vier do parceiro romântico, eles experimentarão uma rejeição que pode lembrar a rejeição de amizades ou relacionamentos românticos anteriores. Será necessário haver tempo e apoio para a recuperação, para seguir em frente e não ruminar sobre o relacionamento, e para reconhecer o que foi aprendido sobre o jogo do namoro com o relacionamento.

A Psicóloga Marina S. R. Almeida publicou dois E-books que fazem parte da Coleção Neurodiversidade:

  • Sexualidade no Transtorno do Espectro Autista – Fase Adolescente – Volume 4
  • Sexualidade no Transtorno do Espectro Autista – Fase Adulta – Volume 5
  • Os E-books estão à venda aqui no site do Instituto Inclusão Brasil.

Referências:

Attwood S. (2008) Fazendo sentido do sexo: um guia direto para puberdade, sexo e relacionamentos para pessoas com síndrome de Asperger. Editora Jessica Kingsley

Attwood e Garnett (2013) De Like to Love Jessica Kingsley Publishers

Dekker et al (2015) Jornal de Autismo e Transtornos do Desenvolvimento 45 (6)

Gray, Kirby e Holmes (2021) Autismo na idade adulta

Hartman D. (2014) Educação em sexualidade e relacionamento para crianças e adolescentes com transtornos do espectro do autismo Jessica Kingsley Publishers

Henault I. (2006) Síndrome de Asperger e Sexualidade. Editores Jessica Kingsley.

Post et al (2014) Jornal de Autismo e Transtornos do Desenvolvimento 44:11

Uhlenkamp (2009) O Guia de Namoro para Adolescentes com Síndrome de Asperger Autismo Asperger Publishing Company

Visser, K et al., (2017) Um ensaio clínico randomizado para examinar os efeitos do programa de treinamento psicossexual Tackling Teenage para adolescentes com Transtorno do Espectro do Autismo. Jornal de Psicologia Infantil e Psiquiatria 58:7, (2017) pp 840-850

A Psicóloga Marina da Silveira Rodrigues Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista e TDAH em homens e mulheres. Realizo psicoterapia online ou presencial para pessoas neurotípicas e neurodiversas.

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2 respostas

    1. Boa tarde! Luca
      Agradeço seu gentil comentário!!!
      Um abraço carinhoso e inclusivo.

      Att.
      Marina S. R. Almeida
      Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar
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