A METÁFORA DO ESPELHO DO ROSTO MATERNO

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A metáfora do espelho do rosto materno reveste um papel de destaque e uma função decisiva no processo da constituição do self da criança. Refletir sobre a importância do espelho do rosto materno, bem como avaliar as vicissitudes de suas metamorfoses neste processo, é determinante para o bom desenvolvimento dos filhos.

A fase de imitação é saudável, até que a própria menina possa construir sua própria identidade e ser ela mesma, dentro de suas necessidades e desejos.

Hoje vemos cada vez mais a precocidade das meninas se tornarem adolescentes e pseudo adultas, pulando etapas importantes do desenvolvimento da personalidade.

A sociedade contemporânea é muito apoiada pela mídia e em valores consumistas levam as meninas a adquirem um super consumo de maquiagens, tinturas de cabelo, esmaltes, bijuterias, lentes de contato, roupas, até mesmo o controle do corpo para ficarem magras para se identificarem com os modelos da moda anoréxica.

Notamos que a aquisição destes produtos não se restringe a uma aquisição de um esmalte, uma bijuteria, mas se anseia pelo exagero, precisa-se ter uma coleção disto tudo com suas marcas famosas que dão a elas uma fantasia onipotente de status social, de serem vistas e de terem importância para os outros. O espelho inverte-se para fora, e passa ser um espelho para que os outros possam me ver.

Há uma contradição muito séria entre a estética e o desejo. Enquanto a estética é manter o corpo magro anoréxico ou bulímico, como um corpo infantil que não pode crescer. Por outro lado a maquiagem, roupas, tinturas a fazem parecer mais adultas e sedutoras. Encontramos uma dicotomia entre ser e aparecer uma imagem daquilo que não se é de fato, um simulacro de um falso ser significado pelo coletivo, pelo outro, pelo o que o social espera de mim. Um mundo jovem construído com estruturas frágeis, aparentes e vazias de significação de identidade real.

A dimensão entre o saudável e o patológico é quando esta menina só vive para isso, para o salão de beleza, para os cosméticos, para imagem, para as roupas, para os selfies nas redes sociais, sem poder notar outras necessidades afetivas da sua subjetividade, como por exemplo, prioridade em estudar, ter amigos próximos e íntimos, construir valores éticos e morais, ter um projeto de futuro real.

A mãe quer sempre ver a filha melhorar, seja na aparência, seja nas decisões importantes da vida. A filha, por outro lado, quer ser vista como perfeita. Como as expectativas são distintas, uma acredita que está dando uma demonstração de afeto ao fazer comentários que a outra vê como críticas. Mas, podemos ver mães que apoiam e também fazem o mesmo, se unem numa infantilização vazia, como irmãs, amigas e a relação mãe-filha se esvazia de autoridade, respeito e modelo de organização psíquica.

Sim sem dúvida, a sexualização precoce nada mais é do que a condição de colocar o ser humano que está em desenvolvimento, se humanizando ainda, tentando aprender a dominar seus próprios impulsos agressivos e libidinais, numa condição aonde se investe somente nas condições libidinais, de sedução, erotismo, atração, estética corpórea. Valoriza-se somente o investimento no corpo do que nos afetos, nos valores e na autoestima.

Mães e filhas podem competir para ver quem é a mais atraente, a mais bem-sucedida nas investidas sexuais e sedutoras, a mais bem vestida. A mãe pode sentir inveja de ver a filha ter oportunidades que ela própria não conquistou. Também pode acontecer de a filha sentir que não está obtendo realizações à altura das conquistadas pela mãe. Isso ocorre em muitos aspectos, da forma de se vestir à maneira de educar os filhos.

Estamos numa cultura hedonista, consumista, mas o que sabemos de fato, é que os pais gostariam que seus filhos tivessem “todas as perfeições” possíveis. Além disso, “o filho deve ter uma vida melhor do que a de seus pais, nem deve ser submetido às necessidades reconhecidas como dominadoras da vida”.

Os pais deixam de educar, e educar é reprimir, colocar limites, na contrapartida  oferecem todas as formas de contemplação de consumismo e isso está em todas as camadas sociais. Preenche-se a falta de afeto por coisas, objetos, roupas, celulares de ultima geração, colaborando para um identidade de um falso self grandioso. Contudo, falta o diálogo, a aproximação afetiva, a segurança emocional.

Portanto, o olhar da mãe voltado para a filha recria o narcisismo, na medida em que idealiza, para a filha, um eu perfeito e desloca o seu “Ego ideal” sobre a imagem dessa filha toda-poderosa, jovem que, assim, poderá realizar todos os seus sonhos que não foram realizados.

Por isso encontramos muitas mães que desejavam ser as modelos, as misses, as bailarinas, fazem de suas filhas como uma extensão de um outro sendo sua continuidade de seus desejos recalcados que não foram realizados.

“Espelho meu, espelho meu, existe no mundo alguém mais belo do que eu?” esta frase célebre de um conto de fadas é o que aprisiona a menina num ideal narcísico e infantil, a adoece pois não poderá ver a diversidade de sua beleza real que não é apenas estético, mas interno, subjetivo, nas relações afetivas e amorosas diante da vida.

Exatamente quando o espelho responde que há outra pessoa mais bela é quando o espelho será quebrado, quando descobrimos que há outras pessoas no mundo, aonde a menina precisará aguentar a frustração para crescer e isso tanto os pais como a sociedade está falhando, em oportunizarmos aos nossos jovens a se transformarem em seres humanos com suas imperfeições, mas afetivos e maduros.

Para Winnicott, que era pediatra e psicanalista inglês, o desafio de verdadeiro espelho do rosto materno é proporcionar as condições necessárias para a criança estabelecer uma “conciliação entre imitar os pais e desafiadoramente estabelecer uma identidade pessoal, um verdadeiro self”.

No espelho verdadeiro do rosto materno, a criança sente-se real e sentir-se real, diz Winnicott (1975), é mais do que existir, é descobrir um modo de existir como si-mesmo e somente se sentindo verdadeiro pode ser criativo e sentir-se real.

A capacidade de estar só e a criatividade, que são os sinais mais importantes do amadurecimento afetivo. Mas para que o adulto consiga isto, deve ter passado, como criança, pela experiência de estar só na presença de alguém, em quem confia. Somente assim, a criança pode descobrir seu potencial criativo. E o viver criativo é sinônimo de saúde e de um verdadeiro sentimento de si mesma. A capacidade de viver criativamente e de sentir que a vida vale a pena de ser vivida está diretamente ligada à qualidade das provisões ambientais no início da vida.

O que constatamos é que nossas crianças ficam sem propósito, caso qualquer frustração ou dificuldades da vida a acometa, querem desistir, brigam, utilizam-se de formas de confrontamento violento.

Outros sintomas que vamos notando na sociedade,  no comportamentos das jovens é o uso abusivo de drogas, o bullying, o ciberbullying, a alienação, o self cutting,  inúmeras tatuagens, as doenças psicossomáticas, as dificuldades escolares, dificuldades de diálogo, dificuldades de socialização humana com empatia, respeito e solidariedade aos outros.

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Marina S. R. Almeida

Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar

Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista

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