Segundo o Professor Tony Attwood e Dra. Michelle Garnett o termo EDP (evitação da demanda patológica) foi usado pela primeira vez pela professora Elizabeth Newson na década de 1980. É um perfil comportamental associado à evitação de atender solicitações e à extrema agitação caso as demandas aumentem. Estes casos precisam de suporte de intervenção multidisciplinar tanto para se fazer um diagnóstico como intervenções terapêuticas: psiquiatra,neurologista, psicólogo, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo.
No Instituto Inclusão Brasil, não atendemos estes casos de evitação da demanda patológica – EDP, porque ainda estão em estudos, precisam de avaliação com equipe de profissionais de saúde especializados na área do autismo, acompanhamento multidisciplinar e em alguns casos precisam de internação hospitalar.
A PDA Society, esclarece que o diagnóstico de EDP ( evitação da demanda patológica) ou EED (evitação extrema de demanda) não são considerados como diagnósticos classificados na CID ou DSM, estão em estudos em crianças, adolescentes e adultos.
PDA (Evitação Patológica de Demanda) é amplamente compreendido como um perfil do espectro do autismo, embora ainda estejamos em um estágio inicial de nossa compreensão e a pesquisa sobre PDA esteja em sua infância.
Embora autismo seja um termo amplamente reconhecido, nossa compreensão da amplitude e complexidade do espectro do autismo ainda está evoluindo.
A National Autistic Society explica o autismo como “uma deficiência de desenvolvimento ao longo da vida que afeta como as pessoas se comunicam e interagem com o mundo”. Muitos defensores do autismo adotam o modelo social de deficiência e veem uma série de diferenças neurológicas como parte de uma variação humana natural (neurodiversidade).
Sabemos que o autismo é dimensional – envolve um padrão complexo e sobreposto de pontos fortes, diferenças e desafios que se apresentam de forma diferente de um indivíduo para outro e no mesmo indivíduo ao longo do tempo ou em diferentes ambientes.
Um conjunto de características pode ser chamado de apresentação ou perfil – em alguns casos, isso pode ser bem diferente do que algumas pessoas acham que o autismo ‘parece’.
Isso pode fazer com que as apresentações em algumas pessoas — incluindo mulheres e meninas autistas e indivíduos com TAP — sejam completamente ignoradas, mal compreendidas ou diagnosticadas incorretamente, o que pode, por sua vez, levar a resultados ruins.
Todas as pesquisas apontam para a identificação precoce e o suporte personalizado como o melhor preditor de resultados positivos a longo prazo. Reconhecer esses perfis sinaliza as abordagens ou o suporte que serão mais úteis para cada indivíduo.
O EDP foi reconhecido pela primeira vez em crianças autistas, e pesquisas adicionais identificaram características associadas, como altos níveis de ansiedade, labilidade de humor e impulsividade, sociabilidade superficial, mas falta de identidade social e um maior nível de habilidades interpessoais e manipulação social do que normalmente é associado ao autismo. (Newson et al., 2003; O’Nions et al., 2014).
Atualmente há algum debate sobre a terminologia, especialmente a palavra patológico com termos alternativos como EED, evitação extrema de demanda (Gillberg, 2014), ou FED, fenômenos de evitação de demanda (Woods, 2019) e o termo EDP, evitação da demanda patológica sendo atribuído por indivíduos autistas e para grupos de apoio ao ‘impulso generalizado de autonomia’.
Há também um debate acadêmico e clínico sobre a classificação e se o EDP, evitação da demanda patológica deve ser considerado um subgrupo separado dentro do espectro do autismo ou um mecanismo de enfrentamento aprendido para a combinação de alta ansiedade, TDAH e impulsividade, procrastinação e funcionamento executivo prejudicado e as características sociais e sensoriais de autismo.
USAREMOS O TERMO EDP (EVITAÇÃO DA DEMANDA PATOLÓGICA) NESTE ARTIGO
Branco e outros. (2022), utilizaram dois inquéritos com adultos da população em geral para explorar a importância dos traços autistas e da ansiedade como preditores da evitação da procura.
Eles descobriram que os traços autistas e a ansiedade eram preditores únicos e igualmente importantes de evitação da demanda. O estudo confirmou que a EDP está ligada ao autismo, com comportamentos de evitação motivados pela ansiedade.
Sabemos que o autismo está associado a altos níveis de ansiedade. No entanto, durante e após a puberdade, os níveis de ansiedade constante e episódica podem ser insuportáveis e não resolvidos com medicação prescrita e terapia cognitivo-comportamental.
Um adolescente ou adulto autista pode então recorrer a comportamentos extremos para controlar níveis extremos de ansiedade, o que inclui alcançar, por qualquer meio eficaz, o controle sobre sua vida diária para evitar sentir ansiedade.
Pedidos simples podem fazer com que uma pessoa autista se sinta ansiosa, descontrolada e assediada. Existe uma fobia ou medo de exigências.
- Estágio – 1
Um mecanismo de enfrentamento consiste em adiar a resposta até que o nível de ansiedade diminua naturalmente ou a pessoa atinja um maior controle cognitivo de sua ansiedade. Isso pode incluir táticas protelatórias como procrastinação, negociação, desculpas para o não cumprimento e elogios à pessoa que fez o pedido para distraí-la.
- Estágio – 2
É a resposta de fuga à ansiedade, que envolve ser desagradável, rude e desrespeitoso com a pessoa que faz o pedido. O objetivo é fazer com que a pessoa que faz o pedido vá embora e ‘fuja’ da situação.
- Estágio – 3
É a “luta”, ou seja, ter uma briga ou discussão verbal e uma explosão ou colapso emocional. O colapso descarregará o acúmulo de energia ansiosa e será um “reset” emocional.
Todas essas reações aos pedidos consolidam comportamentos de evitação por meio de reforço negativo (diminuindo ou eliminando um resultado negativo, neste caso, níveis insuportáveis de ansiedade).
No entanto, há outro aspecto da resposta à ansiedade: o “congelamento”. Às vezes, pode não ser uma questão de escolher conscientemente não atender ao pedido, mas de ser fisicamente incapaz de fazê-lo. Não é ‘não vou’, mas ‘não posso’.
A pessoa sabe o que fazer, pode até ser fazer algo que queira fazer ou que seja do seu interesse e para alguém que ama ou admira, mas está vivenciando a inércia autista e o ‘congelamento’.
Reconhecemos também que a evitação extrema da demanda pode ter características semelhantes a outros mecanismos de enfrentamento desadaptativos da ansiedade, como transtornos alimentares, mutismo situacional e automutilação.
O DESENVOLVIMENTO DO EDP NA IDADE ADULTA
Evitar exigências pode alargar-se, durante a infância, a uma ampla gama de situações quotidianas e a respostas a pedidos simples que outras pessoas podem não perceber como uma exigência, como ‘Pode, por favor, passar-me o jornal?’
A pessoa com EDP – evitação da demanda patológica percebe essas solicitações, que exigem uma resposta simples e momentânea, como opressoras e provocadoras de ansiedade.
A falta de estratégias de adesão e evitação levará a considerável sofrimento e conflito dentro da família. Há um reconhecimento crescente dos aspectos genéticos do EDP –
evitação da demanda patológica, com as características sendo identificadas dentro e entre gerações que irão aumentar o conflito doméstico.
Elizabeth Newson e os seus colegas conseguiram acompanhar 18 adultos com EDP – evitação da demanda patológica, e todos permaneceram esquivos à procura, com oito com aproximadamente o mesmo grau que na infância, três a mais do que na infância e sete a menos.
Assim, há uma série de resultados, mas as características do EDP – evitação da demanda patológica têm potencial para durar a vida toda (Newson et al., 2003). Deve-se notar que os 18 participantes no estudo não puderam beneficiar do grau de compreensão e apoio ao EDP – evitação da demanda patológica que está atualmente disponível.
Nossa experiência clínica é que os traços de EDP – evitação da demanda patológica podem diminuir à medida que a criança passa da adolescência para a idade adulta, com o tempo entre a demanda e o colapso se tornando mais longo e o grau de sofrimento menor e maior regulação cognitiva da ansiedade.
Com o tempo, pode haver uma compreensão crescente dos efeitos do EDP – evitação da demanda patológica nos relacionamentos e no emprego e a aquisição de uma série de estratégias para gerir a ansiedade extrema e as tentativas de modificar as reações. Pode haver melhorias na autorregulação, comunicação e capacidade de autodefesa e na criação de um estilo de vida com exigências mínimas.
No entanto, pode haver preocupações quando o álcool e o uso indevido de drogas ilegais e legais são usados para reduzir a ansiedade extrema, e conhecemos clientes com EDP – evitação da demanda patológica que também desenvolveram dependência de drogas para controlar a sua ansiedade.
VIDA DOMÉSTICA
Pode haver dificuldade em lidar com exigências autoimpostas e sociais, tais como higiene pessoal e manutenção de amizades e relacionamentos e uma tendência para quebrar as regras, o que pode levar a conflitos com a lei.
Tentar controlar a ansiedade extrema e suprimir a evitação da demanda pode ser exaustivo, afetando os níveis de energia e potencialmente contribuindo para a depressão. Pode haver grande dependência dos pais ou de um parceiro para apoio emocional e apoio prático para o funcionamento executivo prejudicado.
O adulto EDP – evitação da demanda patológica também precisará de tempo de inatividade regular e solidão para restaurar a energia, com benefícios de ter acesso a um espaço livre em casa para onde se refugiar.
VIDA DE TRABALHO
As características do EDP – evitação da demanda patológica podem afetar a vida profissional, com os empregadores considerando a pessoa arrogante ou indisciplinada.
- Pode haver um desrespeito pela autoridade e pela hierarquia de trabalho, e muitas vezes é difícil para a pessoa trabalhar de forma convencional com a sua tendência de ser “do meu jeito ou de jeito nenhum”.
- Pode haver mais sucesso trabalhando por conta própria ou administrando seu próprio negócio, portanto, há menos problemas em não se sentir no controle.
- Pode haver problemas de procrastinação, dificuldade em concluir projetos e cumprir prazos e em responder adequadamente às solicitações de um gerente de linha, como ser educado com os clientes.
O adulto EDP – evitação da demanda patológica muitas vezes se sente preso a um emprego e precisa de novidades. Notamos um histórico de muitas mudanças nos empregadores e nas carreiras.
ESTRATÉGIAS PARA EDP – EVITAÇÃO DA DEMANDA PATOLÓGICA
Muitas estratégias para lidar com a EDP – evitação da demanda patológica em crianças também se aplicam aos adultos. Isto inclui dar à pessoa opções e escolhas, em vez de diretivas.
Também recomendamos o uso de linguagem declarativa em vez de imperativa (Murphy, 2020), por exemplo, em vez de ‘Você precisa limpar sua bagunça no banheiro’ (imperativo) para ‘O banheiro precisa estar limpo e arrumado’ (declarativo). Nossa experiência mostra que comentários declarativos têm maior probabilidade de obter uma resposta positiva.
Pode-se considerar pensamentos distrativos ao iniciar e concluir uma tarefa, como usar dramatizações, por exemplo, imaginar ser filmado fazendo a tarefa para um documentário, ou usar jogos mentais, ou ouvir um podcast para completar a atividade no piloto automático. Essas estratégias podem atuar como um bloqueador de pensamento eficaz para a ansiedade.
Fontes:
Site da Sociedade de Evitação de Demanda Patológica – Society PDA:
https://attwoodandgarnettevents.com
Folheto sobre informações sobre Evitação da Demanda Patológica:
https://www.pdasociety.org.uk/wp-content/uploads/2021/04/What-is-PDA-booklet-website-v2.1.pdf
Newson E, Le Maréchal K e David C. (2003). Síndrome de evitação da demanda patológica: uma distinção necessária nos transtornos invasivos do desenvolvimento Arquivos de Doenças na Infância.
Madeiras R. (2019). Boas Práticas para Autismo.
A Psicóloga e Neuropsicóloga Marina da Silveira Rodrigues Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista em homens e mulheres.
Realizo psicoterapia online ou presencial para pessoas neurotípicas e neurodiversas.
Realizo avaliação neuropsicológica online para diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista em Adultos e TDAH.
Agende uma consulta no WhatsApp +55 (13) 991773793.
Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029
WhatsApp (13) 991773793
INSTITUTO INCLUSÃO BRASIL
Rua Jacob Emmerich, 365 – sala 13 – Centro – São Vicente-SP
CEP 11310-071
marinaalmeida@institutoinclusaobrasil.com.br
www.institutoinclusaobrasil.com.br
https://www.facebook.com/InstitutoInclusaoBrasil
https://www.facebook.com/marina.almeida.9250
https://www.facebook.com/groups/institutoinclusaobrasil
Instagram:
@institutoinclusaobrasil
@psicologamarinaalmeida
@autismoemadultos_br