DIAGNÓSTICO DE AUTISMO EM ADULTOS PRINCIPAIS DESAFIOS E DÚVIDAS

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A crescente conscientização sobre o transtorno do espectro do autismo (TEA) levou a um aumento na prevalência entre as crianças. Mas para os adultos, obter um diagnóstico continua sendo um desafio por falta de políticas públicas de serviços gratuitos, dificuldades com operadoras de saúde, poucos profissionais experientes e especializados em TEA em adultos em mulheres autistas.

Muitos adultos que não são formalmente diagnosticados não percebem que algumas das coisas que os tornam únicos estão relacionadas ao TEA não diagnosticado. Alguns aprendem a com a vida a lidarem com suas diferenças, alcançando marcos importantes, como estar em relacionamentos ou construir carreiras de sucesso. Outros passam a vida se sentindo deslocados e lutando para ter sucesso em determinadas áreas, contudo a grande maioria apresenta quadros coocorrentes psiquiátricos e neurológios ao TEA.

Os adultos normalmente procuram um primeiro diagnóstico por vários motivos:

  1. Histórico de serem avaliados e tratados por vários profissionais de saúde, mas subdiagnosticados com quadros psiquiátricos ou neurológicos, como no caso de mulheres no espectro autista, e não obtiveram melhoras ao longo da vida;
  2. Buscam o diagnóstico porque seu filho ou filha foi diagnosticado com TEA, e como pais resolveram verificar se também são pessoas autistas;
  3. Apresentam muito sofrimento emocional, social e da comunicação, porém nunca procuraram ajuda de profissionais de saúde, após assistirem vídeos, fazerem testes online e ou lerem artigos na internet sobre TEA buscam um profissional especializado em autismo;
  4. Foram encaminhados pelo psiquiatra, neurologista ou psicólogo com hipótese de estarem no espectro e apresentam comorbidades;
  5. Querem compreender a si mesmos pelas dificuldades encontradas ao longo da vida;
  6. Histórico de serem intimidados, relacionamentos abusivos, violência psicológica, estresse pós-traumático, serem provocados ou incompreendidos pela família, no ambiente de trabalho ou na vida acadêmica. Eles podem ter um trabalho exigente, onde estão exaustos com as demandas sociais do trabalho. Ou estão casados, tem filhos e lutam para lidar com a imprevisibilidade em atender as necessidades familiares;
  7. Estudantes na universidade que apresentam dificuldades de relacionamentos sociais, comunicação, desregulação emocional/sensorial por estresse e dificuldades em frequentar as aulas.
  8. Pessoas na família foram diagnosticadas com autismo, e isso gerou dúvidas que também pudesse estar no TEA.

Os desafios da avaliação diagnóstica das pessoas autistas adultas:

  • Presença de vários quadros coocorrentes psiquiátricos e neurológicos ao TEA, estados crônicos ou comprometimentos graves da saúde emocional.

Quais são os sinais e sintomas mais comuns que adultos autistas podem apresentar e que levam à busca por um diagnóstico tardio?

  • Dificuldade em iniciar ou manter conversas; tendência a monólogo sem atender às dicas do ouvinte; resposta incomum a saudações ou outras convenções sociais.
  • Falta de contato visual; dificuldade em compreender a comunicação não verbal; tom de voz ou linguagem corporal incomum.
  • Desafios na adaptação do comportamento para corresponder a diferentes ambientes sociais, como ao interagir com familiares, amigos, figuras de autoridade ou estranhos; dificuldade em desenvolver ou manter amizades e relacionamentos eróticos-afetivos; necessidade maior do que o normal de tempo sozinho;
  • Movimentos repetitivos ou “stimming” (por exemplo, balançar, bater as asas, andar de um lado para o outro ou girar para se divertir ou como mecanismo de enfrentamento, mexer os dedos ou mãos); organizar objetos de maneira muito precisa; ecolalia; repetir continuamente sons, palavras ou frases de livros, filmes;
  • Grau de sofrimento maior que o esperado com mudanças nas rotinas ou expectativas; dificuldade de transição entre atividades; precisa fazer a mesma coisa todas as vezes; dependência maior do que o normal de rituais para realizar tarefas diárias;
  • Interesses especiais intensos (por exemplo, observar objetos girando durante horas, aprender os horários detalhados de todo um sistema de transporte público ou tornar-se um especialista em arte, idiomas, tecnologia) enquanto tem dificuldade significativa em abordar tópicos fora de suas áreas de interesse especial não se interessando por conversar com outras pessoas sobre tópicos fora do seu interesse;
  • Em mulheres apresentam maior comportamento de camuflagem (masking), camuflam suas dificuldades, fazem diversos scripts sociais e papéis sociais que disfarçam suas reais dificuldades sociais, comportamentais e emocionais;
  • Ser hiper ou hipossensível a sons, luzes, cheiros ou texturas; ter um limiar de dor anormalmente alto ou baixo; dificuldade em processar mais de um sentido ao mesmo tempo (por exemplo, não ser capaz de compreender a linguagem falada enquanto olha para o rosto de alguém); tendência a ficar confuso ou sobrecarregado por estímulos sensoriais; desafios com a consciência corporal ou separação de diferentes tipos de sensações.
  • Embora as características devessem estar presentes ao longo da vida, uma mudança nas circunstâncias pode perturbar as estratégias de sobrevivência e tornar as características mais pronunciadas; alternativamente, facilitadores ambientais, apoios e estratégias de enfrentamento podem tornar as características menos perceptíveis como o uso de camuflagem.
  • As características levam à dificuldade de obter ou manter emprego, realizar atividades básicas ou instrumentais da vida diária, manter a vida social ou integrar-se à comunidade. Por exemplo, pode haver uma incompatibilidade significativa entre o nível de escolaridade e o histórico profissional.

Qual é a importância do diagnóstico de autismo em adultos para o desenvolvimento pessoal e emocional dessas pessoas?

Os benefícios potenciais de um diagnóstico formal são os seguintes:

  • Garantia de direitos legais como um cidadão de direito neurodiverso como pessoa autista;
  • Garantia para a pessoa autista obter acessibilidade e acomodações necessárias para sua melhor funcionalidade e desemprenho na escola, no trabalho, na saúde ou em outros ambientes sociais;
  • Fornecer a pessoa autista os devidos tratamentos com especialistas em TEA adulto para o cuidado de sua saúde emocional;
  • Ajudar a pessoa autista desenvolver uma melhor compreensão de si mesmo;
  • Pode proporcionar tranquilidade através da confirmação profissional de experiências de vida;
  • Fornecer meios para experimentar melhor enfrentamento ou qualidade de vida, ajudando mais diretamente no reconhecimento de pontos fortes e na adaptação aos desafios;
  • Fornecer outros meios para compreender e apoiar a pessoa autista na família, casamento e relacionamento com os filhos.

Como podemos melhorar a conscientização e a compreensão da sociedade em relação ao autismo em adultos e reduzir os estigmas associados a ele?

  • O estigma pode ser visto como um termo abrangente para problemas de conhecimento (ou seja, ignorância), problemas de atitudes (ou seja, preconceito) e problemas de comportamento (ou seja, discriminação).
  • O estigma do autismo é influenciado principalmente por uma compreensão pública e profissional do autismo em combinação com a interpretação de traços autistas visíveis.
  • Os fatores moderadores incluem a qualidade e a quantidade do contato com pessoas autistas, fatores culturais, sexo e gênero, diferenças individuais e divulgação de diagnóstico. O estigma pode reduzir o bem-estar, bem como aumentar a presença de comportamentos camufladores, que mascaram traços autistas (as pessoas podem dizer “você não tem cara de autista”, porque está associado ao estereótipo de uma pessoa com graves comprometimentos e o autismo é um espectro com várias nuances de apresentação de funcionamento e comportamento).
  • Cuidadores de pessoas autistas podem vivenciar o estigma por associação, ou seja, estigma afiliado, que pode afetar seu próprio bem-estar.
  • O empoderamento das pessoas autistas expressando seus potenciais, fragilidades e suas necessidades sociais.
  • Diversas intervenções e abordagens podem reduzir o estigma, incluindo espaços “amigos do autismo”, profissionais aliados do autismo fazendo uma apresentação positiva nos meios de comunicação social, formação educacional e psicossocial para o público e profissionais de educação, saúde e demais áreas sociais, bem como mudanças culturais e sistêmicas que promovam a inclusão e reconheçam a neurodiversidade.
  • Romper o estigma e estereótipo é falar da pessoa autista além do diagnóstico, mas como pessoa humana, com singularidades próprias da neurodiversidade.
  • A interseccionalidade é o outro desafio social, ser uma pessoa autista, homem, branco, com altas habilidades e heterossexual, é o minimamente esperado dentro de uma sociedade heteronormativa, mas quando uma pessoa autista, é mulher, negra, transgênero, com deficiência intelectual, com vulnerabilidade socioeconômica, as coisas tomam uma proporção muito desafiadora e complicadora.
  • Portanto, quanto mais informação com relevância científica, empatia, respeito humano, políticas públicas, poderemos caminhar para uma sociedade respeitosa que garanta os direitos de todos.

Como a psicologia pode desempenhar um papel no apoio a adultos autistas após o diagnóstico tardio, incluindo o desenvolvimento de estratégias de adaptação e fortalecimento da autoconfiança?

  • As pessoas autistas relatam dificuldades no acesso a apoio especializado a saúde, à educação e ao emprego. Portanto, nos encontros das sessões de psicoterapia precisamos ajudar em estratégias de acomodação, acessibilidade e garantias de direitos nestes espaços sociais. Isso envolve capacidade das pessoas autistas desenvolverem seu empoderamento, autoestima, amor-próprio, reconhecer seus potenciais e fragilidades, e aprenderem sua autodefensoria como pessoas neurodiversas neste locais.
  • Muitas universidades já possuem núcleos de apoio a inclusão para o estudante acadêmico, mas ainda há muitas dificuldades para que os próprios autistas busquem os devidos apoios, e por outro lado nem sempre os núcleos estão funcionamento como deveriam, pelo número reduzido de profissionais especializados em autismo.
  • No mundo do trabalho em especial na área coorporativa, algumas empresas se negam a fazer qualquer acessibilidade ou acomodação necessária para a pessoa autista, em outros casos a pessoa autista também se sente muito insegura e teme a demissão ao apresentar seu diagnóstico para a empresa.
  • Todas estas situações são fonte de muita angústia, desregulação emocional, estresse, resistências variadas. Uma estratégia interessante é o engajamento da pessoa autista em grupos ativistas como coletivos autistas na universidade, bem como acesso em sites e empresas que defendem a neurodiversidade, oferecem capacitação para pessoas autistas conseguirem vagas em empresas que respeitem seus potenciais e fragilidades.
  • Para adultos autistas, o apoio de colegas autistas e redes de apoio promoveu o pertencimento e a autoaceitação.
  • Também identifiquei interações complexas entre o desenvolvimento da identidade pós-diagnóstico dos adultos autistas e as experiências de apoio, à medida que eles resolviam o dilema entre a autoaceitação e o desejo de mudar respeitando seus desafios e potenciais, ou seja podendo estar em mais coerência interna com seu verdadeiro eu, por consequência obtivemos:
  • Estabilização da saúde emocional;
  • A adesão a tratamentos adequados;
  • Melhoraram sua capacidade comunicacional e interação social;
  • Reduziram comportamentos de camuflagem e scripts sociais;
  • Desenvolveram minimamente uma rede de apoio;
  • Conseguiram ter lazer e diversão com alguns amigos;
  • Obtiveram uma vida mais produtiva, alegre e satisfatória.

Poucos estudos exploraram o apoio informal de familiares, amigos e comunidades. Adultos autistas descreveram respostas variadas de familiares e amigos após o diagnóstico, incluindo aceitação, desprezo e rejeição.

Ainda há muito o que se fazer, como intervenções de psicoterapia familiar, pesquisas sobre mulheres autistas e maternidade, parentalidade e autismo, função paterna e autismo, grupos de apoio, terapia de casal, espaços aonde a família, amigos e comunidade possam buscar acolhimento e ajuda.

Sendo assim, quanto mais acesso a informações corretas, empatia e respeito, poderemos acolher, entender e ajudar pessoas autistas.

A Psicóloga e Neuropsicóloga Marina da Silveira Rodrigues Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista.

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