Prof. José Pacheco
O Marcos está sempre distraidamente atento aos mínimos detalhes. Quando penso que dá atenção ao deslizar dos dedos do avô no teclado do computador, ele presta atenção ao que me prende a atenção. Ora brinca ao sério, ora finta-me o olhar, levando-me atrás de algo só visível através dos olhos de uma criança. Vou reaprendendo a ver, sem deixar de lhe dar conselhos rotulados de tolos pelos sensatos…
– Marcos, nunca percas o sentido lúdico da vida. É o modo mais sério de estar vivo. Deixar de brincar é pecado mortal, a perda do sentido do existir. Sempre que as ações dos homens não façam sentido algum, brinca. Brinca! Quando a cupidez humana pretender transformar os teus sonhos em pesadelos, brinca, sê corajoso.
Como diria a Fernanda, a coragem não é a ausência do medo. E, perante pessoas que perderam a capacidade de ver, os sonhos são vontades que parecem impossíveis de realizar, mas que habitam um outro plano, até termos a coragem de os trazer para perto de nós. Para os olhos comuns, há coisas que nem os pássaros conseguem explicar, mistérios que pairam entre o céu e a terra…
Porque falo de olhares e modos de ver? Porque me incomodaram alguns olhares de pena, que vi dois educadores lançarem sobre uma criança dita deficiente.
Os diferentes não precisam de piedosos olhares, mas da prática de uma “inclusão” que ainda não passou de enfeite de tese. Irritaram-me os olhares, mas não dei a perceber. Brinquei! Numa dupla ruptura de olhar – uma técnica em que o Marcos é especialista e meu mestre – afivelei um sorriso e optei por narrar aos pios educadores um episódio exemplar.
Certo dia, fui fazer uma palestra. Parque de estacionamento com lotação esgotada, uma condutora em desespero, três voltas ao circuito… Reparei em dois lugares desocupados e apontei para lá. A condutora respondeu:
– Então o professor não vê que são lugares destinados a viaturas de deficientes?
– E então?… – retorqui, apontando para os meus olhos de estrábico.
A condutora sorriu, encolheu os ombros, encostou, suspirou de alívio. Uma corrida depois, a minha companheira de viagem contava à plateia o sucedido, para justificar o atraso e criar ambiente. E o episódio relatado foi pretexto para a primeira intervenção no debate sobre… “inclusão”. Talvez para gerar informalidade, uma participante atirou um chiste:
– O colega fala do assunto com conhecimento de causa, porque também é deficiente…
Resgatei o gracejo e continuei no mesmo tom o diálogo que reproduzo:
– A senhora importa-se de dizer o que entende por “deficiente”?
– Deficiente é toda a pessoa que tem qualquer a menos do que uma pessoa normal.
– Então, se esse é esse o conceito de deficiente, diga-me, por favor, de quantos modo a senhora vê.
– É claro que eu vejo como uma pessoa normal, de uma só maneira! – exclamou a minha interlocutora de visão normal.
– Pois eu vejo de três modos diferentes. A senhora consegue fazer o mesmo?
– Claro que não!
– Então, se a senhora vê de um só modo e eu consigo ver de três maneiras diferentes, qual de nós será “deficiente”?
– Ele não é deficiente, mas é louco – murmurou a senhora “normal”.
Dizia o Jung que cada indivíduo representa uma nova experiência de vida. Cada ser humano é único e irrepetível, e será preciso que os educadores saibam encarar o diferente com a mesma alegria que a sua mãe teve ao dá-lo à luz.
O que é “deficiência” e “normalidade”? A resposta é conforme aos olhos que vêem. Ser louco é “normalidade” num mundo ao contrário. Loucura e gênio são parentes. Os grandes gênios poderiam ter nascido “deficientes”.
Foram os desajustados de todos os tempos que nos legaram o que de mais sensível e belo o ser humano produziu. Deficientes serão, porventura, os que semeiam a morte nos campos de batalha da Ásia e espalham doença e fome na África?
Deficientes, ou normais? Loucura, ou gênio? Tudo depende da perspectiva…
Há muitos anos, escrevi um livro a que dei um título divergente, “anormal”: “Quando eu for grande, quero ir à Primavera”. Estamos em pleno Abril, mas ainda espero a “Primavera”, porque sinto que só agora aquilo a que chamamos “Escola” começa a sair de um longo, muito longo Inverno de indiferença perante a diferença.
O Drummond – tal como a Cora Coralina, o Manoel de Barros e outros – via o que só um modo “diferente” de olhar permite ver. Encontrava beleza (ou reinventava-a) onde os “normais” nem sequer suspeitavam que existisse:
“Uma flor nasceu na rua!
E, lentamente, passo a mão nessa forma insegura.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”. Para quem sabe ver, uma palavra vale bem mais.
– Marcos, nunca percas o sentido lúdico da vida. É o modo mais sério de estar vivo. Deixar de brincar é pecado mortal, a perda do sentido do existir. Sempre que as ações dos homens não façam sentido algum, brinca. Brinca! Quando a cupidez humana pretender transformar os teus sonhos em pesadelos, brinca, sê corajoso.
Como diria a Fernanda, a coragem não é a ausência do medo. E, perante pessoas que perderam a capacidade de ver, os sonhos são vontades que parecem impossíveis de realizar, mas que habitam um outro plano, até termos a coragem de os trazer para perto de nós. Para os olhos comuns, há coisas que nem os pássaros conseguem explicar, mistérios que pairam entre o céu e a terra…
Porque falo de olhares e modos de ver? Porque me incomodaram alguns olhares de pena, que vi dois educadores lançarem sobre uma criança dita deficiente.
Os diferentes não precisam de piedosos olhares, mas da prática de uma “inclusão” que ainda não passou de enfeite de tese. Irritaram-me os olhares, mas não dei a perceber. Brinquei! Numa dupla ruptura de olhar – uma técnica em que o Marcos é especialista e meu mestre – afivelei um sorriso e optei por narrar aos pios educadores um episódio exemplar.
Certo dia, fui fazer uma palestra. Parque de estacionamento com lotação esgotada, uma condutora em desespero, três voltas ao circuito… Reparei em dois lugares desocupados e apontei para lá. A condutora respondeu:
– Então o professor não vê que são lugares destinados a viaturas de deficientes?
– E então?… – retorqui, apontando para os meus olhos de estrábico.
A condutora sorriu, encolheu os ombros, encostou, suspirou de alívio. Uma corrida depois, a minha companheira de viagem contava à plateia o sucedido, para justificar o atraso e criar ambiente. E o episódio relatado foi pretexto para a primeira intervenção no debate sobre… “inclusão”. Talvez para gerar informalidade, uma participante atirou um chiste:
– O colega fala do assunto com conhecimento de causa, porque também é deficiente…
Resgatei o gracejo e continuei no mesmo tom o diálogo que reproduzo:
– A senhora importa-se de dizer o que entende por “deficiente”?
– Deficiente é toda a pessoa que tem qualquer a menos do que uma pessoa normal.
– Então, se esse é esse o conceito de deficiente, diga-me, por favor, de quantos modo a senhora vê.
– É claro que eu vejo como uma pessoa normal, de uma só maneira! – exclamou a minha interlocutora de visão normal.
– Pois eu vejo de três modos diferentes. A senhora consegue fazer o mesmo?
– Claro que não!
– Então, se a senhora vê de um só modo e eu consigo ver de três maneiras diferentes, qual de nós será “deficiente”?
– Ele não é deficiente, mas é louco – murmurou a senhora “normal”.
Dizia o Jung que cada indivíduo representa uma nova experiência de vida. Cada ser humano é único e irrepetível, e será preciso que os educadores saibam encarar o diferente com a mesma alegria que a sua mãe teve ao dá-lo à luz.
O que é “deficiência” e “normalidade”? A resposta é conforme aos olhos que vêem. Ser louco é “normalidade” num mundo ao contrário. Loucura e gênio são parentes. Os grandes gênios poderiam ter nascido “deficientes”.
Foram os desajustados de todos os tempos que nos legaram o que de mais sensível e belo o ser humano produziu. Deficientes serão, porventura, os que semeiam a morte nos campos de batalha da Ásia e espalham doença e fome na África?
Deficientes, ou normais? Loucura, ou gênio? Tudo depende da perspectiva…
Há muitos anos, escrevi um livro a que dei um título divergente, “anormal”: “Quando eu for grande, quero ir à Primavera”. Estamos em pleno Abril, mas ainda espero a “Primavera”, porque sinto que só agora aquilo a que chamamos “Escola” começa a sair de um longo, muito longo Inverno de indiferença perante a diferença.
O Drummond – tal como a Cora Coralina, o Manoel de Barros e outros – via o que só um modo “diferente” de olhar permite ver. Encontrava beleza (ou reinventava-a) onde os “normais” nem sequer suspeitavam que existisse:
“Uma flor nasceu na rua!
E, lentamente, passo a mão nessa forma insegura.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”. Para quem sabe ver, uma palavra vale bem mais.
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Marina S. R. Almeida
Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar
Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista
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