A interseccionalidade é o conceito de que toda opressão está ligada. Mais explicitamente, o Dicionário Oxford define interseccionalidade como “a natureza interligada de categorizações sociais como raça, classe e gênero, consideradas como criando sistemas sobrepostos e interdependentes de discriminação ou desvantagem”.
Interseccionalidade é o reconhecimento de que todos têm as suas próprias experiências únicas de discriminação e opressão e que devemos considerar tudo e qualquer coisa que possa marginalizar as pessoas – gênero, raça, classe, orientação sexual, capacidade física, etc.
Cunhado pela primeira vez pelo Professor Kimberlé Crenshaw em 1989, a interseccionalidade foi adicionada ao Dicionário Oxford em 2015, sendo a sua importância cada vez mais reconhecida no mundo dos direitos das mulheres.
Interseccionalidade é um termo que descreve como um indivíduo pode experimentar uma variedade de identidades. Por exemplo, quando uma mulher muçulmana que usa o Hijab pode ser discriminada, seria impossível dissociar a sua identidade feminina* da sua identidade muçulmana e isolar a(s) dimensão(ões) que causa(m) a sua discriminação.
Todas as formas de desigualdade reforçam-se mutuamente e devem, portanto, ser analisadas e abordadas simultaneamente para evitar que uma forma de desigualdade reforce outra. Por exemplo, combater apenas as disparidades salariais entre homens e mulheres – sem incluir outras dimensões como a raça, o estatuto socioeconómico e o estatuto de imigração – provavelmente reforçará as desigualdades entre as mulheres.
O autismo nem sempre foi considerado uma identidade incluída na interseccionalidade, mas isso mudou enormemente. Através do trabalho de defensores dos autistas e de iniciativas lideradas por neurodivergentes, como o Neuro Pride, que está gradualmente passando da definição clínica do autismo para uma experiência autista mais baseada na identidade. Ser autista pode constituir uma parte importante da sua identidade.
Raça, etnia, sexualidade e gênero são áreas diferentes que também podem formar uma variedade de identidades para você. Por exemplo, você pode se identificar como autista, mas também pode se identificar como membro da comunidade negra e da comunidade LGBTQIA+. Ter essas identidades diferentes significa que você experimentará o mundo de maneira diferente das outras pessoas.
AUTISMO E LGBTQIA+
Nos últimos anos, uma grande parte da comunidade autista também se identifica como membros da comunidade LGBTQIA+.
Uma das razões para esta coocorrência frequente pode ser que as pessoas autistas estão menos ligadas às expectativas da sociedade, são mais abertas, honestas ao expressar quem são.
À medida que a nossa sociedade progride, tornamo-nos mais compreensivos com os grupos minoritários, como a comunidade LGBTQIA+, e o estigma que rodeia esta comunidade tende a diminuir gradualmente.
COMO POSSO SER UM ALIADO OU APOIAR PESSOAS AUTISTAS E TRANSGÊNEROS?
Ter os apoios certos disponíveis pode ter um efeito transformador na vida das pessoas. As pessoas podem não precisar de terapia profissional para se sentirem apoiadas em suas escolhas pessoais. Muitas vezes, ter o apoio total de seus amigos e familiares é tudo o que um indivíduo precisa para se sentir confiante em sua identidade.
Se uma criança ou adolescente for compreendido e ouvido da maneira certa, com compreensão e gentileza, terá o potencial de fazer uma enorme diferença em suas vidas. Estar aberto, aceitar e apoiar aqueles que se identificam com grupos minoritários é a melhor forma de os poder apoiar.
Como pais, pode ser assustador no início se seu filho se identificar como transgênero. Infelizmente, as pessoas transexuais autistas podem muitas vezes enfrentar barreiras devido ao seu autismo para que a sua identificação como transgênero seja levada a sério. É muito importante que você não diga a alguém autista que sua identificação como transgênero é “uma fase”, “apenas seu autismo”, “que isso é uma doença”, “que é contra a norma social ou religiosa”, etc.
Os pais querem o melhor para seus filhos e querem que eles sejam felizes. Pode ser preocupante que o seu filho não seja aceito na sociedade caso se identificar como parte de um grupo minoritário, como ser transgênero. A melhor coisa que você pode fazer por seu filho é deixá-lo saber que ele é aceito e amado pelo que ele é como pessoa humana.
Às vezes, os profissionais de saúde podem se preocupar por não estarem qualificados para apoiar aqueles que se identificam como autistas e transgêneros. Eles podem sentir que, embora entendam como apoiar pessoas autistas, a identificação adicional está fora das suas competências profissionais. Mas como todo apoio profissional, os fatores mais importantes são ouvir as pessoas, de maneira respeitosa, acolhedora, sem julgamentos morais, condição religiosa ou definições psicopatológicos, mas respeitando a ética da profissão.
COMO PAIS, O QUE DEVO FAZER SE MEU FILHO(A/X) ME DISSER QUE É TRANSGÊNERO?
- A primeira coisa que você deve fazer se seu filho lhe informar que é transgênero é manter a comunicação aberta e respeitosa. Você não quer que seu filho (a/x) se sinta envergonhado (a) por ter escolhido vir até você em busca de apoio.
- Aja com calma e expresse um interesse sereno. Agradeça seu filho (a/x) por confiarem em você.
- Se você acha que não sabe muito sobre a comunidade transgênero, talvez possa pedir-lhes que recomendem fontes de informação e expressem interesse em aprender mais. Lembre-se de que o gênero é fluido. Não é estático. Então as coisas podem mudar. Seu filho (a/x) pode mudar sua identificação.
- Basta estar aberto, aceitar e garantir que seu filho (a/x) saiba que você o amará e apoiará, não importa o que aconteça. Se você está achando esta notícia difícil, reserve um tempo para processar as informações e comece a fazer algumas pesquisas para ajudá-lo a aceitar isso.
O QUE FAZER SE SEU FILHO(A/X) ESTIVER LUTANDO COM SUA IDENTIDADE ÚNICA DE AUTISMO?
- Ouça seu filho (a/x), confie em sua relação amorosa. Amar não é impor seus princípios, moralismo, mas respeitar o outro em sua diferença.
- Aprenda o máximo que puder sobre o autismo e como ele aparece nos jovens.
- Construir uma árvore genealógica é um excelente ponto de partida para compartilhar a história pessoal/familiar com seu filho(a/x). Isto pode ajudá-los a desenvolver um sentimento de orgulho e conhecimento sobre si mesmos e sobre a cultura e o país de origem da sua família.
- Descubra livros de diversos autores que compartilham suas experiências vividas sobre interseccionalidade.
- Encontre ou crie um grupo de apoio inclusivo onde seu filho(a/x) possa ser ele mesmo; encontramos um clube de teatro fantástico.
- Participe de grupos de pais de jovens autistas e adultos autistas. Indico o grupo da UNIFESP TEAMM (@teamm/unifesp) e Grupo de Apoio Adultos no Espectro (@adultosnoespectro).
- Use os interesses especiais do seu filho(a/x) como ponto de partida para construir suas conexões e confiança.
AUTISMO E RAÇA
Pessoas de qualquer raça podem ser autistas, tornando-se um assunto especialmente pertinente na forma como discutimos o autismo e a interseccionalidade.
Existe a percepção de que o autismo só é visto em pessoas brancas, o que traz desafios em relação à inclusão, avaliação e apoio a pessoas autistas pertencentes a outras raças.
Infelizmente, às vezes, membros da comunidade negra ou de culturas asiáticas podem não ser diagnosticadas como autistas tão facilmente quanto um membro da comunidade branca.
Às vezes, pessoas de raças não brancas que demonstram ‘traços’ clássicos do autismo podem ser diagnosticadas com uma dificuldade comportamental ou uma dificuldade de saúde mental.
Autismo e raça são algo que precisa ser falado mais abertamente. Hoje há cada vez mais defensores negros dos autistas falando sobre as suas experiências e esperamos que, no futuro, haja mais consciência para questões relacionadas com o autismo e as raças não-brancas.
Às vezes, outras culturas podem não ter uma compreensão precisa do autismo, o que pode fazer com que as famílias não percebam os sinais de que o seu filho pode precisar de apoio adicional.
EXEMPLOS INSPIRADORES DE PESSOAS AUTISTAS:
Maria: O ativismo de uma mulher negra autista
Maria, uma mulher negra autista de 28 anos, faz palestras on-line e presencial abraçando tanto sua neurodiversidade quanto sua identidade racial.
Ela enfrenta desafios únicos enquanto trabalha para criar um ambiente mais inclusivo para pessoas como ela, defendendo a compreensão e o apoio dentro da sua comunidade.
Celty: Explorando a intersecção do autismo e da identidade LGBTQIA+
Celty é uma pessoa autista de 22 anos, que se identifica como não binário.
Elx vivencia a vida na intersecção da neurodiversidade e da identidade LGBTQIA+, enfrentando desafios únicos enquanto defende uma maior compreensão e aceitação das pessoas com experiências semelhantes na universidade, participando de coletivos autistas e LGBTQIA+.
Ana: Uma adolescente autista equilibrando saúde mental e neurodiversidade
Ana, uma estudante autista de 17 anos, cursa o ensino médio, está investindo em sua maior autonomia e independência, faz atividades desportivas e tem dois hobbys que ajudam a equilibrar suas sobrecargas sensoriais, TDAH, a ansiedade e a depressão.
Ela procura aumentar a conscientização sobre a importância do apoio à saúde mental para pessoas autistas e a necessidade de cuidados abrangentes que abordem tanto a saúde mental, física e qualidade de vida para pessoas neurodiversas.
Edson: Autista e surdo, redefinindo a comunicação
Edson, um homem surdo e autista de 32 anos, desenvolveu uma forma única de comunicação que combina linguagem de sinais e formas alternativas de expressão em LIBRAS.
Sua história inspira outras pessoas a redefinir a comunicação e explorar novas formas de conexão, independentemente de suas habilidades. Defende a utilização de aplicativos de LIBRAS e sites com acessibilidade nos padrões do Desenho Universal.
Raisha: A jornada de uma refugiada autista rumo ao pertencimento social
Raisha, uma mulher autista de 26 anos, muçulmana, com dois filhos autistas, vem de um país devastado pela guerra, partilha a sua jornada de ser mãe autista solo, como refugiada e as suas lutas para encontrar aceitação e pertencimento em seu novo país.
À medida que se adapta a uma nova cultura, ela também trabalha para criar espaços inclusivos para pessoas como ela, abraçando a intersecção da neurodiversidade e da diversidade cultural.
Roberto: Autismo e deficiência física, superando barreiras
Roberto, um homem autista de 29 anos, com deficiência física, compartilha sua história de resiliência e determinação ao superar barreiras em sua vida diária.
Ele defende maior acessibilidade nos espaços públicos e compreensão para aqueles que, como ele, vivenciam a intersecção do autismo com a deficiência física.
Fontes:
https://autisticprideday.org/intersectionality
https://asiam.ie/autism-and-intersectionality/
A Psicóloga Marina da Silveira Rodrigues Almeida é especialista em Transtorno do Espectro Autista.
Realizo psicoterapia online ou presencial para pessoas neurotípicas e neurodiversas.
Realizo avaliação neuropsicológica online para diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista em Adultos e TDAH.
Agende uma consulta no WhatsApp +55 (13) 991773793.
Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029
Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar
Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista
Licenciada no E-Psi pelo Conselho Federal de Psicologia para atendimento de Psicoterapia on-line
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