Na prática clínica com adultos autistas, é comum encontrar indivíduos com talentos excepcionais em áreas como matemática, música, linguagem ou programação. Mas nem sempre esses talentos são reconhecidos como altas habilidades ou superdotação.
A diferença fundamental é que “superdotação” se refere a um potencial inato e geral mais elevado, muitas vezes medido por testes de QI, enquanto “altas habilidades” abrange um desempenho excepcional em áreas específicas (acadêmicas, artísticas, etc.), que pode ser mais desenvolvido e influenciado pelo ambiente.
Na prática, na legislação brasileira, os termos são tratados como sinónimos, ou seja, “altas habilidades ou superdotação” (AH/SD).
Altas Habilidades (AH)
- O que é: Um desempenho superior à média numa ou mais áreas específicas, como artes, desportos, liderança ou aptidões acadêmicas.
- Foco: Enfatiza o desempenho e os talentos específicos, que podem ser enriquecidos pelo ambiente.
- Origem: Podem envolver talentos adquiridos, treinados e desenvolvidos com o tempo.
Superdotação (SD)
- O que é: Um potencial intelectual e cognitivo elevado, muitas vezes associado a um alto quociente de inteligência (QI).
- Foco: Destaca um potencial mais inato e genético.
- Origem: Tem uma base mais genética e inata, levando a um funcionamento cerebral mais rápido e eficiente. Relação entre os dois termos.
- A superdotação pode ser vista como uma forma mais intensa ou um tipo específico de altas habilidades, que abrange todo o potencial.
- Toda pessoa superdotada tem altas habilidades, mas nem toda pessoa com altas habilidades é superdotada, pois as altas habilidades são mais amplas e incluem talentos específicos não diretamente ligados à inteligência geral.
- No contexto educacional português, a legislação usa “altas habilidades ou superdotação” como um termo único para se referir a estes indivíduos.
Altas habilidades ou superdotação referem-se a indivíduos que demonstram um desempenho significativamente superior em uma ou mais áreas do conhecimento humano, incluindo, mas não se limitando a inteligência geral, habilidades acadêmicas específicas, pensamento criativo, liderança, artes e habilidades psicomotoras.
Estes indivíduos apresentam um potencial elevado que, se bem identificado e desenvolvido, pode resultar em contribuições significativas para a sociedade e para suas vidas pessoais
Em muitos casos, o diagnóstico de autismo obscurece o potencial, ou o brilho das habilidades esconde os desafios do espectro. É aí que entra o conceito de dupla excepcionalidade — quando uma pessoa é autista e também superdotada.
Estatísticas e Realidade Clínica
- Estima-se que 3,5% a 5% da população mundial tenha superdotação ou altas habilidades.
- Entre pessoas autistas, a presença de altas habilidades é menos frequente, mas significativa — especialmente em casos de autismo leve.
- Muitos indivíduos com diagnóstico apenas de superdotação, na verdade, apresentam traços do espectro autista que passam despercebidos.
Diferenças entre Autismo e Superdotação
| Aspecto | Autismo (TEA) | Altas Habilidades / Superdotação |
| Origem | Neurodesenvolvimento | Potencial cognitivo elevado |
| Foco | Interesses restritos e intensos | Talento em áreas específicas |
| Comunicação | Dificuldades sociais e pragmáticas | Pode ser verbalmente avançado |
| Aprendizagem | Estilo singular, processamento sensorial | Rápido, criativo, autodidata |
| Emoções | Dificuldade de regulação emocional | Sensibilidade emocional elevada |
A dupla excepcionalidade ocorre quando o indivíduo apresenta tanto características do espectro autista quanto habilidades cognitivas acima da média. Isso pode gerar confusão diagnóstica e desafios específicos no manejo clínico e educacional.
Os testes padrão ouro que avaliam altas habilidades e superdotação em crianças, adolescentes e adultos são o WISC e WAIS, não existem na modalidade digital, não podem ser realizados online porque exigem a execução do paciente.
Então procure uma clínica psicológica presencial para fazer sua avaliação neuropsicológica.
Não existem versões oficiais do WISC ou WAIS para aplicação online que permitam avaliação. A aplicação destes testes requer um psicólogo qualificado e é feita individualmente, com correção manual e/ou informatizada através de sistemas específicos para uso de profissionais, conforme o registro no Satepsi do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
A WAIS (Escala Wechsler Abreviada de Inteligência) também é um instrumento para uso restrito a psicólogos, apesar de sua aplicação ser mais rápida e breve.
A EICAS-AH/SD é a primeira escala brasileira de autorrelato voltada à identificação inicial de características cognitivas e socioemocionais associadas às altas habilidades/superdotação (AH/SD) em crianças e adolescentes a partir de 9 até 12 anos, sendo aplicada presencialmente.
O TIAH/S é uma escala não restrita a psicólogos, desenvolvida para identificar sinais precoces de altas habilidades em crianças e adolescentes a partir de 9 a 15 anos. Pode ser aplicada online ou presencial. Composta por 42 itens, avalia cinco áreas fundamentais: intelecto geral, habilidades acadêmicas, liderança, criatividade e talento artístico.
Comorbidades Comuns
Pessoas autistas ou com altas habilidades podem apresentar:
- Ansiedade Social ou Generalizada
- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
- Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
- Depressão
- Hiperlexia (leitura precoce e intensa, nem sempre associada à compreensão)
- Dependência em Internet ou jogos online
Essas comorbidades podem mascarar ou intensificar os desafios da dupla excepcionalidade, exigindo uma avaliação cuidadosa e multidisciplinar.
Consequências de Não Procurar Ajuda
- Subaproveitamento do potencial: talentos não desenvolvidos por falta de estímulo adequado.
- Sofrimento emocional: sensação de inadequação, isolamento e baixa autoestima.
- Dificuldades escolares e profissionais: desmotivação, conflitos interpessoais, evasão.
- Diagnósticos equivocados: confusão entre superdotação, autismo e outros transtornos.
- Desregulação emocional: crises de ansiedade, meltdowns, retraimento social.
Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD): Este conceito, de acordo com autores como Linda Silverman e Françoys Gagné (2019), não se restringe apenas ao quociente de inteligência (QI). Ele é definido pela potencialidade ou desempenho elevado em uma ou mais áreas, como a intelectual, acadêmica, criativa, artística, psicomotora e de liderança. Em adultos, manifesta-se por meio de uma sede por conhecimento, pensamento acelerado, senso de humor diferenciado e, muitas vezes, uma percepção aguda das injustiças sociais.
- Autismo (nível 1 de suporte): O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a principal referência na área, descreve o autismo como um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social, além de padrões de comportamento, interesses ou atividades restritos e repetitivos. Em adultos, isso pode se manifestar como desafios na interpretação de nuances sociais, dificuldades para iniciar ou manter conversas, aderência a rotinas rígidas e interesses muito específicos e intensos.
- Comorbidades e a “Camuflagem” –É crucial entender que o alto intelecto pode, por vezes, mascarar as características do autismo. Pessoas com AH/SD e autismo podem usar sua inteligência para “camuflar” ou compensar as dificuldades sociais, aprendendo a imitar comportamentos aceitáveis. Isso gera um desgaste emocional significativo e leva ao esgotamento mental.
- Dependência de Internet e TDAH Combinado – A Dependência de Internet, ou Transtorno do Jogo pela Internet (Internet Gaming Disorder), é uma comorbidade cada vez mais frequente em indivíduos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
- TDAH: Conforme o DSM-5 e autores como Russell Barkley, o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento com dois polos principais: desatenção (dificuldade de focar, esquecimento) e ou hiperatividade-impulsividade (inquietação, agir sem pensar, necessidade de estímulos, pensamentos acelerados). O tipo combinado manifesta ambos os sintomas. Em adultos, a hiperatividade pode se manifestar como inquietação interna, dificuldades para relaxar, pensamentos acelerados, adicções, impaciência, busca de estímulos constantes, consciência corporal, enquanto a desatenção dificulta a conclusão de tarefas, foco e organização de rotinas cotidianas.
- Dependência de Internet: A internet oferece gratificação instantânea e uma infinidade de estímulos, o que pode ser um refúgio para pessoas com TDAH que buscam a dopamina (neurotransmissor ligado ao prazer e recompensa) que lhes falta. O uso excessivo se torna um problema quando prejudica as áreas importantes da vida ao longo do tempo, como o trabalho, os relacionamentos, a saúde física e mental. O indivíduo pode perder a noção do tempo, sentir irritabilidade quando não está online (síndrome de abstinência de dopamina), baixa resistência a frustração, empobrecimento das habilidades socioemocionais, e priorizar o mundo virtual em detrimento do real.
Sintomas e Consequências da Falta de Tratamento – A falta de diagnóstico e tratamento para as condições mencionadas pode ter consequências:
- Altas Habilidades/Autismo-TEA: Sem a compreensão adequada, o indivíduo pode desenvolver ansiedade, depressão e baixa autoestima devido a um sentimento constante de inadequação. A “camuflagem” leva ao burnout, isolamento social e dificuldade em estabelecer relacionamentos significativos e profundos.
- TDAH/Dependência de Internet: A falta de tratamento pode levar a perda de emprego, problemas financeiros, conflitos familiares e sociais. A dependência de internet agrava a desatenção e o isolamento, gerando um ciclo vicioso que afeta a saúde física e mental.
Tratamento e Abordagem Terapêutica
O tratamento deve ser personalizado, respeitando a singularidade do paciente:
Avaliação:
- Neuropsicológica: para mapear perfil cognitivo, emocional e comportamental.
- Psiquiátrica: para investigar comorbidades e considerar medicação, se necessário.
- Especialista em autismo: para diferenciar traços autistas de superdotação.
Psicoterapia:
- Psicoterapia com foco em neurodiversidade: TCC – Terapia Cognitiva Comportamental ou Psicanálise Contemporânea, ajuda na regulação emocional, autoestima e habilidades sociais.
- Apoio à família: orientação sobre manejo, estímulo e acolhimento.
- Intervenção educacional: adaptação curricular e estratégias de ensino.
A psicóloga Marina Almeida realiza atendimentos presenciais em São Vicente – SP e online para todo o Brasil, com foco em
adultos autistas, superdotados e casos de dupla excepcionalidade.
Potencial Que Merece Espaço
Ser autista e superdotado não é uma contradição — é uma complexidade que exige escuta, cuidado e reconhecimento. Quando o talento encontra acolhimento, o sujeito floresce. E quando o sofrimento é compreendido, o caminho se torna mais leve.
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Se você ou alguém próximo apresenta sinais de altas habilidades e traços do espectro autista, não hesite em buscar apoio especializado. O cuidado certo pode transformar o potencial em potência.
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Fontes:
BRASIL. Decreto nº 10.502/2020. Institui a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.502-de30-de-setembro-de- 2020-280529948. Acesso em 30 ago. 2025.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. Disponível em: http://portal. mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em 30 ago. 2025.
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID-11), 11ª revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS), 2022.
FIRST, MICHAEL B. Manual de diagnóstico diferencial do DSM-5. Porto Alegre, Artmed, 2015.
LEONARD R. DEROGATS, PhD. Inventário Breve de Sintomas (BSI), Ed. Persons, 2018.
NAKANO, T. de C. Altas Habilidades/Superdotação e a dupla excepcionalidade. In: RONDINI, C. A.; REIS, V. L. dos. (Org.) Altas Habilidades Superdotação: Instrumentais para identificação e atendimento do estudante dentro e fora da sala de aula comum. Curitiba: CRV, 2021.
NAKANO, T. de C. Dupla excepcionalidade: compreensões iniciais sobre o conceito. In: ROA A-ALVES, R.J.; NAKANO, T. de C. Dupla excepcionalidade: Altas Habilidades/Superdotação nos transtornos neuropsiquiátricos e deficiências. 1.ed. São Paulo: Vetor Editora, 2021.
OGEDA, C. M. M. Superdotação e Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade: um estudo de indicadores e habilidades sociais. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2020. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/191638. Acesso em 30 ago. 2025.
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