PSICOTERAPIA ONLINE ATENDIMENTO PARA ADOLESCENTES: PANORAMA MUNDIAL

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1.Qual o panorama atual do atendimento de psicoterapia on-line visando a saúde mental dos jovens?

O surgimento de problemas de saúde mental durante o período da adolescência está bem documentado, e sabemos que é um período turbulento, de reveses, comportamentos de acting out (passagem ao ato) e instabilidades.

As evidências mundiais sobre atendimento online e o funcionamento psíquico contemporâneo dos adolescentes, estão bem documentadas no livro “Internet Interventions”, Prof. G. Anderson do Departamento de Ciências Comportamentais e Aprendizagem da Universidade de Linkoping, Suécia, 2019 e também no livro “Evidence Based Psychoterapies for Children na Adolescents”, do autores Alan E. Kazdin e John R. Weisz, 2018.

As pesquisas sobre os adolescentes na Austrália, Canadá, Suécia, Suíça, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Israel, EUA, Alemanha, Nova Zelândia, confirmam que, intervenções terapêuticas para adolescentes na modalidade psicoterapia presencial ou mediada por tecnologias é algo já confirmado como positivo e eficiente.

Também a eficácia comparável já está comprovada: atendimento de psicoterapia on-line para os jovens tem os mesmos efeitos de atendimentos psicoterapêuticos realizados presencialmente.

Aqui no Brasil, temos estudos importantes na área da puberdade e adolescência dentro do vértice da Psicanálise, como a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Grupo Brasileiro de Pesquisa Sándor Ferenczi, PUC de São Paulo e Rio Grande do Sul.

2.Quais são as estimativas atuais da procura de atendimentos em saúde mental pelos jovens? E qual a demanda de sofrimento mental?

Vou dar um exemplo, da pesquisa realizada na Austrália em 2017. Esta pesquisa foi realizada com 257 jovens australianos voluntários entre 14 a 18 anos, aos quais foram contatados no Facebook e comunidades de jovens na internet.

Os dados indicaram que 35% dos adolescentes australianos com distúrbios clínicos de saúde mental como, ideação suicida, depressão, ansiedade,  transtorno de personalidade borderline, questões relativas a sexualidade, cutting, escarificação, situações de bullying cibernético ou escolar, adições de drogas lícitas e ilícitas, compulsão sexual, adição à internet ou a jogos de vídeo game, violência doméstica, estupro, crises de identidade de gênero LGBTQIA+, transtornos obsessivos compulsivos, não utilizam ou buscavam serviços profissionais de saúde mental presenciais ou on-line. A pesquisa indicou que os adolescentes buscavam um amigo ou entravam em grupos na internet sobre o tema de suas angústias, conflitos, problemas.

No entanto, mesmo os tratamentos-padrão-ouro de psicoterapia on-line sendo eficazes os jovens da comunidade australiana não os acessaram na proporção dos problemas de saúde mental que tem acometido atualmente a faixa etária de 14 a 21 anos.

Os indicadores entre demanda e procura de ajuda de saúde mental ainda estão em descompasso significativo.

3.Quais os programas  e tratamentos on-line que demonstraram eficácia comparável à psicoterapia presencial?

MoodGYM: é uma plataforma do Reino Unido de autoajuda gratuita, destinada para adolescentes. Seu formato é como um livro interativo que ajuda a aprender e praticar habilidades que podem ajudar a prevenir e controlar os sintomas de depressão e ansiedade. É um tipo de chatbot que orienta passo a passo o adolescente a fazer as tarefas para o controle da depressão e ansiedade.

BRAVE Self-Help: é um programa de Terapia Comportamental Cognitiva gratuita, da Universidade de Tecnologia de Queensland, Austrália, destinada ao controle de ansiedade para crianças adolescentes e orientação.

OnTrack Get Real: é uma plataforma da Universiade de Tecnologia Quuensland, Australia, destinada a jovens a partir de 14 anos que estão tendo experiências estranhas e temem que possam estar perdendo contato com a realidade e que precisam de ajuda para descobrir o que é “real” e o que é alucinação, perseguição (paranoia) e ou delírio. O programa também pode ajudar as pessoas nos estágios iniciais da psicose, esquizofrenia, estados psicóticos, onde podem estar ouvindo vozes ou suspeitando de outras pessoas. O programa foi escrito por psicólogos e utiliza métodos que demonstraram ser úteis em pesquisas. O programa deve ser usado juntamente com outros tratamentos para psicose, acompanhamento com psiquiatra e uso de medicação. Não corrige os problemas no cérebro que causam sintomas psicóticos, apenas ajuda as pessoas a lidar. É orientado que o jovem deva informar o médico ou terapeuta que está usando este programa.

MindSpot Mood Mechanic: é uma plataforma gratuita da Clínica MindSpot chamada de Curso de Mecânica de Humor, destinada a ajudar jovens adultos de 18 a 25 anos a aprender a lidar com sintomas leves, moderados ou graves de depressão e ansiedade. O desenvolvimento do Curso Mecânica de Humor foi financiado pelo Conselho Nacional de Pesquisa Médica em Saúde e pelo governo australiano. Este curso foi desenvolvido pelo Prof. Nick Titov Diretor do Departamento de Psicologia e Prof. Associado Blake Dear, ambos da Universidade MacQuaire de Sidney, Austrália. Disponível apenas em inglês.

4.Existe alguma pesquisa sobre estudantes universitários com intenções de buscar ajuda de saúde mental na modalidade de atendimento on-line ou presencial em situações de estresse, ideação suicida, depressão, ansiedade?

Sim, constatou-se as interações de acessar terapias on-line são consitentemente altas em estudantes universitários, embora mantenham uma preferência de atendimento de psicoterapia presencial. 

As pesquisas indicam que os estudantes universitários também parecem valorizar os benefícios das terapias on-line, incluindo privacidade, acessibilidade tecnológica, anonimato e confidencialidade

De 80% a 84% dos adolescentes do ensino médio e universitários gostariam de usar o aconselhamento on-line se este estivesse disponível na escola ou na universidade gratuitamente. Eles também descobriram que os adolescentes preferiam entrar na Internet para discutir questões sensíveis (como a sexualidade) e preferiam o suporte presencial quando se trata de conflitos entre pares, bullying e orientação sobre diversos temas pertinentes a adolescência. 

Os indicadores mostraram que os adolescentes percebem os serviços on-line como mais apropriados para questões em torno das quais há um maior estigma percebido, como identidade de gênero, cutting, ideação suicida, pornografia, doenças sexualmente transmissíveis como HIV, como lidar com vazamento de dados pessoais, por exemplo foto de nuds.

As pesquisas apontam que os acessos de jovens e adolescentes adultos são prevalentes do sexo feminino.

Há uma ausência de medidas psicometricamente validadas que avaliam as percepções dos adolescentes sobre terapias on-line. 

São elas:

1) Conhecimento sobre psicoterapias on-line: estrutura, funcionamento, abordagem indicada, número de sessões, tempo de cada sessão, se gratuito ou pago.

2) Atitudes em relação às terapias on-line: Ainda não temos dados sobre os problemas percebidos, benefícios percebidos longitudinalmente.

3) Intenções de uso terapias on-line e disponibilidade recomendada para a demanda atendida – Se o caso é elegível para atendimento on-line, quanto tempo de intervenção, quais outras modalidades podem ser eficazes. Ainda o maior número de publicações randomizadas são da abordagem da Terapia Comportamental Cognitiva.

5.Quais as variáveis encontradas nas demandas subjetivas dos adolescentes, considerando aspectos culturais, demográficos e clínicos?

1) Fatores demográficos – facilidade em buscar ajuda de psicoterapia online quando não há possibilidade dos serviços de saúde mental no local.

2) Fatores de tecnologia – ter domínio razoável de tecnologia (celular, ipad, tablet, laptop e ter internet).

3) Conhecimento de terapias on-line – ter tido alguma experiência anterior com psicoterapia é facilitador para buscar psicoterapia e ou aconselhamento online.

4) Atitudes frente a saúde mental – enfrentamento do estigma social.

5) Fatores de personalidade – os traços de personalidade dos adolescentes falharam em prever significativamente quaisquer resultados precisos do estado psíquico e personalidade (depressiva, ansiosa). Esses achados contrastam com a literatura, que encontrou relações significativas entre personalidade e atitudes em relação às terapias on-line entre adultos. Também sabemos que os traços de personalidade são menos estáveis ​​durante o período da adolescência do que na idade adulta.

6.Quais os pontos positivos e negativos levantados pelos adolescentes sobre os atendimentos de psicoterapia online?

Pontos positivos:

  • O alívio do constrangimento, buscar ajuda de psicoterapia online é muito facilitador.
  • A capacidade de acompanhar o progresso terapêutico e suas melhoras.
  • Facilidade da acessibilidade tecnológica e a distância demográfica.
  • Diminui o estigma social da saúde mental – fantasias do medo da loucura.
  • Atendimento de apoio psicológico ou de aconselhamento escolar ou na universidade.
  • Acesso a apoio e continência adequados as suas necessidades.
  • Fator gratuidade, mais acessível por terem dependência financeira dos pais.
  • Autonomia em buscar ajuda sem que os pais saibam ou aceitem.
  • Dividir segredos, conflitos, medos, traumas e fantasias inconfessáveis.

Pontos negativos:

  • Probabilidade de não concluir o programa orientado com técnicas comportamentais cognitivas ou de tarefas.
  • Incapacidade de fazer perguntas.
  • Preocupações com a privacidade.
  • Nível de apoio do terapeuta pouco empático e ou pouco responsivo.

7.Quais as estratégias potenciais para melhorar a aceitação desses programas de atendimento de psicoterapia on-line para adolescentes?

  1. Direcionar a divulgação de terapias on-line para adolescentes que gostam de tecnologia, concentrando estratégias de disseminação em fóruns digitais, como mídias sociais e outros sites populares entre os adolescentes. 
  2. Informar de forma concisa os benefícios e formas diferentes de oferta de serviços de terapias on-line para os adolescentes da comunidade, por meio de campanhas de conscientização e educação. 
  3. Ajudar a reduzir o estigma da saúde mental entre os adolescentes, promovendo atitudes saudáveis ​​em relação à saúde mental, valorizando a vida, incentivando a possibilidade de buscarem ajuda profissional presencial ou online com psicólogo credenciado e especializado a demandas de adolescentes.

8.Quais as recomendações e desafios ainda em aberto para a compreensão do atendimento on-line de adolescentes?

  1. As amostras de participantes são de jovens relativamente instruídos, falavam inglês e tinham acesso à tecnologia; reduzindo assim a generalização dos achados para adolescentes sem esses privilégios culturais, étnicos e socioeconômicos.
  2. Não podemos informar mudanças temporais nas atitudes e intenções de aceitação dos adolescentes, nem em sua real aceitação pelas intervenções de psicoterapia on-line em outras abordagens a não ser na modalidade de Terapia Comportamental Cognitiva que é amplamente pesquisada. 
  3. Há necessidade de pesquisas futuras usando um desenho longitudinal para monitorar os adolescentes em diferentes faixas etárias, diversidade de gêneros, mudanças de atitudes ao longo do tempo e avaliação de acompanhamento do comportamento a posteriori.
  4. Recomenda-se que pesquisas futuras sejam conduzidas com uma amostra maior de usuários anteriores do serviço do que a presente amostra 257 jovens, separando adolescentes que tiveram alguma experiencia com psicoterapia presencial dos que nunca tiveram, antes de tirar conclusões sobre o impacto da experiência do serviço nas atitudes em relação às terapias on-line. 
  5. Explorar o impacto de corte nas faixas etárias que mostraram ser diferentes, bem como o tipo dos serviços psicológicos adequados destinadas para jovens.
  6. Examinar as preferências dos adolescentes por recursos específicos em terapias on-line, perfil do terapeuta, contrato terapêutico, abordagem teórica utilizada, tempo de intervenção e permanência do vínculo terapêutico.
  7. É evidente que precisamos investir mais recursos em estratégias de implementação de programas de psicoterapia online, juntamente com investimentos em seu desenvolvimento e pesquisa.
  8. Precisamos também delimitar melhor quem são estes jovens, em vista das variáveis encontradas na subjetividade das faixas etárias com demandas diferentes.
  9. Incentivo de políticas públicas e privadas de acolhimento, atendimento psicoterápico online ou presencial ao adolescente precisam ser ampliadas.

Enfim, se os adolescentes estão dispostos a tentar intervenções de psicoterapia e ou aconselhamento on-line, precisamos começar a desenvolver essas estratégias para melhorar seu conhecimento, ter oferta destas modalidades de atendimento à saúde mental, conscientização sobre esses serviços, a fim de melhorar a aceitação na comunidade, só assim construiremos uma prática de psicoterapia que venha de encontro as necessidades de púberes, adolescentes e adolescentes adultos.

Marina S. R. Almeida

Consultora Ed. Inclusiva, Psicóloga Clínica e Escolar

Neuropsicóloga, Psicopedagoga e Pedagoga Especialista

Licenciada no E-Psi pelo Conselho Federal de Psicologia para atendimento de Psicoterapia on-line

CRP 06/41029

Agendamento para consulta presencial ou consulta de psicoterapia on-line: WhatsApp (13) 991773793

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