Entendendo a Relação entre o Trato Digestivo e o Transtorno do Espectro Autista
Pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) frequentemente apresentam desafios que vão muito além das dificuldades sociais e comportamentais tradicionalmente associadas à condição. Entre os aspectos menos abordados, mas de extrema relevância clínica, estão os problemas gastrointestinais (GI), que afetam de maneira significativa a qualidade de vida de muitas pessoas autistas e suas famílias.
A constipação intestinal é a queixa gastrointestinal mais comum em pessoas autistas, bem como na população em geral. Para muitas pessoas, a constipação intestinal é um problema de saúde crônico que pode se desenvolver e persistir em qualquer fase da vida.
Os sinais de constipação incluem:
- três ou menos evacuações por semana
- fezes duras ou com caroços
- dor durante as evacuações
- dificuldade em esvaziar completamente o intestino.
Os sintomas de constipação podem se apresentar de forma diferente em pessoas autistas, especialmente aquelas com comprometimentos cognitivos e de linguagem mais graves. Por exemplo, contorcer o corpo de maneiras incomuns pode indicar dor abdominal.
O Dr. Tim Buie, gastroenterologista pediátrico do Hospital Infantil de Boston, observa que seus pacientes autistas às vezes exibem “comportamentos como pressionar a barriga contra uma cadeira, encostar-se em móveis ou deitar-se de bruços para tentar pressionar a barriga. Isso é algo comum que as pessoas associam à constipação”. Esses comportamentos podem indicar a necessidade de consultar um gastroenterologista.
Retenção fecal funcional (RFF)
A retenção fecal funcional (RFF) é uma condição gastrológica que aparece frequentemente em pessoas autistas. Caracteriza-se por evacuações mais regulares, mas com evacuação menos completa. Como o intestino nunca se esvazia completamente, mesmo com idas regulares ao banheiro, podem surgir sintomas como dor abdominal, inchaço ou acidentes ao usar o banheiro causados pela perda de controle dos músculos do assoalho pélvico.
Ansiedade, problemas sensoriais ou de atenção podem contribuir para o desenvolvimento da RFF. Observe que a ansiedade pode não estar diretamente relacionada a problemas de higiene, mas se a constipação persistir, ela pode se tornar uma fonte de ansiedade e levar à RFF.
Monitorando padrões de uso do banheiro
Além dos cuidadores, cuidadores pessoais e funcionários de casas de repouso podem fornecer feedback sobre quaisquer padrões, como constipação, evacuação de fezes (FFR), sujidade, retenção ou uso insuficiente do banheiro.
O monitoramento dos hábitos de ir ao banheiro e das características dos movimentos intestinais pode ajudar a fornecer detalhes muito necessários para o clínico geral ou gastroenterologista.
O Gráfico de Fezes de Bristol é uma ferramenta útil especificamente para o monitoramento dos movimentos intestinais. Cuidadores e pacientes autistas podem registrar dados e procurar padrões que, em consulta com um clínico geral ou gastroenterologista, possam identificar e tratar as fontes de constipação.
Clique aqui para verificar no Gráfico de Fezes de Bristol sua qualidade de fezes:
https://www.continence.org.au/bristol-stool-chart
Prevalência e Impacto
Estudos indicam que indivíduos com autismo têm uma prevalência aumentada de distúrbios gastrointestinais quando comparados à população geral. As estimativas variam, mas cerca de 30% a 70% das pessoas com TEA apresentam sintomas GI em algum momento da vida. Esses sintomas podem se manifestar desde a infância e persistir ao longo da vida adulta.
Principais Problemas Gastrointestinais Associados
Constipação: Um dos sintomas mais comuns, podendo causar dor abdominal, irritabilidade e até agravar comportamentos repetitivos.
Diarreia: Episódios frequentes ou crônicos podem levar à desidratação e desnutrição, impactando o desenvolvimento e bem-estar geral.
Refluxo gastroesofágico: Queimação, azia e regurgitação são sinais que podem passar despercebidos, especialmente em crianças não verbais.
Distensão abdominal e gases: Sensações de inchaço e desconforto, por vezes difíceis de expressar, podem gerar alterações no humor e no comportamento.
Dor abdominal recorrente: Muitas vezes subdiagnosticada, é uma queixa relevante relatada por cuidadores.
Sintoma | Possíveis Causas | Dicas para Alívio |
Constipação | Dieta pobre em fibras, baixa ingestão de água, sedentarismo | Ofereça frutas, legumes, água e atividades físicas |
Diarreia crônica | Intolerâncias alimentares, disbiose intestinal | Avaliar alergias, uso de probióticos com orientação |
Dor abdominal | Ansiedade, hipersensibilidade sensorial, refluxo | Técnicas de relaxamento e acompanhamento médico |
Refluxo gastroesofágico | Alterações na postura, alimentação ou neuroregulação | Fracionar refeições, evitar alimentos ácidos |
Fatores Relacionados ao TEA e Sintomas GI
Diversas hipóteses buscam explicar a maior frequência de problemas gastrointestinais em pessoas autistas:
Alterações na microbiota intestinal: Estudos sugerem diferenças significativas na composição das bactérias intestinais, o que pode influenciar a digestão, a imunidade e até a função cerebral.
Dietas restritivas: Muitas pessoas autistas apresentam seletividade alimentar, o que pode levar a deficiências nutricionais e agravar sintomas GI.
Hipossensibilidade ou hipersensibilidade sensorial: Questões sensoriais dificultam a identificação e expressão de incômodos gastrointestinais, levando a atraso no diagnóstico.
Fatores imunológicos: Há indícios de que processos inflamatórios e disfunções imunológicas estejam associados a sintomas GI no TEA.
Impacto nos Comportamentos e na Qualidade de Vida
Problemas gastrointestinais não tratados podem contribuir para o aumento de irritabilidade, agressividade, distúrbios do sono e intensificação de comportamentos repetitivos. Em muitos casos, a resolução de sintomas GI leva à melhora significativa no bem-estar e no comportamento.
Abordagem Clínica e Tratamento
A avaliação de sintomas gastrointestinais em pessoas autistas requer uma escuta atenta de cuidadores, uso de escalas adaptadas e, muitas vezes, investigação multidisciplinar. O tratamento pode incluir:
- Intervenções dietéticas com acompanhamento nutricional
- Uso criterioso de medicamentos para constipação, refluxo ou diarreia
- Suplementação de fibras e probióticos em alguns casos
- Orientação para mudanças de hábitos alimentares e rotina
É fundamental evitar dietas seletiva, restritivas ou suplementos sem orientação profissional, pois podem agravar deficiências e sintomas.
Mudanças no estilo de vida para ajudar a aliviar a constipação
Dieta e certos medicamentos podem contribuir para a constipação crônica. Adultos autistas devem conversar regularmente com um gastroenterologista (e possivelmente um nutricionista) para determinar as causas subjacentes e as melhores abordagens para o tratamento.
Os cuidadores são aconselhados a seguir as orientações do médico do adulto autista e evitar transformar dieta, alimentação ou exercícios em questões polêmicas, pois o estresse e a ansiedade podem levar ou agravar problemas intestinais.
Mudanças no estilo de vida que podem ser úteis para a constipação incluem manter-se hidratado, bebendo bastante água e consumindo alimentos ricos em água e/ou fibras.
Lembre-se de que os ajustes na dieta devem ser feitos lentamente; adicionar ou eliminar um tipo de alimento por vez facilitará a mensuração do impacto da mudança.
Um nutricionista especializado em autismo pode fornecer recomendações mais personalizadas para adultos autistas; no entanto, alguns exemplos gerais de alimentos que ajudam a aliviar a constipação incluem:
- pães integrais
- aveia
- feijão e grão-de-bico
- vegetais: cenouras, brócolis, ervilhas e couve
- castanhas: amendoim, amêndoas, nozes e castanhas do Pará
- frutas: frutas vermelhas, mamão, ameixas, maçãs e peras
Alimentos ricos em gordura tendem a ser pobres em fibras e podem retardar a digestão.
Alimentos ricos em açúcar processado, sal e/ou gordura, e com baixo teor de água, podem contribuir para a constipação crônica. Limite ou evite alimentos como:
- fast food, como batatas fritas e nuggets de frango
- carnes processadas com nitratos, como cachorros-quentes, hamburguer e salsichas
- salgadinhos
- refrigerantes adocicados como Coca-Cola e sucos artificiais de caixinhas
Exercícios regulares ajudam a estimular o movimento intestinal, portanto, atividades diárias como caminhar ou nadar podem ajudar com a constipação crônica. O uso frequente de laxantes de venda livre deve ser evitado.
A comunicação sobre saúde alimentar pode ajudar a controlar condições como a constipação intestinal. A saúde gastrointestinal é um componente essencial do cuidado integral à pessoa autista.
A identificação precoce e o manejo adequado dos sintomas GI podem gerar grandes avanços na qualidade de vida e no desenvolvimento global.
O acompanhamento conjunto de equipe multiprofissional de saúde — incluindo médicos, nutricionistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais, educador físico — é fundamental para uma abordagem eficaz, respeitando a individualidade e as necessidades específicas das pessoas no espectro autista.
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Fontes:
https://www.adult-autism.health.harvard.edu/resources/constipation
http://dx.doi.org/10.25118/2236-918X-9-4-5
https://www.continence.org.au/bristol-stool-chart
Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029
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