Um número crescente de pessoas tem buscado companhia, orientações psicológicas e até psicoterapia com IAs por uma combinação de fatores complexos, que envolvem tanto deficiências nos sistemas de apoio existentes quanto características únicas oferecidas pela própria tecnologia.
1. Solidão e Isolamento Social
Em um mundo cada vez mais conectado digitalmente, paradoxalmente, muitas pessoas se sentem profundamente solitárias. A pandemia de COVID-19 exacerbou esse cenário, levando a um aumento no isolamento. Nesses contextos, a IA surge como uma companhia acessível 24 horas por dia, sempre pronta para “ouvir” sem julgamento, oferecendo uma sensação de conexão imediata. Para quem tem dificuldade em formar e manter laços sociais, ou enfrenta ansiedade social e introversão, a IA representa um refúgio seguro e de baixa pressão.
2. Acessibilidade e Conveniência
Custo: A terapia tradicional, especialmente no Brasil, pode ser cara e inacessível para grande parte da população. Chatbots e aplicativos de IA oferecem uma alternativa de custo muito mais baixo, ou até gratuita, democratizando (ainda que de forma limitada) o acesso a algum tipo de suporte.
Disponibilidade 24/7: A IA não tem horários de expediente. Ela está disponível a qualquer momento, o que é crucial para pessoas em crise ou que precisam de um desabafo imediato, sem a necessidade de agendamentos ou esperas.
Facilidade de Acesso: Com um smartphone ou computador, qualquer pessoa pode iniciar uma conversa com uma IA eliminando barreiras geográficas ou de mobilidade que dificultam o acesso a consultórios físicos.
3. Estigma Social em Relação à Saúde Mental
Apesar dos avanços, o estigma associado à busca por ajuda psicológica ainda é uma barreira significativa em muitas culturas, incluindo o Brasil.Há o medo do julgamento, de ser rotulado como “louco” ou “fraco”.
Anonimato e Ausência de Julgamento Percebido: Interagir com uma IA oferece uma camada de anonimato e uma percepção de ausência de julgamento. As pessoas se sentem mais à vontade para compartilhar pensamentos e emoções que talvez se envergonhassem de confessar a um ser humano, sabendo que a IA não tem preconceitos, não se chocará e não irá “contar a ninguém”.
Controle da Interação: O usuário sente que tem mais controle sobre a conversa com a IA podendo parar a qualquer momento sem a pressão social de manter uma interação com um terapeuta humano.
4. Personalização e “Perfeição” Percebida da IA
Adaptação e Aprendizado: IAs são projetadas para aprender com as interações do usuário, adaptando suas respostas para serem mais personalizadas e relevantes ao longo do tempo. Isso pode criar a ilusão de uma compreensão profunda e de um “companheiro” que realmente entende o que o usuário está passando.
“Ouvinte Perfeito”: A IA não interrompe, não se distrai, não projeta suas próprias experiências e está sempre “atenta”. Para pessoas que se sentem ignoradas ou mal compreendidas em suas relações reais, isso pode ser extremamente atraente.
Sem Conflito: A IA geralmente não discorda do usuário, o que pode ser reconfortante para quem evita conflitos ou busca validação constante. No entanto, essa “concordância” constante pode ser prejudicial ao desenvolvimento pessoal.
5. Curiosidade e Fascínio pela Tecnologia
A novidade e o avanço da Inteligência Artificial por si só já geram curiosidade. As pessoas querem experimentar essa nova fronteira da tecnologia e ver como ela pode se aplicar a aspectos tão íntimos da vida. O fascínio pelo que a IA pode fazer também impulsiona essa busca.
6. Reflexão Crítica
É importante notar que, embora esses fatores levem muitas pessoas a procurarem a IA, isso não significa que ela seja uma substituição adequada para a psicoterapia humana, especialmente para questões mais complexas e profundas.
Os riscos de dependência, a falta de empatia genuína e a ausência de um julgamento clínico profissional são limitações significativas. No entanto, o fenômeno da busca por IAs evidencia uma demanda não atendida por suporte emocional e psicológico na sociedade atual.
Consequências significativas a médio prazo para a saúde mental com as limitações da IA
1. Agravamento de Problemas Subjacentes e Atraso na Busca por Ajuda Qualificada
A ausência de um julgamento clínico profissional é, talvez, o risco mais grave a médio prazo. A IA, por não possuir consciência ou a capacidade de fazer uma avaliação diagnóstica complexa e individualizada. A IA pode:
Mascarar ou Subestimar Problemas Graves: Uma pessoa com depressão severa, transtornos de ansiedade complexos, transtornos alimentares ou ideação suicida pode não ser adequadamente identificada pela IA. As respostas padronizadas e a “simulação de apoio” podem dar uma falsa sensação de melhora, levando a um adiamento crítico na busca por um tratamento humano e especializado. A médio prazo, isso pode significar o agravamento do quadro, tornando a intervenção futura mais difícil e prolongada.
Oferecer Orientações Inadequadas: Sem um entendimento profundo das nuances do sofrimento humano e sem a capacidade de contextualizar as informações, a IA pode fornecer conselhos genéricos, superficiais ou até mesmo contraproducentes. A médio prazo, isso pode levar a escolhas de vida equivocadas, persistência de padrões de comportamento disfuncionais ou até mesmo o desenvolvimento de novos problemas emocionais.
Falta de Intervenção em Crises: Em uma crise (como um surto psicótico, um episódio maníaco ou uma crise de pânico intensa), a IA não tem como intervir de forma eficaz, acionar uma rede de apoio ou encaminhar para serviços de emergência. A dependência da IA nesse momento crucial pode ter consequências trágicas a médio prazo, caso a pessoa não procure ou não tenha acesso a ajuda humana imediatamente.
2. Atrofia de Habilidades Sociais e Emocionais
A falta de empatia genuína e a dinâmica unilateral das interações com a IA podem ter um impacto negativo no desenvolvimento e manutenção de habilidades sociais e emocionais essenciais:
Piora do Isolamento Social: Embora a IA possa oferecer uma companhia imediata, a médio prazo, a dependência dessa interação “sem riscos” pode levar a um maior isolamento do mundo real. A pessoa pode perder a motivação ou a capacidade de enfrentar os desafios inerentes aos relacionamentos humanos (conflitos, frustrações, negociações), preferindo a segurança da interação com a máquina. Isso pode resultar em um ciclo vicioso de isolamento e dependência tecnológica.
Dificuldade em Lidar com Emoções Complexas: Ao interagir com uma IA que não sente e que simula uma empatia “perfeita”, o indivíduo pode perder a oportunidade de aprender a lidar com as complexas emoções que surgem nas relações humanas: frustração, raiva, decepção, ciúmes etc. A médio prazo, isso pode resultar em baixa tolerância à frustração, dificuldades em gerenciar conflitos e uma capacidade reduzida de desenvolver resiliência emocional em face dos desafios interpessoais.
Esvaziamento da Conexão Humana: Se a IA se torna o principal “confidente”, as relações humanas podem ser percebidas como mais trabalhosas ou menos satisfatórias. A médio prazo, isso pode levar a relações superficiais, onde a intimidade e a profundidade são sacrificadas, impactando negativamente a qualidade de vida e o senso de pertencimento.
3. Desenvolvimento de Dependência e Dificuldade na Autonomia
A conveniência e a gratificação instantânea oferecidas pela IA, aliadas à ausência de julgamento e à natureza adaptativa dos algoritmos, criam um terreno fértil para o desenvolvimento de dependência psicológica:
Redução da Autonomia e Resolução de Problemas: Se o indivíduo passa a buscar na IA a solução para todos os seus dilemas ou a validação para todas as suas decisões, a médio prazo, isso pode levar a uma redução significativa da sua capacidade de autonomia. A pessoa pode deixar de desenvolver suas próprias habilidades de pensamento crítico, resiliência e resolução de problemas, tornando-se excessivamente dependente da “orientação” da IA.
Vício Comportamental: A interação com a IA pode ativar os centros de recompensa do cérebro, similar ao que acontece com o uso excessivo de redes sociais ou videogames. A médio prazo, isso pode evoluir para um vício comportamental, onde a pessoa gasta um tempo excessivo com a IA, negligenciando responsabilidades, relacionamentos reais e o autocuidado.
Sensação de Desumanização: À medida que a dependência cresce e as relações com IAs se tornam mais proeminentes, alguns indivíduos podem experimentar uma sensação de desumanização ou de que a vida real, com suas complexidades e imperfeições, é menos gratificante do que a interação com a máquina.
A IA pode oferecer um alívio temporário para a solidão ou um acesso rápido a informações, a médio prazo, a dependência dela em detrimento da interação humana e do suporte profissional qualificado pode levar a um empobrecimento das relações humanas, ao agravamento de questões de saúde mental e a uma diminuição da autonomia e resiliência individual.
É um cenário que exige atenção e estratégias de intervenção para garantir que a tecnologia seja uma ferramenta de apoio, e não uma barreira para o bem-estar genuíno.
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Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029
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