Muitos estudantes autistas entram em contato comigo fazendo perguntas sobre vestibular, seus desafios no cotidiano da universidade, como buscar ajuda na universidade, como obter seu diagnóstico oficial e tratamento, como realizar a avaliação neuropsicológica online para Transtorno do Espectro Autista – TEA e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH em adultos e tratamento psicológico de psicoterapia online para pessoas autistas e TDAH.
Elenquei abaixo as perguntas mais frequentes:
1.Vou prestar vestibular, mas acho que sou autista. Estou perdido não sei quais são meus direitos. Como deverei buscar ajuda na universidade?
- O Transtorno do Espectro Autista – TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento de base genética, caracterizado por dois núcleos de sintomas: déficits na comunicação, na interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades.
- Com relação à socialização, as pessoas autistas apresentam dificuldades em iniciar ou manter conversas, relacionamentos e déficits no entendimento e uso de comunicação não-verbal (entender pistas sociais e emoções). Quanto aos padrões restritos e repetitivos, nota-se o engajamento em estereotipias (movimentos repetitivos), ecolalia (repetição de sons, palavras ou frases), adesão inflexível a rotinas, rituais repetitivos, dificuldades em lidar com mudanças, hiperfocos em assuntos ou atividades de interesse e hipossensibilidade ou hipersensibilidade sensoriais.
- A proposta de estruturação de um espaço que institucionalize os serviços de educação especial na educação superior, como a criação de Núcleos de Acessibilidade, constitui um recurso imprescindível para que os estudantes com necessidades educacionais (PCD, pessoas neurodiversas) tenham condições de ingressar, permanecer e concluir o curso de graduação eficazmente. Este direito é previsto na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008).
- O ingresso de universitários autistas vem rompendo com formas rígidas de conceber o processo de ensino e aprendizagem. Para acessar as universidades, já no processo seletivo de acesso à educação superior, a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146, 2015) determina a necessidade de disponibilizar os “recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados e escolhidos pelo candidato com deficiência”. Também a Lei 12.764, de 27 de dezembro de 2012, Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
- O estudante autista, além de ter o direito de concorrer no vestibular na parte de cotas para deficiência, pode, de forma concomitante ou não, solicitar apoio no momento do vestibular de um ledor e/ou escritor. Em pesquisas atuais as cotas não foram o meio mais procurado pelos estudantes para o acesso a universidade, revelando que as políticas para acesso e permanência deste público de estudantes precisam de mais enfoque e intencionalidade.
- O acesso e a permanência para estudantes autistas na educação superior, compreendendo que as proposições que são encaminhadas para tais fatores são de direito. É de conhecimento que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN de nº 9.394/96 (BRASIL, 1996) é o instrumento norteador para o início da prática inclusiva no contexto educacional, pois institui como direito da pessoa com deficiência e dever das instituições de ensino, legitimando o acesso e permanência por meio de recursos, materiais e pedagógicos condizentes a cada deficiência.
- A autodeclaração na área do autismo é um fator que merece todos os cuidados e atenção na instituição universitária, principalmente para salvaguardar os direitos dos requerentes. Os estudantes buscam os Núcleos de Acessibilidade nas universidades, por demanda própria, como também por intermédio das demais pessoas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem, como por exemplo, encaminhados por professores, coordenadores, tutores, coletivos da universidade etc.
- A maioria dos estudantes autistas não conhece ou não tem informação sobre o Núcleo de Acessibilidade de sua instituição universitária, mas quando é recomendado o aluno autista o reconhece como um espaço de auxílio para o seu processo de permanência e apoio. O sentimento de pertencimento ao núcleo se materializa quando o indicam como um serviço relevante para sua permanência, como o auxílio dos monitores, oferecem serviços de saúde mental como psiquiatria, neurologista e psicologia, assistente social, pedagogo, parcerias com serviços públicos de saúde mental, oferecem agentes mediadores da equipe de inclusão junto às dificuldades acadêmicas ou sociais do estudante autista.
2.Quais são os critérios para que o estudante autista seja atendido no Núcleo de Acessibilidade da Universidade:
- Devem apresentar limitações que impactem diretamente na aprendizagem, comunicação e socialização.
- Devem realizar entrevistas de acolhimento com equipe técnica do núcleo de acessibilidade para que possam fazer as devidas orientações e providenciarem acessibilidade.
- Caso o estudante não tenha um diagnóstico oficial, o Núcleo de Acessibilidade poderá encaminhar o estudante para as redes de apoio a fim de que possa obtê-lo e posteriormente ter seu suporte terapêutico necessário: acompanhamento com psiquiatra ou neurologista, psicólogo, terapia ocupacional, nutricionista etc.
- Caso já tenha o diagnóstico oficial de alguma neurodiversidade poderá apresentar o relatório médico do psiquiatra ou neurologista (laudo diagnóstico atualizado) e ou relatório neuropsicológico atualizado.
- Preencher o Formulário – Requerimento de Acessibilidade e Apoio da universidade, solicitar os apoios necessários para fazer o vestibular e posteriormente cursar a faculdade. Geralmente está disponível no site da universidade.
3.Como é o processo de socialização com os colegas de classe na universidade?
- De fato, o tutor, o mentor, o monitor, amigo-companheiro ou o acompanhante especializado tem importância no processo de inclusão do estudante autista na universidade, conforme aponta Attwood (2015) em seus estudos. O autor expõe que estudantes autistas precisam de acompanhamento no que se refere a novas convenções sociais, grades de horários das aulas, protocolo em leitura e seminários, orientação de localização no campus, além de orientação para trabalhos em grupo e nos estágios.
- Assim, um estudante nomeado companheiro, ou monitor, pode proporcionar uma ajuda amigável no que se refere aos protocolos e às expectativas sociais.
- As universidades no Brasil, por meio dos Núcleos de Acessibilidade, oferecem a organização dos apoios solicitados pelos estudantes autistas durante o processo seletivo, a organização das bancas de validação e os bolsistas/monitores como auxílios de apoio, bem como a eliminação de barreiras de acessibilidade facilitando o acesso e permanência do aluno.
- Os apoios devem ser solicitados sempre pelo aluno autista através do Formulário – Requerimento de Acessibilidade e Apoio ou ir diretamente ao Núcleo de Apoio e conversar com o coordenador.
- Algumas universidades já possuem esta aba no site – Núcleo de Apoio a Inclusão ou Núcleo de Acessibilidade, quando o estudante irá fazer o vestibular poderá preencher o formulário solicitando acessibilidade.
4.Quais os apoios que a universidade poderá oferecer para estudantes autistas?
- Envolvimento extra pelos conselheiros de estudo, incluindo tempo extra atribuído ao planejamento e transmissão de informações sobre as necessidades do aluno para o pessoal docente.
- Sessões individuais ou em grupo com consultores especializados em autismo.
- Alternativas ou regime especial para trabalhos de grupo e apresentações orais.
- Suporte para estágios e residência com monitoria de apoio e grupos reduzidos.
- Mapas, imagens, fotos, direções escritas e outros apoios para ajudar o aluno autista encontrar locais de estudo, auditório, biblioteca, laboratórios, orientação de tarefas, atividades e salas de aulas.
- Todos os slides da aula fornecidos antecipadamente pelo professor.
- Autorização para gravar as aulas.
- Lugares destinados com conforto e silêncio que tenham computadores, impressoras e xérox.
- Locais onde possa ser silencioso para aliviar o estresse ou sobrecarga sensorial.
- Acomodações para transtornos sensoriais: Uso de abafadores de ruídos, uso de óculos escuros, uso de boné para impedir luz direta, uso de brinquedos antiestresse e de descompressão (fidgets ou brinquedos sensoriais).
- Localização dos banheiros, refeitórios com acessibilidade.
5.Como minha condição de estudante autista pode influenciar no meu desempenho acadêmico?
O ambiente social e físico
- Dificuldade em compreender as regras sociais, não escritas, ao interagir com tutores e colegas de estudo.
- Dificuldade em tolerar o barulho de fundo, a iluminação, multidões ou outros aspectos sensoriais do ambiente universitário.
- Lidar com o isolamento social, que muitas vezes surge quando começa interagir com a comunidade universitária.
Falta de suporte adequado
- Não estar em atendimento de suportes terapêuticos: psiquiátrico, psicológico, terapia ocupacional, nutricionista, atividade física etc.
- Falta de acesso ao suporte adequado desde o início.
- Foco nos “déficits” do autismo, ao invés dos pontos fortes que os estudantes autistas podem trazer.
- Falta de consistência em ajustes razoáveis, serviços específicos para autismo e apoio pessoal.
Expectativas irreais do estudante autista
- Como é estudar na universidade – não considerar as mudanças de transição de estar num campus, república ou morar sozinho.
- Conteúdo da disciplina ou curso – precisar fazer perguntas e interagir com professor e estudantes.
- Desejar ter o mesmo desempenho com o mesmo alto padrão do Ensino Médio.
- Interesses e dedicação dos colegas – pode de início não se sentir fazendo parte do grupo, precisará de um mediador de apoio social para buscar interesses comuns e obter um sentimento de pertencimento.
Desafios na avaliação (mesmo no domínio da matéria)
- Dificuldades em interpretar metáforas/ironias/piadas, assédio moral ou sexual, bullying, bem como mensagens de atribuição ambíguos ou pouco específico.
- Dificuldades em reconhecer expressões faciais e emoções.
- Falta de compreensão do porquê algo precisa ser feito ou do porquê é importante.
- Dificuldades em planejar estudos, provas e revisões de conteúdo.
- Incerteza quanto tempo gastar em uma determinada tarefa.
- Os tipos de avaliação podem interferir no desempenho do estudante autista, como avaliações com perguntas muito subjetivas. Avaliações que possam ser pragmáticas com perguntas objetivas facilitam a compressão de pessoas autistas.
A transição para a vida adulta exige mais esforço
- Sair de casa pela primeira vez.
- Gestão do tempo e estabelecimento de rotinas de atividades de vida diária/vida prática.
- Aprender a conciliar a vida privada com as tarefas da universidade, como por exemplo autocuidado da saúde mental – ira a terapias de suporte de apoio, atividade física, fazer compras no supermercado, higiene da moradia, estudar e fazer trabalhos da faculdade etc.
- Falta de familiaridade com autodefensoria eficaz de si mesmo.
- Dificuldades com empoderamento dos seus direitos.
- Dificuldades em relatar suas dificuldades e seus potenciais.
Transição para a universidade
- Na faculdade há uma série de mudanças de uma só vez. Além disso, a falta de estrutura pode fazer com que o estudante autista se sinta desorientado, caótico, inseguro, confuso e solitário. Como pessoa autista pode prosperar na estrutura do Ensino Médio, mas agora, como estudante universitário, precisará criar uma estrutura nova para si mesmo.
- Outra fonte de instabilidade é a nova moradia, muitos estudantes autistas irão morar próximo da faculdade, geralmente alugam um apartamento ou dividem a moradia com mais uma pessoa para os custos não ficarem tão altos. Este fato também vai exigir novas adaptações de rotina que podem sobrecarregar a pessoa autista, se isso não for planejado com cuidado.
- Opção de repúblicas com muitos estudantes universitários juntos, estão fora de cogitação para pessoas autistas, pelo fato das inúmeras variáveis de adaptação que irão encontrar, muitas pessoas novas de uma só vez, barulhos, divisão de espaço, rotinas de cuidados com a moradia, festas e tudo isso poderá ser desestabilizador ao extremo.
- Algumas Universidades oferecem no campus alojamentos especiais para pessoas neurodiversas ou PCDs (pessoas com deficiências), mas é necessário verificar as disponibilidades com antecedência, se reportando a secretaria da sua faculdade.
6.Como funcionam os níveis do TEA e quais são as características de cada nível?
Em 2013, a Associação Psiquiátrica Americana (APA) lançou a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o manual usado para diagnosticar transtornos mentais, incluindo autismo.
O DSM-5 introduziu três níveis de gravidade do TEA:
Nível – 1 (“requerendo suporte”), Nível – 2 (“requerendo suporte substancial”) e Nível – 3 (“requerendo suporte muito substancial”).
- Autismo nível 1: “Requerendo suporte”
Comunicação social
Déficits na comunicação social causam deficiências perceptíveis. Dificuldade em iniciar interações sociais e exemplos claros de resposta atípica ou malsucedida a aberturas sociais de outros. Pode parecer ter interesse diminuído em interações sociais. Por exemplo, uma pessoa que é capaz de falar frases completas e se envolve em comunicação, mas cuja conversa de vai e vem com os outros falha, e cujas tentativas de fazer amigos são estranhas e tipicamente malsucedidas.
Comportamentos restritos e repetitivos
Inflexibilidade de comportamento causa interferência significativa no funcionamento em um ou mais contextos. Dificuldade em alternar entre atividades. Problemas de organização e planejamento dificultam a independência.
- Autismo nível 2: “Requerendo suporte substancial”
Comunicação social
Déficits acentuados em habilidades de comunicação social verbal e não verbal; deficiências sociais aparentes mesmo com apoios em vigor; iniciação limitada de interações sociais; e respostas reduzidas ou anormais a aberturas sociais de outros. Por exemplo, uma pessoa que fala frases simples, cuja interação é limitada a interesses especiais estreitos, e como tem comunicação não verbal marcadamente estranha.
Comportamentos restritos e repetitivos
Inflexibilidade de comportamento, dificuldade em lidar com mudanças ou outros comportamentos restritos/repetitivos aparecem com frequência suficiente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Angústia e/ou dificuldade em mudar o foco ou a ação.
- Autismo nível 3: “Requerendo suporte muito substancial”
Comunicação social
Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal causam graves deficiências no funcionamento, iniciação muito limitada de interações sociais e resposta mínima a propostas sociais de outros. Por exemplo, uma pessoa com poucas palavras de discurso inteligível que raramente inicia a interação e, quando o faz, faz abordagens incomuns para atender apenas às necessidades e responde apenas a abordagens sociais muito diretas
Comportamentos restritos e repetitivos
Inflexibilidade de comportamento, extrema dificuldade em lidar com mudanças ou outros comportamentos restritos/repetitivos interferem acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento/dificuldade em mudar o foco ou a ação.
7.De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), cerca de 6 mil alunos com TEA estão matriculados na universidade. Recentemente, surgiu o primeiro coletivo de autistas nas universidades brasileiras, o Coletivo Autista da Universidade de São Paulo (USP), outras universidades também possuem coletivos autistas, de neurodiversidades e LGBTQIA+?
A relevância do CAUSP foi reconhecida durante o 2º Prêmio Diversidade da Universidade de São Paulo, que ocorreu no dia 30 de junho de 2021, em que os membros conquistaram o primeiro lugar e ganharam um incentivo financeiro e mentorias.
Depois do pioneirismo do grupo, outros institutos formaram coletivos autistas, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio Grande, UNIFESP e na Universidade Federal de Alagoas. Atualmente existem mais de 20 coletivos autistas no Brasil, em outros países também as universidades possuem coletivos representativos.
Na Universíade do Federal do Rio Grande – FURG, dois setores de referência atuam para estimular a acessibilidade e a permanência de estudantes neurodivergentes e com deficiência: o Programa de Apoio aos Estudantes com Necessidades Específicas (PAENE) e o Núcleo de Estudos e Ações Inclusivas (NEAI).
O Programa de Apoio aos Estudantes com Necessidades Específicas (PAENE), foi criado em 2010, é o setor da universidade responsável pelo acolhimento e apoio aos discentes do espectro autista, por meio do trabalho de bolsistas que realizam o acompanhamento e apoio pedagógico aos alunos necessitados, impulsionando suas capacidades acadêmicas.
Outro mecanismo da universidade para tratar questões educativas para estudantes com TEA é o Núcleo de Estudos e Ações Inclusivas (NEAI), vinculado ao Instituto de Ciências Humanas e da Informação. O objetivo é promover acessibilidade e permanência por meio de ações desenvolvidas em seus laboratórios. O núcleo existe desde 2005. Ao todo são cinco laboratórios, mas o que estabelece maior relação com estudantes com transtorno do espectro autista é o Grupo Acessibilidade (GA).
O grupo promove escutas e orientações para acadêmicos, familiares, bolsistas do PAENE e professores, realizando um trabalho em conjunto com o programa, além de prestar também serviços como orientações e palestras para a comunidade.
Marina da Silveira Rodrigues Almeida – CRP 06/41029
Psicóloga Clínica, Escolar e Neuropsicóloga, Especialista em pessoas adultas Autistas (TEA), TDAH, Neurotípicos e Neurodiversos.
Psicanalista Psicodinâmica e Terapeuta Cognitiva Comportamental online.
Realizo Avaliação Neuropsicológica online para pessoas autistas adultas ou TDAH e psicoterapia online.
Agendamentos por mensagem no WhatsApp +55 (13) 991773793
INSTITUTO INCLUSÃO BRASIL
Rua Jacob Emmerich, 365 – sala 13 – Centro – São Vicente-SP
CEP 11310-071
Instagram:
@institutoinclusaobrasil
@psicologamarinaalmeida
@autismoemadultos_br